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Derramamento de óleo pode ter ocorrido durante transferência entre navios

As manchas de petróleo cru que atingem o litoral brasileiro podem ter origem em derramamento ocorrido durante troca de um navio venezuelano para outra embarcação com bandeira de um país sem embargo dos Estados Unidos, para entrar naquele país

Praias de 92 municípios de nove estados do Nordeste foram afetadas pelo desastre ambiental. Movimentação turística pode ser comprometida
(foto: Diego Nigro/SEI)

Subiu para 19 o número de municípios na Bahia com manchas de petróleo. Na praia de Comandatuba, pescadores encontraram cerca de 40 quilos (kg) do óleo flutuando, de acordo com o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). Desde agosto, o vazamento de petróleo cru atinge pelo menos 249 localidades em 92 municípios de nove estados do Nordeste. Segundo oficiais portuários, o derramamento ocorreu durante uma transferência de óleo de um navio para outro, com objetivo de trocar a bandeira venezuelana para a de um país que não esteja embargado pelos Estados Unidos, a fim de entrar naquele país. A Marinha brasileira assegurou que existem recursos para fazer a identificação da origem do vazamento, mas as informações estão sob sigilo de investigação.

Apesar de ser a maior tragédia ao ecossistema marinho do país, as manchas não afetaram os frutos do mar provenientes da região, garantiu o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). Em nota, a pasta informou que não foi detectada qualquer anormalidade no pescado utilizado por estabelecimentos registrados no Serviço de Inspeção Federal (SIF) ou unidades de produção de animais aquáticos marinhos. Caso isso ocorra, “a matéria-prima não será utilizada para processamento nem distribuída para o consumo”.

De acordo com Glicério Lemos, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis da Bahia (ABIH), o vazamento também não interferiu na taxa de ocupação do setor hoteleiro do estado, que até outubro chegou a 68%, sete pontos percentuais a mais do que em 2018. Ele afirmou que a força-tarefa das prefeituras das praias atingidas amenizou o impacto e assegurou que a atividade não fosse comprometida. “Todos nós estamos muito apreensivos e preocupados, porque ninguém sabe se as manchas vão voltar e afetar o turismo”, disse Lemos.

Hugney Velozo, presidente da Associação Brasileira de Agências de Viagem do Distrito Federal (ABAV-DF), afirmou que o setor está cauteloso, mas não teve quedas nas vendas ou cancelamentos de pacotes de viagem. “Neste período, geralmente, a procura não é das melhores, por ser baixa temporada. Até o período de férias, a expectativa é de que (o problema) tenha sido solucionado”, destacou. Há algumas semanas, no entanto, os aplicativos para compra de passagens aérea dispararam anúncios com queda nos preços de até 30% para a região. Segundo Velozo, isso tem a ver com oferta e procura. “Pode  ser que tenha um certo impacto, mas não na dimensão que tem sido divulgada”, avaliou.

No escuro

O Brasil não consegue identificar a fonte do vazamento do óleo. Após análise e comparação dos tipos de petróleo de outros países, a Petrobras concluiu que o produto é venezuelano e vem por baixo da superfície, o que dificulta o trabalho de retirada do oceano. “Desde que a Petrobras foi acionada, recolhemos mais de 340 toneladas de resíduo e continuamos acompanhando”, afirmou recentemente Eberaldo Neto, diretor de Assuntos Corporativos da estatal.

Segundo o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), são realizadas ações direcionadas à fauna marinha e de orientação sobre a destinação dos resíduos e a remoção do óleo, uma vez que ele não flutua e os métodos convencionais são ineficazes.

Em 20 de agosto de 2010, uma área equivalente a 11 vezes a cidade do Rio de Janeiro, no golfo do México, foi palco de um desastre semelhante. A plataforma Deepwater Horizon, da petrolífera inglesa British Petroleum (BP), explodiu e provocou a morte de sete trabalhadores e o vazamento de cerca de 5 milhões de barris de petróleo no mar.

 

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