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Protestos acendem faíscas na Venezuela, mas Maduro mantém fogo sob controle

Cerca de 5.800 protestos foram contabilizados este ano pelo Observatório de Conflitos Sociais da Venezuela. Mais da metade deles, devido a falhas de serviços públicos

(crédito: Cristian Hernandez / AFP)

Vários, mas pequenos, protestos acendem faíscas na Venezuela, em razão da falta de gasolina e da precariedade dos serviços básicos. No entanto, enfatizam os analistas, esta insatisfação crescente não representa um “risco” para o presidente Nicolás Maduro a dois meses de eleições legislativas questionadas.

Cerca de 5.800 protestos foram contabilizados este ano pelo Observatório de Conflitos Sociais da Venezuela: 55% deles, devido a falhas de serviços públicos, como eletricidade, água e gás de cozinha; e 18%, por falta de combustível.

Segundo o diretor da organização, Marco Ponce, trata-se de “uma resposta nacional” à devastadora crise que atravessa o país caribenho.

Apesar dos apelos às ruas em meio à pandemia da covid-19, a oposição não foi capaz de dar uma direção política às manifestações e massificá-las como ocorreu em 2014, 2017, ou 2019, momentos de mobilizações massivas contra Maduro.

“Como não estão articulados, (os protestos) não são fortes o suficiente para causar um risco relevante para o governo”, disse à AFP o diretor do instituto Datanálisis, Luis Vicente León.

Já Maduro avança para as eleições de 6 de dezembro para renovar o Parlamento, o único poder nas mãos de seus adversários.

Apoiado pelos principais partidos políticos da oposição, Juan Guaidó, líder parlamentar reconhecido como presidente da Venezuela por 50 países, anunciou um boicote à votação – uma “farsa”, segundo ele. A legitimidade do processo eleitoral também é questionado por Estados Unidos e União Europeia.

“Onda” de descontentamento

Ponce antevê o “início de uma onda de protestos” em uma Venezuela afogada pela hiperinflação, pela desvalorização de sua moeda – o bolívar – e por quase sete anos de recessão.

Bloqueios de ruas, concentrações e panelaços são comuns em grandes regiões, embora sem ter um grande eco em Caracas.

Desde que a quarentena pelo novo coronavírus foi decretada em março passado – e que segue em vigor com as flexibilizações -, a crise social aumentou, mas as manifestações políticas perderam força.

A multidão que acompanhou Guaidó quando ele foi proclamado presidente interino em 2019 ficou no passado.

E a oposição também sofreu divisões. Votar, ou se abster, tem sido um dilema para as eleições para a Assembleia Nacional, que parecem inevitáveis depois que a União Europeia fracassou em seus esforços para adiá-las.

Essas eleições encerrarão o mandato dos parlamentares chefiados por Guaidó: 5 de janeiro de 2021.

Esta semana, Guaidó pediu apoio a um protesto nacional de professores, exigindo melhores salários. A resposta foi tímida, porém, repetindo-se a imagem dos últimos tempos: múltiplas manifestações por todo país, mas com modesto comparecimento.

“A capacidade de mobilização da oposição neste momento é praticamente nula”, disse León.

Segundo o Datanálisis, apenas 17% dos venezuelanos acham que Guaidó e o bloco que o apoia podem gerar uma mudança de governo.

O diretor da consultoria Delphos, Félix Seijas, acredita que as “estruturas enfraquecidas” das organizações de oposição nas províncias deixam as demandas populares “no limbo”.

Com “perseguição” (partidos políticos inabilitados e líderes presos, ou exilados), é “difícil” dar “algum tipo de direcionamento” aos protestos, disse Seijas à AFP.

Apoiado pelas Forças Armadas, Maduro está empenhado em “militarizar” as populações que se manifestaram, sustenta Ponce.

“A repressão continua sendo sua resposta”, completou ele.

Militares e policiais costumam dispersar as manifestações com gás lacrimogêneo e balas de borracha.Nos protestos que ocorreram este ano, 100 detidos, dezenas de feridos e quatro mortes foram registrados, denunciaram organizações de direitos humanos e a oposição.

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