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Falha no ar-condicionado cancela 2 vezes cirurgia em hospital do DF

Paciente foi internado no dia 23 de agosto com fratura no ombro. Ar-condicionado do centro cirúrgico não funciona desde sábado.

Welinton Sebastião de Castro, 36, mostra a lesão sofrida no braço e ombro esquerdos em foto no espelho (Foto: Welinton Sebastião de Castro/Arquivo pessoal)
Welinton Sebastião de Castro, 36, mostra a lesão sofrida no braço e ombro esquerdos em foto no espelho (Foto: Welinton Sebastião de Castro/Arquivo pessoal)

Falhas no ar-condicionado do centro cirúrgico do Hospital Regional do Paranoá, no Distrito Federal, têm adiado a cirurgia de um paciente. Welinton Sebastião de Castro, de 36 anos, precisa passar por uma intervenção no ombro esquerdo, e a equipe médica do hospital já desmarcou o procedimento duas vezes nesta semana. O equipamento estragou no sábado (3).

Em nota, a Secretaria de Saúde informou que problemas técnicos tornaram o centro cirúrgico do Hospital do Paranoá “inoperante”, e que apenas “intervenções de emergência estão sendo realizadas”. Não há um levantamento da quantidade de operações reagendadas, e o aparelho ainda não foi consertado.

“Primeiro, fui à UPA do Recanto das Emas e me disseram que não tinha ortopedista. Disse então que iria ao Hospital [Regional] de Taguatinga e falaram que não adiantava ir, porque também não tinha médico. Fui então ao Hran [Regional da Asa Norte] e também não havia. No Hospital de Base disseram para eu ir direto ao Hospital do Paranoá. Não vim aqui porque quis, vim porque só encontrei atendimento aqui”, conta o gerente de compras, que está internado desde o dia 23 de agosto.

Ele conta que, ao chegar no Hospital do Paranoá, aguardou pela internação por horas e, quando conseguiu, teve de passar sete dias “hospedado” em um corredor do pronto-socorro do hospital. O nome e a data de nascimento de Welinton estavam fixados à parede em um pedaço de papel. Somente no oitavo dia ele conseguiu ir para um quarto.

Welinton Sebastião de Castro retrata a identificação utilizada no Hospital do Paranoá, onde passou sete dias “internado” no corredor antes de conseguir um quarto (Foto: Welinton Sebastião de Castro/Arquivo pessoal)

O homem diz que, no último domingo (4), teve que sair do quarto para ir a Taguatinga e pagar por um exame de tomografia computadorizada. Caso não o fizesse, não faria a cirurgia. A lesão de Castro foi diagnosticada como uma “fratura/luxação úmero proximal”, que aconteceu ao cair sobre o braço. Ele quebrou o úmero, osso do braço que liga ao ombro e o cotovelo, que também saiu da articulação do ombro.

“Disseram para mim que eu precisava fazer esse exame ou não irão fazer minha cirurgia. Falaram que não dava para fazer no hospital porque a máquina estava estragada, que eu devia esperar vaga em outro hospital ou pagar particular. Então procurei um lugar para fazer, fui para Taguatinga, peguei dinheiro emprestado com meu irmão e fiz o exame.” Castro gastou R$ 300 por uma tomografia computadorizada

Parte da tomografia computadorizada feita por Welinton Sebastião de Castro (Foto: Welinton Sebastião de Castro/Arquivo pessoal)
Parte da tomografia computadorizada feita por Welinton Sebastião de Castro (Foto: Welinton Sebastião de Castro/Arquivo pessoal)

Ele entregou o exame para a equipe médica no mesmo dia, quando entrou em jejum às 22h para fazer a cirurgia no dia seguinte. No entanto, às 19h de segunda-feira (5), depois de 21 horas sem água e comida, o procedimento cirúrgico foi desmarcado. Castro jantou e, às 22h, entrou em jejum novamente para ser submetido a cirurgia no dia seguinte. Ao meio-dia de terça, um novo cancelamento foi feito.

Tentativa de transferência
Castro conta que os funcionários do hospital tentam transferi-lo para o Hospital Regional do Gama. Ele conta que desde então não foi ofertada ambulância para o transporte. “Me deram alta e queriam que eu saísse. Chamaram até um policial para me tirar daqui, mas eu contei a minha história e ele desistiu de me tirar.” Em um áudio, uma enfermeira do hospital conversa com Castro e afirma que ele está liberado para ir, justificando a transferência.

Funcionária: Ó, o que é pra entregar lá fora, na porta, aqui o seu atestado a partir do dia da internação e aqui o encaminhamento para o Hospital do Gama. E então, como é?

Welinton: Eu vou seguir a orientação do advogado, eu vou só se eles forem me levar.

Funcionária: Eu já até evolui, aí eu vou fazer o contato, só porque você solicitou “só vai mediante plantão policial”.

Welinton: Isso é só porque moro no Gama, né?

Funcionária: Isso.

Welinton: Tá bom.

Funcionária: Ó, isso aí é rotina, é praxe, isso é normal. Todo paciente tem que ser atendido na sua regional, até pela lei do SUS…

Welinton: Mas já marcaram minha cirurgia…

Funcionária: Esse é o problema, o problema não é nem que marcou, o problema é que, primeiro, admitiu. Não era para ter admitido. Segundo é o tempo de internação, esse que eu acho que é o problema. Essa questão da gestão de leitos tá correta, o grande erro foi justamente ter tentado fazer aqui uma coisa que não deveria fazer.

Welinton: Ainda pediram pra eu fazer exame fora, peguei dinheiro para fazer exame…

Funcionária: Isso é o que tá errado, mas realmente a gestão de leito não tem o que fazer, tá? Então boa sorte, tá encaminhado…

A Secretaria de Saúde declarou que a restrição do atendimento de pacientes a área que residem não procede, que “o SUS é universal” e que “todos os cidadãos são atendidos independentemente de sua origem”. Segundo a pasta, a direção da unidade do Paranoá garantiu, junto ao Hospital do Gama, a realização da cirurgia. O órgão afirma também que o paciente se recusou a ser transferido para “agilizar o tratamento” na última quarta-feira (7).

Segundo a pasta, cirurgias eletivas (procedimentos que podem ser agendados) e cirurgias complexas foram reagendadas. Cirurgias eletivas simples e cirurgias de urgência continuam sendo realizadas. “Qualquer tipo de questionamento por parte do cidadão pode ser registrado pela ouvidoria da unidade ou na central 160, que será rigorosamente investigado”, diz a nota, que informa que um equipe “trabalha no reparo do equipamento para que ele volte a funcionar o mais rápido possível”.

 

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