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Filmes da mostra A Política no Mundo e o Mundo na Política merecem atenção

A mostra paralela traz longas contundentes e evoca um debate político por meio do olhar cinematográfico

O aclamado diretor Cristiano Burlan volta a participar do festival com Estopô balaio
O aclamado diretor Cristiano Burlan volta a participar do festival com Estopô balaio

 

A mostra competitiva por fim deu as caras e os trabalhos foram iniciados. Todas as noites, o Cine Brasília terá, provavelmente, casa cheia para conferir os filmes que disputam os Candangos. Mas nem só de competição vive o Festival de Brasília do Cinema Brasileiro. Os seminários e palestras também costumam reunir os cinéfilos, embora talvez ainda não sejam prestigiados como deveriam.

O fotógrafo, diretor, roteirista e produtor Lauro Escorel, por exemplo, fala sobre direção de fotografia no Kubitschek Plaza Hotel, a partir das 14h30. Uma bela (e gratuita) oportunidade para escutarmos um dos mais premiados nomes do cinema nacional, que, inclusive, responde pelo curta Improvável encontro, exibido na noite de abertura.

Outra iniciativa que deve (e merece) nossa atenção é a mostra A Política no Mundo e o Mundo na Política, que traz longas contundentes e evoca um debate político por meio do olhar cinematográfico. Alguns trabalhos convidados são esperados ansiosamente pelo público e devem render sessões inflamadas, como A cidade do futuro, que fala sobre o poliamor em pleno sertão baiano, e Entre os homens de bem, documentário que acompanhou o dia a dia do deputado Jean Wyllys por três anos.
Hoje, as apresentações ficam a cargo de Cristiano Burlan, com Estopô balaio, e dos irmãos Henrique e Marcela Borela, que aparecem com Taego Ãwa. Burlan marcou a última edição do festival graças ao comentado longaFome, que traz um andarilho Jean-Claude Bernardet se arrastando pelas ruas submundas de São Paulo. Dessa vez, Burlan retrata a criatividade e a resistência de um coletivo artístico em se manter de pé frente a traumas sociais.
Resistência também permeia a jornada da tribo Ãwa. Depois de esbarrarem com cinco fitas VHS que registram algo sobre a cultura indígena da tribo, Henrique e Marcela resolvem resgatar essa história e apresentar um olhar inédito sobre o povo Tupi que mais resistiu à colonização no Brasil Central.
Estopô balaio 
Hoje, às 15h, no Cine Brasília. Entrada franca
Taego Ãwa
Hoje, às 17h, no Cine Brasília. Entrada franca
Política de gêneros e preconceitos
Em primeiro plano, fica fácil supor que o longa Entre os homens de bem, de Carlos Juliano Barros e Caio Cavechini, poderia ser confundido com uma peça publicitária e eleitoreira em prol do deputado Jean Wyllys, que inspira e protagoniza as filmagens. Um engano que os diretores fazem questão de refutar de imediato. “Desde o começo, tínhamos consciência de que, nestes tempos tão conturbados, o filme poderia ser acusado de atender a interesses políticos. Mas fizemos um registro à distância, sem necessariamente intervir na ação, de forma a permitir que o espectador forme seu juízo de valor não só sobre o filme, mas sobre o próprio Jean Wyllys”, aposta Carlos Juliano.
De fato, o longa traz à tona uma questão maior que a atuação do parlamentar. A presença de um deputado assumidamente gay no Congresso Nacional, claramente, suscita uma série de debates relacionados ao preconceito, à diversidade e até mesmo à religiosidade. O cotidiano no Congresso, de alguma maneira, acaba por propor uma metáfora dos conflitos da sociedade. Pelo menos, assim intenta o filme, que estreia nacionalmente amanhã, como uma das atrações da mostra A Política no Mundo e o Mundo na Política. “Acredito que conseguimos fazer um filme que aborda a gravidade do avanço do conservadorismo e do fundamentalismo religioso no Brasil, sem fazer propaganda gratuita do Jean”, completa Juliano. E nada melhor que o público para atestar ou questionar esse diagnóstico.
Entre os homens de bem
Amanhã, às 16h30, no Cine Brasília. Entrada franca
Trilogia cinematográfica sobre lixo
Inicialmente, a diretora Tânia Quaresma e a produtora Geralda Magela achavam que um único trabalho seria o bastante para suprir as indagações que elas carregavam sobre o lixo. Logo, perceberam que seria preciso muito mais que um só filme para abordar a imensidão da questão. O filme em si, Catadores de história, estreia no domingo e integra a Mostra Brasília do festival. O primeiro longa de uma agora trilogia sobre resíduos sólidos.
Mas o projeto acabou por transgredir as telas. Amanhã, a exposição Reflexões sobre o “Lixo”, Consumo e Impermanência, que integra a iniciativa, que passar a ocupar a área externa do Museu Nacional até 7 de outubro. “A ideia é provocar quem passar por ali a pensar sobre o lixo. As pessoas colocam o saco de lixo do lado de fora da porta e acham que o processo acaba ali. Pois ali é que o processo começa. Não cabe mais resíduo sólido no planeta. Temos que falar sobre isso”, alerta a diretora Tânia Quaresma.
No domingo, será a vez do longa ser apresentado pela primeira vez. “Catadores de história não é um filme sobre os catadores de lixo, mas com eles. Tivemos o cuidado constante de levar as imagens aos catadores e perguntar se eles se sentiam representados”, conta Tânia. O trabalho foca, primordialmente, no lixão da Estrutural — o maior lixão a céu aberto do mundo. Nos próximos anos, Tânia e Geralda filmam ainda O que é lixo e O lixo no planeta, encerrando o projeto que começou tímido mas que terminará grandioso.
 
Catadores de história 
Domingo, às 14h, no Cine Brasília. Entrada franca
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