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Amazônia: garimpo pode ter contribuído para contaminar botos com mercúrio

O mercúrio é utilizado na mineração para separar o ouro de outros elementos, e é altamente poluente

Botos: altas taxas de mercúrio observadas no organismo dos animais representa, igualmente, uma verdadeira “ameaça” à saúde das 20 milhões de pessoas que vivem na região amazônica, que consomem peixes contaminados (Gabriel Melo-Santos/ WWF/Divulgação)

Os botos da Amazônia estão contaminados com mercúrio, possível consequência do uso deste metal em atividades de mineração naquela região, revelou nesta quarta-feira um informe elaborado por várias organizações, entre elas o Fundo Mundial para a Natureza (WWF).

Para o estudo, os pesquisadores coletaram amostras de 46 golfinhos de rio entre 2017 e 2019. “É uma boa amostra, todos apresentaram algum nível de contaminação por mercúrio, e pelo menos metade deles um nível alto

”, explicou à AFP Marcelo Oliveira, especialista em conservação da WWF Brasil.

“A mineração ilegal e o mercúrio ameaçam a vida na Amazônia e na Orinoquia. 100% dos golfinhos de rio marcados entre 2017 e 2018 estavam contaminados com mercúrio, especialmente os da bacia do Orinoco, onde existe um grande arco de mineração ilegal”, perto da fronteira entre a Colômbia e a Venezuela, detalhou o informe.

O mercúrio é utilizado na mineração para separar o ouro de outros elementos, e é altamente poluente. Oliveira considera, porém, que o garimpo não é o único problema.

O mercúrio existe de forma natural na Amazônia, mas o que ocorre é que ele também é decorrente das queimadas, desmatamento, assoreamento dos rios (…) Então esse mercúrio sai da sua forma natural e é levado para água e entra na cadeia alimentar através dos peixes”, lamenta.

As altas taxas de mercúrio observadas no organismo dos botos representa, igualmente, uma verdadeira “ameaça” à saúde das 20 milhões de pessoas que vivem na região amazônica, que consomem peixes contaminados.

“A contaminação não é pela água, é pelo consumo do peixe”, ressalta Oliveira, que indica que este mercúrio “é bioacumulativo” e fica por até “100 anos na cadeia” alimentar.

Monitoramento por satélite

O estudo, realizado em seis bacias do Brasil, Bolívia, Colômbia e Peru, também monitorou por satélite 29 destes golfinhos de rio que pertencem a duas espécies. Os animais foram marcados com transmissores de 145 gramas em suas barbatanas.

Esses aparelhos têm uma vida útil de entre cinco e oito meses. Após esse período, se desprendem sozinhos.

O boto-cor-de-rosa, uma das espécies estudadas, está classificado como “em perigo” na lista vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza. “É o segundo nível de ameaça mais grave para um animal e indica que a espécie pode ser extinta em um futuro próximo”, explicou a WWF-Brasil.

O estudo se enquadra na Iniciativa Golfinhos da América do Sul, formada pelas organizações Faunagua, Fundação Omacha, Instituto Mamirauá, Prodelphinus e WWF.

A observação dos golfinhos mostrou que esses animais requerem vários tipos de ambientes aquáticos e suas áreas de vida superam em extensão às de outros mamíferos terrestres. Por isso, a construção de represas na região amazônica ameaça seu ciclo de vida, uma vez que quebra a conexão dos rio e isola as populações.

Os pesquisadores também concluíram que os movimentos dos golfinhos não distinguem fronteiras internacionais, o que torna necessários acordos entre países para garantir a proteção das espécies.

Nesse sentido, as instituições participantes buscam que os resultados sirvam para impulsar esforços coordenados entre governos.

Nas próximas fases, o estudo focará em determinar áreas mais sensíveis nas quais não deveriam ser construídos projetos de infraestrutura a fim de salvaguardar estas espécies, assim como monitorar o impacto da caça de golfinhos.

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