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Cidade mais populosa do DF, Ceilândia chega aos 50 anos com economia própria

Para comemorar o cinquentenário da cidade, o Correio resgatou memórias de empreendedores, moradores e artistas que abraçaram a região

(crédito: Ed Alves/CB/D.A Press)

Nem de longe Ceilândia lembra aquela cidade cheia de terra vermelha e grandes terrenos baldios. Completando 50 anos hoje, a região administrativa mais populosa do Distrito Federal conta com comércios importantes e grande potencial imobiliário. Ceilândia também formou uma identidade cultural própria, com ingredientes vindos de todas as regiões do Brasil.

Para comemorar o cinquentenário da cidade, o Correio resgatou memórias de empreendedores, moradores e artistas que abraçaram Ceilândia. São pessoas que conhecem a região desde a época do chão batido e apostaram seus sonhos de uma vida melhor na cidade.

A empresária Lucilene Pontes, 54 anos, chegou à cidade aos 12 anos de idade, vinda do Piauí com os pais e os irmãos. A família depositou em Ceilândia todas as esperanças de uma vida melhor. “Assim como outros nordestinos, vim com meu pai e minha mãe para trabalhar. Fomos crescendo e vivendo”, conta.

Lucilene lembra que teve várias profissões antes de abrir um salão de beleza na área sul. “Comecei bem de baixo. Fui até caixa de supermercado”, diz. Ela se diz muito grata por todas as oportunidades que teve na região e acredita que a cidade é o futuro da capital, pois sempre está abrindo espaço para os novos investimentos. “É um lugar acolhedor. As oportunidades estão vindo mais, temos muitos empreendedores e pessoas que investem e moram aqui”, afirma.

Quem também enxergou a cidade como uma chance de melhorar de vida foi a empresária Joana Silva de Oliveira, 56. Ela tem uma barraca na Feira dos Goianos — que faz divisa com Taguatinga —, mas também investiu em imóveis na cidade para garantir renda. “Tenho minha lojinha na feira, mas meus pais compraram vários lotes bem no comecinho de Ceilândia. Quando eles morreram, eu e meus irmãos dividimos o que foi deixado para nós. Eu também comprei umas duas casas para investir aqui”, conta.

Atualmente, toda a família vive das rendas, além de trabalhar e morar na cidade. “A gente mora perto um do outro: P Sul, P Norte, Setor O. Gostamos muito da cidade. Nossa história toda foi construída aqui e não pretendemos sair”, declara.

Sucursal do Nordeste

A representatividade nordestina em Ceilândia é forte. E isso se reflete nas manifestações artísticas que remetem à cultura popular do Nordeste. Entre elas estão o tradicional São João do Cerrado, os encontros de repentistas e cordelistas na Casa do Cantador; e, em maior escala, forrós comandados por incontáveis trios de forró pé-de-serra, com a tradicional formação de sanfona, zabumba e triângulo.

Quarenta deles são filiados à Associação de Forrozeiros do DF (Assforró-DF), criada em 7 de novembro de 2004, que, há nove anos, tem como presidente Marques Célio Rodrigues de Almeida, 59, cearense de Morada Nova, morador de Ceilândia há três décadas. A entidade está sediada na Área Especial 1, n QNN 30, Loja 13 A.

Marques Célio também encontrou na cidade um pedaço da sua terra. Ele conta, com detalhes, como se encantou com Ceilândia logo que chegou a Brasília, em 1995. “Cheguei aqui em uma sexta-feira, no começo da noite. Vim de ônibus e, passando no centro de Ceilândia, vi aquela caixa d’água, no centro da cidade. Na hora, eu pensei ‘Nossa! A minha casa, lá do Ceará, ficava atrás da caixa d’água principal da cidade também’”, relembra.

Ele não conseguiu esquecer aquela caixa d’água e, no outro dia, pediu que o irmão o levasse novamente para visitar o monumento. “Senti que tinha o ar do nosso pessoal do Nordeste, até o sotaque. Então, percebi que morar na capital não ia ser tão desastroso como eu pensava”, diz Marques.

Ele conta que saiu do Ceará em busca de uma vida melhor. “Criar meus filhos e educá-los. Meus familiares já estavam espalhados pelas cidades do DF”, conta. Hoje, o sentimento pela cidade é de gratidão e amor. “Só tenho a agradecer a esta cidade maravilhosa. Ceilândia me acolheu e é minha vida. Daqui, não pretendo sair”, completa.

