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Ricardo Barros terá que explicar “rolos” na Covaxin à CPI

CPI convoca o líder do governo na Câmara para depor na próxima quinta-feira. Ele é apontado como suspeito de participar das negociações da Covaxin e tem nome envolvido em outros imbróglios

O nome de Ricardo Barros passou a surgir em suspeitas de irregularidades a partir de depoimento de servidor – (crédito: Cleia Viana/Câmara dos Deputados).

Líder do governo na Câmara, o deputado federal Ricardo Barros (PP-PR) é a voz que articula as necessidades e vontades do Planalto junto ao âmbito legislativo. Mas o nome dele tem aparecido em supostos esquemas de corrupção. Em ao menos três negociações de compras de vacinas contra o novo coronavírus, que estão sob a mira da CPI da Covid, há participação de pessoas ligadas ao parlamentar ou relatos de atuação direta dele. Por isso, foi convocado, ontem, pela comissão. O depoimento está marcado para a próxima quinta-feira.

Perguntado sobre a situação do líder do governo na Câmara, o senador Humberto Costa (PT-PE) foi cuidadoso ao falar da oitiva do deputado. Porém, afirmou taxativamente que, se responsabilizado, será impossível separar suas ações das do presidente da República. “O depoimento vai depender do que a gente vai conseguir levantar até lá. Os depoimentos marcados devem trazer novos elementos”, afirmou.

O líder governista entrou na mira no depoimento à CPI do deputado Luis Miranda (DEM-DF) e do irmão dele, chefe de importação do Departamento de Logística do Ministério da Saúde. Eles disseram que, ao relatar ao presidente Jair Bolsonaro as suspeitas de irregularidades no contrato da Covaxin, o chefe do Planalto disparou que seria “mais um rolo” de Ricardo Barros.

Luis Carlos Miranda frisou à CPI que não assinou o termo de importação da vacina. Quem acabou avalizando a liberação, conforme o servidor, foi Regina Célia Oliveira, cuja indicação ao ministério é creditada a Barros, mas o líder do governo nega.

Nesta semana, a revista Crusoé publicou que o deputado Luis Miranda participou de um encontro com Barros, em que teria sido feita uma “oferta milionário” ao político do DEM para não atrapalhar o negócio com a Covaxin. A propina seria de seis centavos de dólar por dose da vacina vendida ao Ministério da Saúde. Caso o governo concluísse a compra de 20 milhões de unidades, Miranda levaria US$ 1,2 milhão, cerca de R$ 6 milhões, proposta, que ele teria recusado.

Na terça-feira, surgiu outro escândalo envolvendo o nome de Barros. De acordo com reportagem da Folha de S. Paulo, Luiz Paulo Dominguetti Pereira, representante da empresa de vacinas Davati Medical Supply, relatou ter recebido pedido do então diretor de Logística do Ministério da Saúde, Roberto Dias, de US$ 1 por dose em troca de contrato com o Ministério da Saúde.

AstraZeneca
A Davati tentava vender 400 milhões de doses da AstraZeneca a US$ 3,5 cada dose (o valor passou, depois, para US$ 15,5). De acordo com Dominguetti, Dias teria afirmado que a negociação “não avançava dentro do ministério se a gente não compusesse com o grupo, que existe um grupo que só trabalhava dentro do ministério”. “Se a gente conseguisse algo a mais, tinha de majorar o valor da vacina, que a vacina teria de ter um valor diferente do que a gente estava propondo”, frisou o representante da Davati Medical Supply. “Aí eu falei que não tinha como, não fazia, mesmo porque a vacina vinha lá de fora”.

Roberto Dias teria sido indicado ao cargo por Barros, o que o parlamentar também nega. O servidor acabou exonerado ontem.

Os imbróglios envolvendo Barros deixam por um fio a permanência dele como líder do governo na Câmara. O corte já é dado como certo por parte dos governistas. Outros preferem esperar o depoimento do deputado na CPI para se posicionar. Segundo Barros, as denúncias não procedem. “Reafirmo que quero transparência nesse caso e estou à disposição para esclarecimentos da CPI”, escreveu nas redes sociais.

No colegiado, o líder do governo no Senado, Fernando Bezerra (MDB-PE), defendeu Barros. Destacou que o deputado quer depor para se defender e pediu agilidade ao presidente da comissão, Omar Aziz (PSD-AM).

Mais suspeitas

Soma-se ao enredo o fato de relações contratuais supostamente irregulares já pairarem sobre Barros e o sócio da Precisa Medicamentos, Francisco Maximiano, que intermediou o contrato da Covaxin com o Ministério da Saúde. O empresário também era sócio da Global. Conforme apontado pela Procuradoria da República do Distrito Federal, há pouco mais de três anos, a Global negociou um contrato “para venda de medicamentos ao Ministério da Saúde, mas não os entregou, causando prejuízos a centenas de pacientes dependentes de medicamentos de alto custo e prejuízo de mais de R$ 20 milhões ao Erário, ao que consta ainda não ressarcidos”. À época, Barros era ministro da Saúde e, por isso, é réu por improbidade administrativa.

Barros terá que explicar, ainda, a relação em torno do contrato com a vacina chinesa Convidecia, produzida pelo laboratório CanSino. Houve uma negociação com o Ministério da Saúde para aquisição de 60 milhões de doses, e a pasta chegou a assinar um contrato de intenção de compra, no valor de R$ 5 bilhões, no início de maio. Cada dose custaria US$ 17.

O acordo deu para trás após a CanSino romper com a representação legal brasileira, a empresa farmacêutica Belcher, alvo da Operação Falso Negativo, no Distrito Federal, que apurava fraude na compra de testes rápidos para covid-19. Quem atuou nas negociações foi Flávio Pansieri, advogado de Barros

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