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Presidente do Paraguai diz “aceitar a briga” após ameaça de impeachment

Mario Abdo se viu ameaçado em razão de um escândalo sobre um acordo polêmico com o Brasil envolvendo a hidrelétrica de Itaipu

Mario Abdo: presidente do Paraguai está sob ameaça de impeachment (Jorge Adorno/Reuters)

Assunção — O presidente do Paraguai, Mario Abdo, se viu ameaçado de impeachment na quarta-feira, menos de um ano depois de tomar posse, em razão de um escândalo sobre um acordo polêmico com o Brasil envolvendo a hidrelétrica de Itaipu, anulado na manhã desta quinta-feira (1).

A oposição do Paraguai disse que iniciará o procedimento contra Abdo e seu vice-presidente, Hugo Velázquez, por mau desempenho, uma posição que recebeu apoio da dissidência do governista Partido Colorado, liderada pelo ex-presidente Horacio Cartes

“Aceito a briga! Por um Paraguai sem máfias!”, disse o presidente de direita em sua conta de Twitter pouco depois de vir a público o respaldo de parlamentares de seu próprio partido ao pedido de impeachment.

 

Abdo, de 47 anos, entrou no olho do furacão quando políticos e parlamentares reagiram contra a assinatura do acordo com o Brasil, que estabelece um cronograma de compra de energia da hidrelétrica binacional de Itaipu até 2022.

O documento foi assinado em maio, mas se tornou conhecido na semana passada, e elevaria os custos para a estatal de eletricidade do Paraguai em mais de 200 milhões de dólares, segundo declarou um ex-presidente da entidade.

“Vamos preparar a documentação correspondente para o impeachment por traição à pátria… é preciso fazer novas eleições”, disse a repórteres Efraín Alegre, presidente do Partido Liberal, a principal sigla opositora do país.

Após as polêmicas sobre o caso, Paraguai e Brasil decidiram anular o ato bilateral para a distribuição de energia hidrelétrica de Itaipu, assinado em maio passado, e que desencadeou uma crise política para o o governo do presidente Mario Abdo.

A embaixada dos Estados Unidos na capital Assunção expressou preocupação com a situação nas últimas horas de quarta-feira.

“Esperamos que se respeitem os processos democráticos e a Constituição Nacional, tomando decisões com calma e de forma participativa, assegurando o devido processo legal, outorgando os prazos necessários às partes e considerando todas as provas”, disse o embaixador Lee McClenny no Twitter.

O impeachment deverá ser iniciado na Câmara dos Deputados, onde são necessários 53 votos para a acusação.

Votando em bloco a oposição só consegue 38, e por isso o procedimento dependerá em grande medida da postura do Honor Colorado, movimento dissidente do partido governista liderado por Horacio Cartes que apoiará a iniciativa.

“A posição de todos foi unânime. Estamos falando de traição à pátria. Estamos diante de um cenário extremamente grave”, disse o senador Sergio Godoy, do Honor Colorado, ao canal de televisão local NPY ao ser indagado sobre o apoio ao impeachment.

Questionado sobre a situação, o presidente Jair Bolsonaro disse na quarta-feira que o governo está resolvendo a situação sobre Itaipu com o Paraguai e quer “fazer justiça”, e assim evitar problemas para o presidente paraguaio.

O Ministério das Relações Exteriores informou hoje (1) que acompanha “com grande atenção” os desdobramentos da crise política no Paraguai desencadeada após a divulgação da ata de um acordo entre o Brasil e o país vizinho, voltado para a compra de energia elétrica produzida pela Usina de Itaipu.

“O Brasil acompanha com grande atenção os acontecimentos no Paraguai que envolvem o processo de “juízo político” contra o presidente Mario Abdo Benítez”, diz o comunicado do Itamaraty.

O caso, que resultou na renúncia do chanceler Luis Castiglioni e do embaixador paraguaio no Brasil Hugo Caballero, aumentou a pressão sobre o presidente Mario Abdo Benítez, que corre o risco de sofrer um processo de impeachment.

“Ao reiterar total respeito ao processo constitucional do Paraguai, o Brasil confia em que o processo seja conduzido sem quebra da ordem democrática, em respeito aos compromissos assumidos pelo Paraguai no âmbito da cláusula democrática do Mercosul – Protocolo de Ushuaia”, afirma a nota do ministério.

A diplomacia brasileira disse esperar que a cooperação com Benítez possa prosseguir, “o que permitirá a plena implementação das iniciativas em curso e a consecução de novos avanços, inclusive no que tange à implementação, em benefício mútuo, dos compromissos dos dois países ao amparo do Tratado de Itaipu”.

“O desenvolvimento do Paraguai e sua participação ativa como valioso membro do Mercosul e da comunidade hemisférica é de enorme interesse para o Brasil, e o governo brasileiro está convencido de que o presidente Mario Abdo reúne todas as condições para continuar conduzindo esse projeto”, acrescenta o ministério.

Segundo a pasta, o governo brasileiro destaca o “excelente nível” do relacionamento entre Brasil e Paraguai atingido entre os governos dos presidentes Mario Abdo e Jair Bolsonaro, “com iniciativas de grande impacto positivo para o Paraguai nas áreas econômica, de integração física e de segurança pública”.

“Essa elevação sem precedentes do relacionamento Brasil-Paraguai se deve, mais do que a qualquer outro fator, à excelente relação pessoal entre os presidentes Mario Abdo e Jair Bolsonaro, à coincidência de visões estratégicas e à determinação de ambos de agir em conjunto em benefício de seus povos”, destaca o ministério.

Ontem (31), o presidente Jair Bolsonaro foi questionado por jornalistas sobre a crise política no país vizinho. “Sabe como é que funciona, lá é muito rápido o impeachment. Ontem eu conversei com o Silva e Luna, o presidente da parte brasileira de Itaipu. Estamos resolvendo este assunto. Pode deixar que o Marito vai ser reconhecido pelo bom trabalho que está fazendo no Paraguai”, disse.

A polêmica envolvendo a ata do acordo, aprovada em maio, também causou as demissões do presidente da Administração Nacional de Eletricidade (Ande), Alcides Jiménez, e do diretor paraguaio de Itaipu, Alberto Alderete. As demissões foram anunciadas na última segunda-feira (29) pelo porta-voz da presidência do Paraguai, Hernán Hutteman, que disse terem sido aceitas pelo presidente Mario Abdo Benítez.

Pesou nas demissões a acusação de que a ata do acordo havia sido debatida e aprovada sem a devida transparência. Autoridades e congressistas afirmaram que o acordo negociado seria prejudicial ao Paraguai e que poderia causar um prejuízo de até US$ 300 milhões.

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