Futuro da cidade

O deputado distrital Chico Vigilante (PT) mora em Ceilândia há 44 anos e não saiu da cidade nem mesmo quando esteve na bancada federal. Vindo do Maranhão, em 1976, ele é apaixonado por onde mora. “Eu gosto da alegria do povo. Você vai na feira e é uma coisa fantástica”, declara-se.

O administrador da cidade, Marcelo Piauí, destaca que, em razão da pandemia de covid-19, a cidade não terá nenhum tipo de comemoração nas ruas. Segundo ele, a administração está focada em atuar na saúde dos moradores. “Nós estamos vivendo um momento de pandemia e estamos concentrados em salvar vidas. Trabalhando de forma especial na saúde e em um clima de solidariedade. Agora, não é momento de festa. O nosso presente é o trabalho”, diz.

Marcelo destaca a força de Ceilândia economicamente. “É uma honra administrar uma das maiores e mais importantes cidades do país. É a maior economia do DF, a maior força de trabalho”, afirma.

Na avaliação do administrador, a cidade tem problemas de infraestrutura e necessita de mais atenção para essa área. Ele diz que tem conversado com o governador Ibaneis Rocha (MDB) sobre o futuro da região. “Era uma cidade abandonada, e temos trabalhado muito nesse sentido de transformá-la em um local moderno e bonit, agradável para seus moradores. O governador vai começar a fazer a revitalização da Hélio Prates que, com certeza, vai ser a avenida mais bonita do DF”, relata.

Curiosidades

O começo
Criada em 1971, a cidade surgiu da Campanha de Erradicação das Invasões (CEI), depois que o então governador Hélio Prates da Silveira percebeu que a existência de áreas irregulares era um dos maiores problemas sociais da capital. Com o objetivo de abrigar a população que vivia em áreas irregulares, criou-se a Região Administrativa IX, conhecida como Ceilândia.

População
Ceilândia abriga mais de 470 mil ceilandenses, segundo dados da Companhia de Planejamento do Distrito Federal (Codeplan).

Linha do tempo

1971
Ceilândia nasceu em 27 de março de 1971, da Campanha de Erradicação de Invasões (CEI), que deu origem ao nome da cidade. À época, mais de 80 mil moradores dessas ocupações foram transferidos para a nova região. Os pioneiros saíram de comunidades nas vilas do IAPI, Tenório, Esperança, Bernardo Sayão e Colombo. O projeto urbanístico é de autoria do arquiteto Ney Gabriel de Souza.

1976 a 1977
A cidade se expandiu com a construção de novas regiões. Nesses anos, o Setor O e a Guariroba nasceram, para abrigar os novos moradores que chegavam.

1977
A Caixa d’Água da Ceilândia é construída para suprir as necessidades dos habitantes. Com quase 30 metros de altura, a estrutura é um dos principais símbolos da cidade.

1984
Em 1984, houve a inauguração da Feira Permanente de Ceilândia, um espaço para o comércio popular da cidade. O local é tradicional ponto de encontro para a comunidade. A feira tem cerca de 460 estabelecimentos, onde predominam as influências nordestinas.

1986
Criada a Casa do Cantador. Projetado por Oscar Niemeyer, o espaço cultural é considerado uma obra arquitetônica importante para a história da Ceilândia. Esse ponto de expressão artística recebe personalidades de todo o Brasil.

1985 a 1991
Ceilândia continua a crescer. Nesse período, desenvolvem-se áreas como o Setor Q, além da expansão dos setores O e N.

1989
Em 1989, uma lei oficializa Ceilândia como região administrativa. Antes disso, o território era parte de uma área que também compreendia Taguatinga.

1992
Moradores ocupam novas bairros, como o Condomínio Agrícola Privê e o Setor R.

1996
O Museu da Limpeza Urbana é parte fundamental do processo de educação ambiental e cultural do DF. O espaço conta com um acervo de mais de 600 itens e recebeu mais de 10 mil visitantes.

2013
A Caixa d’Água de Ceilândia tornou-se obra tombada pelo governo, reconhecida como símbolo da luta das primeiras famílias que chegaram à cidade.

 

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