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Viver para (re)conhecer a história: escola pública se inspira na fotografia

Com referência à mostra do fotógrafo Sebastião Salgado e aplicado em três escolas da rede pública, projeto encanta estudantes do ensino médio com experiências dentro de comunidades. A iniciativa ganhou prêmio do Ministério da Cultura neste ano

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A imersão em uma cultura distinta pode ser também o mergulho na própria história. A descoberta de outros modos de vida e o reconhecimento de elementos que os aproximam da trajetória pessoal são as duas pontas do projeto Re(vi)vendo Êxodos, em vigor há 14 anos. A iniciativa, abordada na segunda reportagem da série “Educar para se apropriar”, busca sensibilizar o olhar de estudantes do ensino médio para o patrimônio como questão além dos valores estético e arquitetônico. Dessa forma, os jovens aprendem sobre legado, constroem identidades e se apropriam de espaços e tradições.

Ao longo do ano, alunos do Centro de Ensino Médio Setor Leste, do Centro de Ensino Fundamental 104 Norte e da Escola Nova Betânia pesquisam sobre uma cidade vizinha e saem a campo para vivenciar os conteúdos. Em uma das atividades mais aguardadas, as turmas fazem uma caminhada pelos sertões do Planalto Central. Por ser tão abrangente quanto intenso, o projeto venceu a edição 2015 do Prêmio Rodrigo Melo Franco de Andrade, do Ministério da Cultura (leia Para saber mais).

O Re(vi)vendo Êxodos surgiu em 2001, por inspiração da exposição fotográfica Êxodos, de Sebastião Salgado. À época, professores do Setor Leste se uniram para trazer a reflexão sobre os conflitos sociais no contexto do Distrito Federal. Assim, as atividades partem de três eixos: identidade, patrimônio e meio ambiente. O conteúdo se aplica em análises de uma cidade distinta a cada ano. No decorrer do ano letivo, os alunos preparam trabalhos teóricos e visitam a comunidade em estudo para entender a cultura local. “É uma pesquisa etnográfica. Vamos para fazer parte da cidade, para conversarmos com moradores e compararmos o que eles nos contam ao discurso dos administradores”, explica Victória Bartholo, 17 anos, estudante do 3º ano.

Aos poucos, o desconhecimento dá lugar ao encantamento. Preconceitos se dissipam, e os estudantes passam a se enxergar como parte do processo histórico. “A gente descobre que é Brasil, que precisamos pensar o papel que temos. Pensar no que somos parecidos, comparar no que somos diferentes”, resume Daniel Arthur Mendes da Silva, 18. Católico, o rapaz conta que alimentava resistência às religiões de matriz africana antes de participar do projeto. “Achava que era coisa do diabo. Mas, quando entrei em contato e conversei com as pessoas, vi que elas não eram tão diferentes do que eu acredito”, diz.
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