Governadores excluídos de reunião criticam criação de comitê federal sem a participação de todos os estados

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Presidente Jair Bolsonaro entreg mensagem presidencial ao presidente do Congresso, Rodrigo Pacheco, ao lado do presidente da Camara, Arthur Lira, durante sessão de abertura do ano legislativo

Apenas sete estados, comandados por aliados de Bolsonaro, participaram do encontro em Brasília

A principal definição do encontro entre o presidente Jair Bolsonaro, os chefes do Legislativo e alguns governadores foi a criação de um comitê federal para facilitar o diálogo com os gestores estaduais no que diz respeito às medidas de enfrentamento à pandemia da Covid-19. Mas a ideia proposta por Arthur Lira (PP-AL) e Rodrigo Pacheco (DEM-MG), presidentes da Câmara e Senado, que poderia ser uma via para reduzir o ruído entre estados e o Planalto, já criou novos atritos com governadores que não foram convidados para participar da reunião.

O encontro que precedeu a criação do comitê contou com a presença apenas de políticos alinhados com a gestão de Bolsonaro. São eles: Romeu Zema (Minas Gerais), Ronaldo Caiado (Goiás), Renan Filho (Alagoas), Wilson Lima (Amazonas), Ratinho Júnior (Paraná), Cláudio Castro  (Rio de Janeiro) e coronel Marcos Rocha (Rondônia). Excluído do grupo, o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), criticou a novidade e classificou a equipe como “não confiável”.

“O Brasil quer vacinação, o Brasil não quer comitê de adulação e disso não participo (…) Este comitê, primeiro, não nos representa, nós não fomos convidados, e aquilo que representa a saúde, a necessidade de proteção da vida dos brasileiros de São Paulo, deve ser tratado com o governador do Estado de São Paulo, e não com o representante do governador do Estado de São Paulo”, declarou Doria em coletiva no Palácio dos Bandeirantes.

Na ocasião, Doria também criticou o pronunciamento nacional realizado na noite desta terça-feira por Bolsonaro. Em mais um capítulo da disputa política com o presidente, o tucano considerou a fala uma farsa, “com mentiras, inverdades e disfarçando até mesmo com uma máscara que nunca utilizou”, afirmou.

Ao longo desta quarta-feira, outros governadores também decidiram se posicionar publicamente sobre o encontro. O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB) afirmou em entrevista que o encontro representa uma preocupação maior com fotos e manchetes do que em viabilizar caminhos para solucionar a crise. Nas redes, Leite publicou um vídeo para tratar do tema e reforçou a importância de uma coordenação nacional.

“A criação de um gabinete de crise chega com muito atraso, de pelo menos um ano. O pronunciamento do Presidente da República feito em cadeia nacional é totalmente incoerente em relação a tudo que ele falou ao longo da pandemia. Ele chamou para a reunião apenas governadores próximos ideologicamente, o que significa não se dispor a ter um diálogo com a nação para o enfrentamento da pandemia”, criticou.

Na Bahia, em entrevista a um veículo local, o governador Rui Costa (PT) reclamou que também não foi convidado, mas garantiu que em “toda e qualquer reunião com o presidente” a Bahia está disposta a contribuir com ideias. “Tudo que ele fez até aqui foi debochar das vacinas. Chamava de ‘vacina comunista’ e ‘vachina’. Espero que o presidente deixe de ser aliado do vírus e seja aliado da vida”.

O comando do grupo ficou delegado oficialmente a Rodrigo Pacheco, recém-eleito à presidência do Senado com apoio da base governista e da oposição. Apesar de representar uma posição mais moderada, já recebe a desconfiança de que o comitê federal se trata de um movimento político.

— Fiquei animado com a possibilidade de criação do comitê, mas, pelo relato de pessoas que estavam na reunião, a perspectiva é de pouca mudança. O comitê ficou sem estados e municípios, então mantém desintegração, terceirizando para o senador Rodrigo Pacheco a relação com governadores para tratar da rede de saúde, da falta de insumos, da estratégia de prevenção e vacinação… Ou seja, não vai dar certo — opinou Wellingon Dias (PT), governador do Piauí.