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Desmatamento na Amazônia nos 12 meses até julho foi o maior em 11 anos

Entre julho de 2018 e agosto de 2019, o sistema Prodes de monitoramento anual registrou 9.762 quilômetros quadrados de desmatamento

Desmatamento/Incêndios na Amazônia (Gustavo Basso/Getty Images)

São Paulo — Entre 1º de agosto de 2018 e 31 de julho deste ano, o desmatamento na floresta amazônica brasileira cresceu 29,5% sobre o período imediatamente anterior.

Os dados são do Prodes, sistema de satélites que faz o monitoramento anual do desmatamento por corte raso na região, e foram divulgados nesta segunda-feira (18) pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE).

O saldo de 9.762 quilômetros quadrados de área desmatada é o maior nos últimos 11 anos, superado pelo período 2007-2008, quando foram registrados 12.911 quilômetros quadrados de área desmatada.

Havia uma grande expectativa em torno desse dados devido aos alertas do Deter, outro sistema do Inpe de análise de imagens de satélite que fornece dados preliminares em tempo real a fim de orientar a fiscalização. O Deter havia indicado uma alta de quase 50% no desmatamento no mesmo período, também na comparação com os 12 meses anteriores.

Os alertas do Deter, que por serem diários são considerados menos precisos, mostram uma perda de 6.840 quilômetros quadrados de floresta entre agosto de 2018 e julho de 2019, ante 4.571 quilômetros quadrados em comparação com o mesmo período 2017-2018.

Crise com governo

O monitoramento do desmatamento na Amazônia esteve no centro de uma das principais crises do governo de Jair Bolsonaro, que adota desde a campanha uma retórica antiambiental.

O estopim foi a divulgação de dados que mostraram que a taxa de desmatamento disparou na primeira metade de julho e superou toda a taxa registrada no mesmo mês no ano passado.

Os dados preliminares dos satélites registraram desmatamento de mais de mil quilômetros quadrados de floresta — 68% a mais do que em todo o mês de julho de 2018.

O presidente Jair Bolsonaro disse que os dados do Inpe eram “mentirosos” e que o presidente do instituto, o cientista Ricardo Galvão, estaria “a serviço de alguma ONG”. Galvão disse que ficou escandalizado com as declarações e acabou sendo exonerado.

Em agosto, Galvão afirmou que o embate entre o governo, principalmente com o Ministério do Meio Ambiente, era uma questão ideológica, mas que ele não poderia deixar de se posicionar.

“Já tivemos, no governo militar, cientistas que honraram seus nomes em defesa da ciência e foram perseguidos também. Eu sabia que minha resposta [sobre ficar escandalizado com o governo] culminaria na minha exoneração, mas era necessário colocar um marco bem claro de resistência, porque não é possível que esse cenário obscurantista esteja retornando ao país”, disse.

Logo depois, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, chegou a convocar uma entrevista no Palácio do Planalto para apontar falhas no trabalho do Inpe e disse que os números “não refletiam a realidade”, mas acabou por admitir que havia aumento.

Também foi revelado na época que houve um aumento vertiginoso no número de queimadas em agosto, também relacionado ao desmatamento. Foram 30.901 focos no mês, aumento de 196,5% em relação a agosto de 2018.

As informações e imagens sobre a devastação da floresta amazônica correram o mundo e provocaram uma crise internacional sobre a política ambiental adotada pelo governo, colocando em cheque fontes de financiamento para projetos de conservação e a aprovação do acordo entre Mercosul e União Europeia.

O governo mudou o tom e tomou medidas como colocar o Exército para combater o problema. Em outubro, a Amazônia registrou o número mais baixo de queimadas para o mês desde o início da série histórica iniciada em 1998.

No acumulado de 2019, no entanto, a quantidade de focos de incêndio na Amazônia ainda é superior a 2018, com 74.605 ocorrências notificadas entre janeiro e outubro, ou 29,4% a mais do que mesmo intervalo do ano anterior.

Cientistas deixam de assinar estudo

Com as represálias do governo em torno das questões ambientais, cientistas de institutos federais do Brasil decidiram não assinar um estudo publicado no periódico Global Challenge Biology, na sexta-feira (15), que analisou as causas e os números da crise das queimadas na Amazônia este ano.

“Alguns colaboradores recusaram a coautoria neste trabalho para manterem-se no anonimato. Lamentamos que isso fosse necessário e gostaríamos de agradecê-los por sua importante contribuição”, diz o estudo na parte dos agradecimentos.

Segundo os autores, que usaram dados do Deter para fazer a estimativa, “pela primeira vez em dez anos o desmatamento pode chegar a dez mil quilômetros quadrados”.

(Com Reuters)

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