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Vizinha de casa onde incêndio matou três irmãos em Poá diz ter ouvido: ‘Pai, não deixa eu morrer aqui’

Testemunha prestou depoimento à polícia nesta quarta-feira (17). Crianças foram adotadas por casal que se separou recentemente. Pai que estava no imóvel foi preso.

Três crianças morrem após quarto em que dormiam pegar fogo em Poá — Foto: Cristiane Aparecida Athos/Arquivo Pessoal

Uma testemunha doincêndio que matou três irmãos nesta quarta-feira (17) em Poá disse à Polícia Civil ter ouvido gritos de socorro. De acordo com o delegado Eliardo Jordão, a vizinha contou ter ouvido pedidos de ajuda, inclusive de uma criança, que teria gritado: “Pai, não deixa eu morrer aqui”.

O incêndio aconteceu na casa em que os três irmãos moravam com um dos pais. Gabriel Reis de Faria e Vieira, de 9 anos; Fernanda Verônica Reis de Faria e Vieira, de 14 anos, e Lorenzo Reis de Faria e Vieira, de 2 anos, foram adotados por um casal homoafetivo que se separou recentemente.

Os corpos dos irmãos foram enterrados no Cemitério Municipal de Poá na manhã desta quinta-feira (18). Amigos e familiares, muito abalados, acompanharam e puderam se despedir em um velório simbólico.

Corpos de irmãos mortos em incêndio são enterrados em Poá — Foto: Natan Lira/G1
Corpos de irmãos mortos em incêndio são enterrados em Poá — Foto: Natan Lira/G1.

O pai que estava no imóvel, Ricardo Reis de Faria e Vieira, foi preso temporariamente por causa das contradições em seu depoimento. De acordo com a polícia, uma dessas contradições está no fato dele ter dito que acordou com o cheiro de fumaça e não com os gritos.

Em nota, a defesa do pai informou que a prisão temporária foi precipitada e que está tomando providências para revertê-la.

Vieira compartilhava a guarda dos filhos com o ex-companheiro com quem viveu por quase 15 anos. Os filhos foram adotados pelos dois em 2014 e em 2019.

Quarto trancado e contradições no depoimento
Para a polícia, o mais provável é que o incêndio tenha começado no quarto onde as crianças dormiam. “Quando cheguei juntamente com a equipe, a casa toda [estava] incendiada. Realmente uma imagem muito forte, principalmente quando a gente ingressou no quarto dessas crianças onde os três estavam mortos naquele quarto. Aquela imagem que eu não queria ter presenciado, infelizmente aconteceu. Uma situação absurda”, contou o delegado.

Segundo o delegado, o pedido de prisão temporária foi feito para viabilizar as investigações. “Só esclarecer aqui a prisão temporária não aponta, não acusa ninguém. É uma prisão processual, um instrumento jurídico para viabilizar a continuidade das investigações. Este foi o motivo em razão de algumas contradições que nós constatamos ao longo do dia”, afirmou Jordão.

Entre as respostas que a polícia procura está o motivo para o quarto das crianças, que tinha grade nas janelas, estar trancado.

“O bebê não era comum dormir nesse quarto. São algumas versões, contradições que ao longo do dia estamos checando. O quarto estava trancado, outro fato que temos que esclarecer, quem trancou e por que estava trancado?”, pontuou Jordão.

Outra contradição é que Ricardo afirmou em depoimento ter ido até a janela, pelo lado de fora, após ter percebido o incêndio, mas que os filhos não estavam no quarto. Mas no momento do incêndio, ele foi até a delegacia, que fica a poucos metros da casa, pedir ajuda para arrombar a porta e dizendo que os filhos estavam lá.

“Ele veio pedir socorro na delegacia, porque as crianças estavam trancadas lá e ele não conseguia arrombar a porta. O policial civil foi até a casa e arrombou a porta. Em razão das chamas, não conseguiu avançar até o quarto, ingressar no quarto”, disse o delegado.

Durante a tarde, a Polícia Científica e a Defesa Civil estiveram no local. Oito testemunhas foram ouvidas até o momento entre familiares, vizinhos e policiais que atenderam a ocorrência. Ainda não se sabe a causa do incêndio. No final da tarde de quarta foi encontrado um celular no cômodo, que foi apreendido.

Corpos de crianças mortas em incêndio, em Poá, deixam funerária — Foto: Natan Lira/G1
Corpos de crianças mortas em incêndio, em Poá, deixam funerária — Foto: Natan Lira/G1.

Comoção

O outro pai, Leandro José Reis de Farias e Vieira, que mora em Mogi das Cruzes, chegou ao local pela manhã e ficou desolado com o que encontrou. Familiares diziam que as crianças eram muito amadas pelos dois pais.

Leandro, pai das crianças, ficou desolado quando chegou a Poá — Foto: Reprodução/TV Diário
Leandro, pai das crianças, ficou desolado quando chegou a Poá — Foto: Reprodução/TV Diário.

Segundo Maria de Lourdes Reis, tia das crianças, eles recebiam muito carinho dos pais.

“Eles dois amavam as crianças. As crianças eram tudo pra eles. A gente não sabe o que aconteceu”, disse Lourdes.

Casa em que crianças viviam, em Poá, foi destruída pelo fogo — Foto: Reprodução/TV Diário
Casa em que crianças viviam, em Poá, foi destruída pelo fogo — Foto: Reprodução/TV Diário.

O delegado também ouviu informações positivas sobre a relação dos dois com os filhos. “Sempre foram exemplo de família. As crianças, educação ímpar. Sempre bem tratadas, criadas. Essas informações que a gente tem, não [são] só de hoje. Os relatos são os melhores possíveis”.

Em 2019, a família chegou a dar entrevista à TV Diário para falar da adoção de crianças por casais homoafetivos. Na época, a filha mais velha expressou sua felicidade com os pais. “Não tem família certa ou errada. O importante é o amor”, disse a menina.

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