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Bolívia e Chile fecham fronteiras para conter avanço da covid-19

Luis Arce , presidente boliviano, ordena o fechamento do país por uma semana, a fim de proteger a população. Governo chileno também veta ingresso de estrangeiros. Apenas Paraguai mantém entrada e saída de brasileiros 

(crédito: MARTIN BERNETTI/ AFP)

A grave crise sanitária provocada pela pandemia da covid-19 e a ameaça das novas variantes do coronavírus levaram a Bolívia e o Chile a fecharem suas fronteiras. O presidente boliviano, Luis Arce Catacora, anunciou o bloqueio da divisa com o território brasileiro a partir desta sexta-feira (2/4). “No marco das medidas para proteger a população, instruímos o fechamento temporário das fronteiras com o Brasil por sete dias. Os ministérios da Saúde, do Governo e das Relações Exteriores providenciarão o fechamento temporário de outros pontos, com base na situação epidemiológica”, escreveu no Twitter. “Nos municípios fronteiriços, onde se verificou a circulação de variantes da covid-19, o seu encapsulamento (quarentena) será coordenado com as entidades territoriais autônomas.” Não estão claras as medidas aplicadas às viagens aéreas. A Bolívia registra 272.411 casos da covid-19 (2,3% da população) e 12.257 mortes.

Por sua vez, o governo do Chile vetará a circulação nas fronteiras com Argentina, Peru e Bolívia a partir de segunda-feira. Durante 30 dias, ficará proibida a entrada de estrangeiros não residentes no país. A medida restringe a saída de chilenos e de estrangeiros residentes. “Precisamos com urgência de um esforço adicional, pois estamos em um momento muito crítico”, disse o porta-voz do governo, Jaime Bellolio.

O Chile contabilizava, até a tarde de ontem, 1.003.046 infecções pela covid-19 (5,5%) e 23.328 mortes. As medidas isolam ainda mais o Brasil — apenas o Paraguai não impôs restrições fronteiriças. O Equador, que fechou fronteiras terrestres e marítimas por um ano, estuda impor toque de recolher para tentar reduzir a velocidade de trasmissão do Sars-CoV-2.

“O Brasil é uma ameaça à propagação das novas cepas do vírus. A Bolívia não está preparada para uma avalanche de pessoas que precisem de cuidados médicos. Por aqui, há uma desconfiança generalizada em relação a essas novas variantes e ao possível colapso que elas poderiam causar em nosso sistema sanitário”, afirmou ao Correio o boliviano Marcelo Arequipa, doutor em ciência política e professor da Universidade Católica Boliviana San Pablo (em La Paz). Ele avalia o fechamento da fronteira como uma ação necessária e adverte que a Bolívia não dispõe de logística para conter eventuais focos de novas cepas.

Impacto

Marcelo Mella, cientista político e professor do Departamento de Estudos Políticos da Universidad de Santiago de Chile, admite que a situação sanitária no Brasil impactou fortemente a opinião pública chilena. “Criou-se um debate político sobre o que o governo de Sebastián Piñera deve decidir nos próximos dias. Nós enfrentamos a segunda onda da pandemia e, hoje, superamos o número de 1 milhão de infectados. Para o tamanho do Chile e o total de habitantes, os 23 mil mortos representam uma cifra bastante alta”, disse ao Correio. “O sucesso do processo de vacinação, que deverá imunizar, até o fim de junho, entre 70% e 80% da população, foi obscurecido pelo otimismo excessivo de Piñera. Ao considerarmos as notícias que chegam do Brasil, a opinião pública adotou um estado de alerta e começou a exercer forte pressão sobre o governo pelo fechamento das fronteiras para que a segunda onda não se prolongue muito.

”Segundo Mella, as autoridades chilenas também adotaram medidas “muito severas” de restrições à circulação, com a formação de um “cordão sanitário”. “A adesão ao confinamento tem sido menor do que o necessário. Também haverá aumento de uma hora no toque de recolher. Apesar de graves, são ações necessárias. O turismo requer um nível de responsabilidade e de autocuidado”, lembrou. Até o fechamento desta edição, o Ministério das Relações Exteriores brasileiro não havia se pronunciado sobre as decisões de Bolívia e Chile.

Eu acho…

 (crédito: Arquivo pessoal)
crédito: Arquivo pessoal

Além das novas variantes do coronavírus, o presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, tem se mostrado bastante reticente em relação a desenhar políticas de contenção da pandemia. Suas declarações sobre a covid-19 e sobre os problemas enfrentados pela economia brasileira são negacionistas. Tudo isto obrigou a Bolívia a fechar as fronteiras.”
Marcelo Arequipa, doutor em ciência política e professor da Universidade Católica Boliviana San Pablo (em La Paz)

“O fechamento das fronteiras é um custo a ser pago pelo presidente chileno, Sebastián Piñera, por seus erros e pela promessa de reabrir as atividades econômicas quase no nível da normalidade. Isso tem um impacto econômico, com a inflação, a estagnação do Produto Interno Bruto e o aumento do desemprego. Mas, a medida é necessária.”
Marcelo Mella, cientista político e professor do Departamento de Estudos Políticos da Universidad de Santiago de Chile

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