Enquanto os EUA se recuperam, França, Alemanha, Itália, Reino Unido e Japão mostram retração; entre os emergentes, Brasil, Rússia e Índia são claramente ultrapassados pela China
A economia mundial deve registrar o crescimento mais rápido em mais de meio século neste ano. Ainda assim, diferenças e deficiências podem adiar o retorno aos níveis pré-pandemia no curto prazo.
Os Estados Unidos são destaque durante a reunião virtual semestral do Fundo Monetário Internacional nesta semana, com a injeção de trilhões de dólares em estímulos fiscais e reassumindo o papel de guardiões da economia global após o presidente Joe Biden derrotar o “America First” de Donald Trump. Na sexta-feira, dados mostraram que março foi o mês com mais vagas abertas desde agosto nos EUA.
A China também faz sua parte aproveitando o bem-sucedido combate ao coronavírus no ano passado, mesmo quando começa a retirar parte da ajuda econômica.
No entanto, ao contrário do impacto da crise financeira de 2008, a recuperação parece desequilibrada, em parte porque a distribuição de vacinas e o apoio fiscal diferem entre fronteiras. Entre os atrasados estão a maioria dos mercados emergentes e a zona do euro, onde França e Itália estenderam as restrições da atividade para conter o coronavírus.
O resultado: pode levar anos para que partes do mundo se juntem aos Estados Unidos e à China na recuperação total do impacto da pandemia. Em 2024, o PIB mundial ainda será 3% menor do que o projetado antes da pandemia, e países que dependem dos setores de turismo e serviços sofrerão mais, de acordo com o FMI.
A disparidade é capturada pela nova série de previsões que mostram crescimento global de cerca de 1,3% no primeiro trimestre de 2021, na comparação com os três meses anteriores. Mas enquanto os Estados Unidos estão se recuperando, França, Alemanha, Itália, Reino Unido e Japão mostram retração. Nos mercados emergentes, Brasil, Rússia e Índia são claramente ultrapassados pela China.
Para o ano como um todo, a Bloomberg Economics prevê crescimento de 6,9%, o ritmo mais rápido segundo dados registrados desde a década de 1960. Por trás do cenário otimista: uma menor ameaça do coronavírus, estímulo em expansão dos EUA e trilhões de dólares em dinheiro poupado reprimido.
Muito dependerá da rapidez com que os países possam vacinar suas populações com o risco de que, quanto mais tempo demorar, maior será a chance de o vírus se manter como ameaça internacional, especialmente se novas variantes se desenvolverem.
Segundo o rastreador de vacinas da Bloomberg, os Estados Unidos administraram doses equivalentes a quase 25% da população, a União Europeia ainda não atingiu 10%, enquanto as taxas no México, Rússia e Brasil estão abaixo de 6%. No Japão, o número é inferior a 1%.
Nathan Sheets, que trabalhou no Federal Reserve, espera que os EUA usem as reuniões virtuais desta semana do FMI e do Banco Mundial para argumentar que agora não é o momento para os países recuarem na ajuda às suas economias.
É um argumento que será principalmente direcionado à Europa, particularmente a Alemanha, com seu longo histórico de rigor fiscal. O fundo de recuperação conjunto da UE de 750 bilhões de euros (885 bilhões de dólares) não será lançado antes do segundo semestre.
Política monetária
Depois que a maioria reduziu as taxas de juro e iniciou programas de compra de ativos no ano passado, os bancos centrais agora se dividem: alguns em mercados emergentes começam a aumentar os juros, seja por causa da aceleração da inflação, seja para evitar a saída de capital. Turquia, Rússia e Brasil aumentaram os juros no mês passado, enquanto o Fed e o Banco Central Europeu dizem que essa medida será adiada por muito tempo.
Rob Subbaraman, chefe de pesquisa de mercados globais da Nomura Holdings em Singapura, avalia que Brasil, Colômbia, Hungria, Índia, México, Polônia, Filipinas e África do Sul correm o risco de aplicar políticas muito frouxas.
Segundo Subbaraman, os principais bancos centrais de mercados desenvolvidos avaliam como podem administrar o nível de aquecimento das economias antes que a inflação se torne um problema. Por isso, autoridades monetárias de mercados emergentes precisarão ser extremamente cuidadosas para não ficar para trás da curva “e, provavelmente precisarão liderar, em vez de seguir, as contrapartes dos mercados desenvolvidos no próximo ciclo de aumento dos juros”.