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Desempregados, mãe e filho deixam currículos em carros no DF

Dupla distribui 15 currículos por dia, além de cartazes pedindo emprego. Especialista em recursos humanos informa que ação não é aconselhável.

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Mãe e filho utilizam mensagens chamativas para cpedir emprego em Brasília (Foto: G1)

Cansados de não serem chamados para entrevistas de emprego, mãe e filho decidiram deixar currículos e cartazes em carros por Brasília implorando por oportunidades. Desempregados há mais de um ano, Lis e João Matheus Souto também apelam para balcões de lojas e até sinais de trânsito. “Me contrate pelo amor de Deus”, diz uma das mensagens.

Moradores da 709 Norte, mãe e filho trancaram a faculdade de comunicação social por não conseguirem pagar a mensalidade. Segundo Lis, de 39 anos, a família sobrevive de doações de amigos e de alguns bicos que ela consegue, como cozinheira.

“O dinheiro não dá para quase nada. Essa semana mesmo ganhei uma cesta básica, graças a Deus. Infelizmente muitos comerciantes nem olham para a nossa cara quando entregamos currículos. Só preciso de uma oportunidade, não tenho vergonha nem medo de trabalhar.”

A dupla sai da Asa Norte todos os dias às 8h, de ônibus, para procurar emprego. Em média, 15 currículos são entregues diariamente. Eles almoçam na rua, uma marmita preparada na noite anterior. Mãe e filho visitam lojas de shopping, farmácias e restaurantes. Os currículos são deixados em carros de marcas luxuosas, segundo Lis.

“Voltamos por volta de 17h para casa. Chegamos a um ponto desesperador. Temos dívidas para pagar, tudo está atrasado. Falo inglês fluentemente e mesmo assim não consigo nada. Rezo o tempo inteiro, com esperança de alguém me chamar, ao menos, para uma entrevista de emprego”, diz João Matheus, de 22 anos.

Lis Souto distribui mensagens implorando por emprego em estacionamento de shopping na Asa Norte (Foto: Jéssica Nascimento/G1)
Lis Souto distribui mensagens implorando por emprego em estacionamento de shopping na Asa Norte, em Brasília (Foto: G1)

Lis Souto conta que o pai, de 75 anos, sofreu um AVC e precisa de cuidados especiais. Para tentar ajudá-lo, ela faz bolos, salgados e vende para vizinhos e amigos.

“Não ganho muita coisa, gasto mais com materiais do que com as vendas, a crise atingiu todo mundo. Meu irmão tenta dar aulas de violão particulares. Porém, só chega a ganhar R$ 30 por mês. Estou devendo R$ 1.400 de faculdade e mais faturas de cartões de créditos. Não sei o que fazer”, lamenta.

Qualificação
A prática, segundo a gestora de recursos humanos Líscia Carina Sousa, não é aconselhável. A especialista afirma que uma das características que os gestores e profissionais procuram no candidato é autoconfiança.

“O candidato demonstra que está desesperado e que quer qualquer vaga. Nós não buscamos uma pessoa que tenha essas características. Os gestores imaginam que esse profissional pode nos deixar em qualquer oportunidade.”

“O dinheiro não dá para quase nada. Essa semana mesmo ganhei uma cesta básica, graças a Deus. Infelizmente muitos comerciantes nem olham para a nossa cara quando entregamos currículo. Só preciso de uma oportunidade, não tenho vergonha nem medo de trabalhar.
Lis Souto,
desempregada

Para a gestora de recursos humanos, o candidato deve buscar sempre qualificações e ter um currículo objetivo e com experiências claras. “O currículo deve ser enxuto, ter as três últimas áreas que o candidato trabalhou com nome da empresa e as atividades realizadas. A formação acadêmica e cursos extracurriculares também é imprescindível.”

Líscia sugere que pessoas que estejam sem trabalhar e buscam emprego procurem uma empresa e entreguem o currículo pessoalmente. Segundo ela, a medida chama mais atenção positivamente do que “mensagens desesperadoras”.

“Tentar um contato pessoal demonstra muito mais interesse do que apelar. É muito mais adequado”, aconselha.

G1

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