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Feiras do DF recebem teatro apresentado em caixas. Confira programação

Catarina Calungueira apresenta espetáculo inspirado na avó agricultora – (crédito: Minervino Júnior/CB/D.A.Press)

Quem vai à feira aos sábados, além de comprar alimentos e outros itens a preços mais atrativos, agora poderá ter acesso à arte gratuitamente. O Encontro de Teatro Lambe-Lambe — Caravanas Feiras Populares, promovido pelo grupo As Caixeiras Cia. de Bonecas, vai levar a pouco conhecida modalidade teatral para feiras de várias regiões do Distrito Federal.

Serão quatro encontros, sempre aos sábados, começando por hoje, na Feira do Lago Oeste. O público poderá assistir a espetáculos teatrais de maneira completamente diferente da convencional. Cada apresentação é prestigiada por um espectador por vez, que assiste ao espetáculo por meio de uma pequena abertura na caixa de lambe-lambe, dentro da qual um universo rico e delicado se revela por meio de diferentes elementos.

“A caixa é a casa de espetáculo. Ela é tão complexa quanto qualquer outra casa de espetáculo. Tem áudio, iluminação, tem coxia, cenografia, efeitos especiais, dramaturgia e todos os demais elementos do teatro, mas em um espaço pequeno e em curta duração, geralmente cerca de três minutos”, detalha Amara Hurtado, coordenadora do encontro e integrante do Caixeiras.

As atrações começam às 9h, com uma sessão de contação de histórias, seguida pela abertura das caixas de Teatro de Lambe-Lambe, que poderão ser assistidas entre as 9h30 e as 11h30. Nesse meio tempo, a partir das 10h, será apresentado um espetáculo de teatro de animação. E o encontro se despede das feiras às 11h30, com um show musical. O roteiro da programação se repete, porém, com atrações diferentes a cada sábado.

“Pensamos nas feiras porque são lugares em que as pessoas já estão lá e poderão conhecer o teatro lambe-lambe em meio à rotina de sábado. A partir desse primeiro contato, poderemos ir criando a cultura e o acesso à modalidade teatral, que foi criada por duas artistas brasileiras há 35 anos”, explica Amara, que também revela a intenção de levar o encontro para outras regiões do DF, já que as duas edições anteriores ocorreram no Plano Piloto.

O espetáculo que Hurtado vai apresentar aos visitantes das feiras se chama Quinina, que utiliza a linguagem do teatro de objetos, que remete a memórias pessoais e afetivas da artista. “Olhar para dentro do espaço pequeno que se agiganta durante a execução. Engana-se quem acha que vai ver uma coisa pequenininha. O lambe-lambe se agiganta durante sua execução, impactando pela sua delicadeza e pela profundidade ao falar dos mais diversos temas”, garante.

Trocas

A seleção dos espetáculos de teatro de lambe-lambe se deu por meio de edital no qual se inscreveram 68 obras, das quais foram selecionadas 12. Com intuito de mostrar uma miscelânia de linguagens, a curadoria escolheu peças de teatro de sombra, de objetos e de bonecos com temáticas e gêneros variados, de autoria de artistas de Brasília e de outras regiões do país.

A brincante Catarina Calungueira, 30 anos, uma das selecionadas, veio de Ipueira (RN) para participar do encontro. Ela vai apresentar o espetáculo Dona Ló, inspirado na avó agricultora. “Tem a ver com o ato de plantar, não só a semente, mas o cuidado e a relação com a comida”, detalha a potiguar. Ela teve contato com o teatro lambe-lambe em um festival on-line de teatro, em 2020. Vinda do teatro de bonecos popular, logo se apaixonou pela novidade. “Achei lindo pela força comunicativa e pela facilidade de levar a minha casa de espetáculo embaixo do braço para onde eu quiser e falar do que eu quiser. Representa a independência do artista”, define Catarina.

