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UnB analisa expulsão de aluno por matar ex-namorada em laboratório

Instituto de Biologia enviou demanda à reitoria pedindo desligamento.Vinicius Neres confessou o crime; ele foi levado à Papuda neste domingo.

A Universidade de Brasília analisa a possibilidade de expulsar o estudante de biologia Vinícius Neres, preso pela morte da ex-namorada Louise Ribeiro em um laboratório da instituição. De acordo com o reitor, Ivan Camargo, não há prazo para o término do processo. O garoto estava no sexto semestre do curso e era veterano da vítima.

“Já há uma demanda do Instituto de Biologia, nós vamos avaliar junto à nossa procuradoria jurídica qual é o encaminhamento, mas não temos dúvida de que é uma falta gravíssima”, disse. “Falta gravíssima é punida com expulsão. […] Vamos fazer com que o processo corra com todo o trâmite legal.”

A instituição realizou na manhã desta segunda-feira (14) uma homenagem à jovem. Pai dela, o tenente-coronel Ronald Ribeiro afirmou que gostaria de ter dito ao suspeito para aprender a respeitar quando as pessoas dizem “não”. O crime aconteceu na quinta-feira à noite, e Vinícius Neres chegou a ligar para a família da garota para perguntar sobre ela.

“Respeitem, por favor, que quando alguém disser ‘não’ é ‘não’. Aprendam, aceitem isso. Se você realmente ama aquela pessoa, aprenda a admirá-la, isso que é importante.
Isso que eu gostaria de ter dito ao Vinícius quando ele me ligou perguntando pela Loiuse. Eu disse: ‘eu quero conversar com você olhando no seu olho’. Mas, infelizmente, não foi possível”, declarou.

Um ipê rosa – da cor preferida de Louise – inaugurou o jardim do prédio, que deve ganhar o nome dela. A menina foi descrita como risonha e doce por amigos. Sergipana, ela tinha 20 anos, era apaixonada por tartarugas e estagiava no Ibama.

Único parente a falar durante a homenagem, o pai isentou a UnB de qualquer responsabilidade sobre o crime e disse que a filha admirava a instituição e escolheu estudar no local. Ela também havia sido aprovada em uma universidade de Washington, nos Estados Unidos, mas não pôde ir por falta de condições financeiras da família.

“Uma responsabilidade e uma dedicação fantásticas”, afirmou emocionado o pai. “Eu brincava com ela de manhã, perguntando por que ela sairia naquele horário [tão cedo]. Ela gostava de chegar cedo, de ter tempo para ver tudo direito, falar com as amigas.”

Estudante com flor branca durante evento na UnB nesta segunda-feira (14) em homenagem a Louise Ribeiro (Foto: Raquel Morais/G1)
Estudante com flor branca durante evento na UnB nesta segunda-feira (14) em homenagem a Louise Ribeiro (Foto: Raquel Morais/G1)

Bastante emocionadas, a mãe e as três irmãs da menina – o irmão voltou para o Rio de Janeiro nesta segunda – assistiram às homenagens abraçadas. Rosas brancas e balões foram levados por amigos, que também não contiveram o choro. Um colega e um professor tocaram “Amazing grace” e “Coração de estudante”. A parte externa do prédio ficou lotada.

Não sei como vai ser esse semestre, olhar para frente e não ver aquele ponto loiro com rosa, que sempre sabia de tudo, até da economia dos países que ninguém conhece. As saídas não serão as mesmas. Sempre vou achar que está faltando alguém”
Lucas, amigo da vítima

A diretora do instituto leu uma oração, e amigos se revezaram no microfone para falar sobre Louise. “Uma ótima amiga, sempre muito alegre, sempre prestativa. Apaixonada pela vida, pelas tartarugas, pela vida marinha”, disse Bruna.

“Não sei como vai ser esse semestre, olhar para frente e não ver aquele ponto loiro com rosa, que sempre sabia de tudo, até da economia dos países que ninguém conhece”, afirmou Lucas. “As saídas não serão as mesmas. Sempre vou achar que está faltando alguém.”

Vice-reitora e professora de biologia, Sônia Báo descreveu o momento como “muito difícil”. “Vamos lembrar da Louise com aquele sorriso, com a alegria que ela teve enquanto estava entre nós.”

A universidade instituiu luto por causa da morte da estudante. As aulas não foram suspensas, mas os professores receberam recomendação de liberar os alunos nos horários das homenagens desta segunda: às 10h e às 15h30. A reitoria disse que vai reforçar a iluminação e a segurança no período noturno para evitar novos crimes na UnB.

Pai de Louise planta ipê rosa em jardim da Universidade de Brasília durante evento em homenagem à filha (Foto: Raquel Morais/G1)
Pai de Louise planta ipê rosa em jardim da Universidade de Brasília durante evento em homenagem à filha (Foto: Raquel Morais/G1)

Crime
A estudante Louise Ribeiro foi dopada com clorofórmio e, depois de inconsciente, teve 200 ml do produto químico injetados por Neres na boca. O produto é tóxico e causa morte. Neres então prendeu os pés e as mãos da menina e enrolou o corpo dela em um colchão inflável. Ele levou o corpo da estudante no carro dela até uma área de cerrado no Setor de Clubes Norte e o deixou na mata.

Ele chegou a atear fogo nas costas da estudante. Neres voltou ao Instituto de Biologia da UnB, onde deixou o carro de Louise e voltou para casa de ônibus. Nesta sexta de manhã, ele foi preso depois de confessar o crime. Na delegacia, em entrevista, o estudante disse não saber por que havia matado Louise. “Eu ainda não sei por que a matei”, afirmou. “Definitivamente, não foi pelo motivo de amor.

Eles tiveram um relacionamento de dois meses, segundo o advogado, embora Neres tenha dito que o namoro tenha durado nove meses. Ele disse que ainda era apaixonado pela estudante. Algemado, Neres deu detalhes do crime sem aparentar nervosismo.

Ao ser perguntado se achava que tinha algum problema mental, afirmou que já havia pensado na hipótese. “Eu quis fazer um tratamento contra depressão, principalmente, mas nunca cheguei a fazê-lo. Então precisaria de uma avaliação.”

Segundo a Polícia Civil, Vinicius Neres marcou um encontro com Louise no laboratório do Instituto de Biologia às 18h30 da quinta. Durante a conversa, o estudante falou para ela que iria se matar. “Eu mostrei o produto que ia utilizar e falei que ia me suicidar. Ela tentou me impedir, gritou para outras pessoas chegarem ao laboratório.”

O delegado-chefe da Delegacia de Repressão a Sequestros (DRS), Leandro Ritt, afirmou que o rapaz alegou ter tido um “ataque de fúria” no momento em que a vítima foi abraçá-lo. Nesse momento ele a dopou com clorifórmio e cometeu o crime, disse. Neres foi transferido para a Papuda no domingo.
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