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Máfia ‘tentou fraudar todos concursos’ do DF desde 2013, diz Polícia Civil

Investigações trabalham com grupo de 100 suspeitos. Corporação apura se houve fraude ao Enem.

Delegados da Deco em entrevista (Foto: Luiza Garonce/G1)

A Polícia Civil do Distrito Federal informou nesta segunda-feira (30) que os envolvidos na chamada Máfia dos Concursos “tentaram fraudar todos concursos” do DF desde, ao menos, 2013. Na operação realizada nesta manhã, três suspeitos foram presos preventivamente.

“Cada certame que era aberto no DF, eles tentavam fraudar”, afirmou o delegado Adriano Valente. Segundo ele, todas as bancas de todos os concursos sofreram tentativas de fraudes nos últimos anos.

O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) também pode ter sido alvo dos criminosos no DF. Por enquanto, a polícia trabalha apenas com a suspeita de fraude. Em Goiás, onde uma operação correlata foi deflagrada, a fraude foi confirmada pela polícia.

“As investigações são paralelas e estamos apurando se o Enem no DF foi fraudado. Mas são investigações independentes”, continuou Valente.

Responsável pela aplicação do Enem em todo o país, o Inep afirmou em nota que “ainda não foi notificado sobre a operação e irá se manifestar após ter acesso ao inquérito”.

Até a publicação desta reportagem, foram cumpridas três de cinco prisões preventivas e duas de três temporárias (de 30 dias). Oito conduções coercitivas para esclarecimentos na delegacia e 15 mandados de busca e apreensão estavam em andamento.

Segundo o delegado, há aproximadamente cem suspeitos “praticamente confirmados”, sendo que cerca de dez já confessaram o crime. Os outros ainda serão ouvidos. Ele não informou os concursos alvo das fraudes para “não prejudicar as investigações”. Ele ainda destacou que as bancas responsáveis pelas provas não são consideradas suspeitas.

Outro delegado no caso, Maurílio Coelho garantiu que as investigações vão “chegar a todos os que entraram pelas portas dos fundos na administração pública”.

“Quem quiser evitar esse constrangimento de ser conduzido em frente aos familiares e colegas de trabalho, estamos de portas abertas”, disse em coletiva de imprensa. “É bem provável que percam os cargos, sejam presos e ainda paguem indenização.”

Cebraspe

Entre os alvos está um ex-funcionário do então Centro de Promoção e Seleção de Eventos (Cespe) – atual Cebraspe. Ele é apontado como um dos lideres do grupo especializado em fraudar provas.

Em defesa, o advogado do Cebraspe, Marcus Vinicius Figueiredo, disse que tem cooperado com as investigações e que há “diversos procedimentos internos instaurados” para evitar que novas fraudes ocorram. “O Cebraspe não tem participação em fraude, nao coaduna com isso e vai continuar cooperando.”

Só em 2016, esse ex-funcionário teria movimentado mais de R$ 1 milhão em recebimento de propina de interessados em passar em vestibulares e concursos, dizem os investigadores.

Segundo a policia, ele foi demitido em março deste ano assim que foi intimado a depor em Goiânia, e o esquema começou a ser desvendado. O ex-funcionário era quem cuidava da digitalização das provas e das folhas de respostas e, por esse motivo, conseguia preencher tudo antes e aprovar quem tivesse pagado a propina, que variava entre R$ 5 mil e R$ 20 mil de entrada.

Depois de aprovado, o candidato chegava a pagar mais de R$ 100 mil ao grupo, dependendo da remuneração prevista no edital.

Outro alvo da operação no DF é Mário Gomes da Nóbrega. Ele é ex-coordenador da Polícia Legislativa e estaria participando de esquemas para fraudar o próximo concurso da Câmara Legislativa.

De acordo com a Casa, ele exerceu a chefia na última gestão da Mesa Diretora, sendo exonerado em 27 de fevereiro deste ano. “Atualmente, exerce o cargo de secretário parlamentar no bloco Sustentabilidade e Trabalho. A Câmara Legislativa vai aguardar os desdobramentos da condução coercitiva do servidor, não efetivo, para definir quais medidas a serem aplicadas.”

Organização criminosa

Um dos suspeitos presos preventivamente nesta segunda já havia sido alvo de condução coercitiva na Operação Patrick, que desarticulou um esquema de pirâmide financeira que vendia a moeda virtual falsa Kriptacoin.

Segundo a Polícia Civil do DF, ele entrou na organização criminosa depois de tentar comprar uma vaga em um concurso da administração pública na capital. A aprovação “não deu certo”, mas ele acabou se aproximando do grupo criminoso e passou a cooptar “clientes”.

Ainda segundo a polícia, boa parte do dinheiro obtido com o esquema das fraudes foi investido nas kriptacoins. Os delegados responsáveis pela investigação não informaram valores.

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