João Paulo Saconi
Relatório produzido por Facebook e Instagram mostra que, em 2020, as duas plataformas removeram cerca de 97,8 milhões de conteúdos que violaram as regras das plataformas contra a propagação de discursos de ódio. Divulgados nesta quinta-feira, os dados são globais e detalham numericamente o trabalho das duas redes sociais para fazer valer os chamados “padrões da comunidade”.
Embora não sejam relativas somente ao Brasil, as informações dialogam com o ambiente hostil da internet no país, atualmente acentuado pela ofensiva de parlamentares aliados ao presidente Jair Bolsonaro contra gigantes da tecnologia. Eles reagem após diversas restrições a publicações desinformativas e tentam, via projetos de lei, impedir esse controle.
Entre as principais críticas de bolsonaristas às “big techs”, estão a remoção de contas de Donald Trump, ex-presidente dos Estados Unidos, e alertas sobre informações inverídicas ou distorcidas publicadas por Bolsonaro e aliados sobre a pandemia da Covid-19. Em julho do ano passado, o Facebook e o Instagram derrubaram uma rede com 88 páginas e perfis, ligada a assessores de aliados do presidente brasileiro, por violações diversas das regras das plataformas, incluindo as que vedam discursos de ódio e utilização de contas falsas.
Pressão internacional
O relatório recém-divulgado mostra que cerca de 81 milhões dos conteúdos removidos por se tratarem de discursos de ódio haviam sido publicados no Facebook. No Instagram, o número foi de 16,8 milhões. Os números de remoções chegaram a superar essas marcas, o que foi revertido porque os sistemas das duas empresas reativaram conteúdos após reavalições e contestações de usuários. No Facebook, essa restauração foi de cerca de 648,9 mil conteúdos, ante 99,9 mil no Instagram.
As remoções por discursos de ódio cresceram em 2020 em relação ao ano anterior. Em 2019, o Facebook apagou cerca de 20 milhões de conteúdos que agrediam, entre outras características, etnias, nacionalidades, deficiências, religiões, orientações sexuais e identidades de gênero. O número é quatro vezes menor do que o do levantamento mais recente. Não foram divulgados dados com esse mesmo afastamento temporal em relação ao Instagram.
O aumento expressivo das remoções em 2020 coincidiu com um período de pressão internacional para o que o empresário Mark Zuckeberg, responsável pelas duas marcas, agisse contra o ódio disseminado na plataforma. No início do segundo semestre, a campanha “Stop hate for profit” (“Pare o ódio pelo lucro”) promoveu um boicote aderido por mais de 600 marcas, que deixaram de anunciar temporariamente no Facebook e no Instagram enquanto não houvesse um endurecimento na fiscalização dos conteúdos veiculados nessas redes.
Com informações compiladas por trimestre, o relatório divulgado nesta quinta-feira também identifica, especificamente sobre o Facebook, os números de exclusões de spam (6,2 bilhões); contas falsas (5,8 bilhões); conteúdos com bullying e assédio (14,5 milhões); nudez e atividade sexual (139,9 milhões); pornografia infantil e exploração sexual (35,9 milhões); terrorismo (33,3 milhões), entre outros.