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Crise e cortes no orçamento ameaçam Orquestra Sinfônica de Brasília

Grupo é um dos mais tradicionais do país. Músicos estão sem sede e tiveram destinação de recursos para concertos reduzida no atual governo. Em 2015, nada foi investido.

Crise e cortes no orçamento ameaçam Orquestra Sinfônica de Brasília (Foto:Reprodução G1)

Desalojada e enfrentando cortes no orçamento, a Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional Cláudio Santoro, de Brasília, vai encerrar 2016 lutando para se manter em atividade. A crise na economia e o rombo bilionário nas contas do Distrito Federal ameaçam um dos grupos de música clássica mais tradicionais do país, que está sem dinheiro para contratar músicos, trocar equipamentos e realizar concertos.

A única verba do GDF aprovada neste ano para shows da orquestra foi para viabilizar as Cantatas Festivas, em cartaz desde a última quinta-feira (15) na Torre de TV. O evento custou R$ 249,7 mil para montagem de palco e pagamento de cachê de músicos convidados. No ano passado, a situação foi ainda pior: nenhum repasse foi feito além do previsto para pagamento de pessoal.

Com a interdição do Teatro Nacional desde 2014, a orquestra também ficou “sem casa”. O principal palco da cidade e um dos monumentos mais importantes da Esplanada dos Ministérios fechou as portas por recomendação do Ministério Público. O órgão considerou que a deterioração na obra de Oscar Niemeyer era perigosa para os frequentadores.

Custo alto
Em nota, a Secretaria de Cultura não explicou o motivo dos cortes no orçamento e nos investimentos destinados à sinfônica. Segundo a pasta, a demora na reforma do Teatro Nacional Cláudio Santoro se deve ao alto custo da obra, estimada em 2014 em R$ 220 milhões. De acordo com a secretaria, não há recursos nem prazo previsto para iniciar a reforma.

“A demora em realizar a reforma do Teatro é porque o valor é extremamente alto, fazendo a obra ser inviável para a realidade atual do DF. Além disso, havia outras obras mais urgentes que demandariam custos viáveis”, informa o comunicado. A pasta não informou os gastos com folha de pagamento nem o total de recursos destinados à orquestra até 2014, antes do início da gestão do governador Rodrigo Rollemberg.

Líder da Orquestra Sinfônica, o maestro Cláudio Cohen critica a falta de investimentos. Em entrevista ao G1, ele disse reconhecer que os custos desse tipo de música são altos, mas defendeu a necessidade de aplicação de recursos na cultura.

“Estamos aguardando ansiosamente uma solução para a situação do Teatro Nacional, e que ela saia o mais rápido possível. Nós sabemos que os custos são elevados, mas entendemos que não se pode desprezar um setor assim. O país vive um momento político delicado, e ter a cultura fechada não é bom sinal”, declarou.

Seleção sem estádio

Por causa da demora na reforma, o grupo usa o Cine Brasília para ensaiar. A sala de cinema na Asa Sul projetada por Niemeyer foi reformada em 2013. Neste ano, o Palácio do Buriti gastou R$ 109 mil para adaptar o cinema aos músicos de forma provisória.

“A acústica (do Cine Brasília) não é a ideal”, disse Cohen. Segundo o maestro, a qualidade dos concertos também se deve ao lugar de ensaios e apresentações. “A personalidade das orquestras no mundo é medida pela sua força ou suavidade, e isso depende do lugar em que se apresentam”, defendeu.

Desde o início do ano, a Orquestra firmou parcerias com outras instituições para continuar trabalhando. As apresentações só foram possíveis com o apoio da Arquidiocese de Brasília e das Forças Armadas, que cederam o Santuário Dom Bosco, na W3 Sul, e o Teatro Pedro Calmon, no Setor Militar Urbano. Algumas embaixadas também ajudaram.

“Somos como uma seleção sem estádio. Nossos treinos são em gramados às vezes esburacados, às vezes pequenos demais para toda a equipe. Mas isso não muda nosso ânimo”, comparou o maestro.

Alta temporada

Mesmo improvisada, a temporada de 2016 da Orquestra chegou a atrair mais de 5 mil estudantes da rede pública de ensino em concertos didáticos. A estimativa é que os concertos de gala e os realizados ao longo do ano no Santuário Dom Bosco atraíram o mesmo número de espectadores. “Foi importante para levar o nosso trabalho a outros palcos”, disse Cohen.

A maioria dos concertos é gratuita. Em uma das temporadas, a Orquestra homenageou os países da América Latina sob a regência do maestro colombiano Felipe Aguirre, da Orquestra Filarmônica de Bogotá. Um dos poucos eventos pagos neste ano foi uma apresentação beneficente para arrecadar fundos de apoio a um músico da cidade que foi diagnosticado com câncer.

De acordo com o maestro, todo o orçamento anual do governo é destinado atualmente para pagamento de pessoal. A Orquestra, fundada em 1979, é composta por 70 músicos concursados e com salário inicial de R$ 5,9 mil, além de outros profissionais que dão suporte ao grupo. Com muitos integrantes prestes a se aposentar, Cohen aguarda a nomeação de novos músicos, aprovados em um concurso em 2014.

Problema nacional

Outras orquestras e bandas de música clássica enfrentam problema semelhante no país. Nesta semana, os músicos da Banda Sinfônica do Estado de São Paulo disseram, pelas redes sociais, que o conjunto teria suas atividades suspensas em janeiro do ano que vem. A Secretaria de Cultura do Estado, que mantém o grupo, ainda avalia se mudanças no orçamento implicarão em mudanças para a banda.

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