A bonequeira também ressalta as trocas com outros artistas e com o público. “A expectativa é alta para encontrar outros brincantes de lambe-lambe e conhecer novas narrativas. E em feira você escuta muitas coisas. Você conta uma história e ganha outras 10”, alegra-se.

Jirlene Pascoal, 57 anos, que também é integrante do Caixeiras, vai apresentar um espetáculo a partir de objetos do pai, pioneiro da construção de Brasília que morreu em 1998. Chama-se A Partida. “A princípio, quando eu vi, eu achava que se tratava de ilusionismo. Mas, quando assisti, fiquei encantada com os bonecos, tamanhos, sutileza e o tempo curto de apresentação. Achei muito poético. Por fora é simples, mas por dentro é tão mágico e rico”, diz ao recordar da primeira vez que viu um teatro lambe-lambe.

A atriz, que acumula experiência com teatro de rua, também vê no encontro a oportunidade de novas conexões. “Eu adoro feiras onde teremos diversos tipos de elementos, além da chance de ver outras pessoas se interessarem pela linguagem do teatro lambe-lambe”, comemora.

Atriz profissional desde 1996, Mariana Baeta, também integrante da companhia, diz que o trabalho do grupo sempre busca jogar luz nas vivências das mulheres. Ela teve o primeiro contato com o teatro lambe-lambe em 2007. “É um teatro autônomo, anticapitalista, na contra-mão do pensamento de indústria cultural. É um artista e um espectador, enquanto pensa-se muito em conseguir milhões de seguidores. É artesanal. É um respiro, uma viagem no espaço tempo e é democrático, fazemos na rua”, descreve.

O desafio, segundo Baeta, é arrancar o coração de alguém em poucos minutos. “E traz essa autonomia para o artista, que é ator, diretor, dramaturgo, bilheteiro, iluminador, figurinista, tudo ao mesmo tempo”, descreve.

O Encontro de Teatro Lambe-Lambe — Caravanas Feiras Populares é uma realização do Instituto Transforma em parceria com o grupo As Caixeiras Cia. de Bonecas, por meio do termo de fomento com a Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Distrito Federal. As feiras populares do DF por onde o projeto irá passar são as do Lago Oeste, no dia 16 de março, do Gama, dia 23, de Planaltina, dia 30, e da Ponta Norte, no 6 de abril.

Confira programação

16/03 – Feira Lago Oeste
9h – Contação de Histórias: Contos da vovó Cotia, com Jeane Rodrigues (DF) 9h30 às 11h30 – Espetáculos de Teatro Lambe-Lambe
10h – Espetáculo de Teatro de Animação: Brincadeira de Mamulengo, do Grupo Mamulengo Mulungu (DF)
11h30 – Música: No Terreiro do Boi Jatobá, da Religare da Ciartcum (DF)

23/03 – Feira do Gama
9h – Contação de Histórias: Histórias que Cabem na Mala – Alessandra Barros (DF)
9h30 às 11h30 – Espetáculos de Teatro Lambe-Lambe
10h – Espetáculo de Teatro de Animação: O Despertar de Maricotinha, com Lúcia Corrêa e Chrys Pereira (DF)
11h30 – Música: Sambas, Boleros e Baiões, com George Lacerda e João Ferreira (DF)

30/03 – Feira de Planaltina
9h – Contação de Histórias: Histórias em todo lugar, com
Megr Neres e Gil (DF)
9h30 às 11h30 – Espetáculos de Teatro Lambe-Lambe
10h – Espetáculo de Teatro de Animação: Encantorias: brincar, brinquedos e brincadeiras de tradição oral, com o Grupo Ciranda de Alecrim (DF)
11h30 – Música: Maracatu do Boiadeiro Boi Brilhante (DF)

06/04 – Feira Ponta Norte
9h – Contação de Histórias: Afrocontação de Histórias, com Rêgo Junior (DF) Das 9h30 às 11h30 – Teatro Lambe-Lambe
10h – Teatro de Animação: Vida de Retirante – Grupo Marionetes Gui (DF)
11h30 – Música: Duna Duo (DF).

 

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