Ao menos 30 países criaram novos programas de transferência de renda ou fortaleceram os já existentes para tentar evitar tragédia social
O efeito devastador da pandemia do novo coronavírus sobre a economia mundial já levou pelo menos 45 países a agir para tentar conter o impacto sobre emprego e renda da população.
O risco é que o estado de paralisia na atividade econômica, diante da necessidade de isolamento social como prevenção ao alastramento da infecção, resulte em demissões em massa e queda drástica na renda da população que já não tem quase nada para sobreviver.
O cardápio de medidas é variado e inclui transferências diretas de renda, subsídios temporários nos salários, licenças remuneradas para quem for contaminado, entre outras iniciativas voltadas para as empresas. Muitos países atuam em mais de uma frente, com uma combinação de diferentes políticas para amortecer o impacto da crise, que pode atingir os níveis observados na crise financeira de 2008 e 2009.
Os países têm calibrado o alcance das ações de acordo com seu poder de fogo: enquanto uns enfrentam a crise com situação mais confortável em suas contas, outros foram atingidos em meio a um processo de ajuste e precisam acomodar as medidas num orçamento já deficitário, como é o caso do Brasil.
O diretor global de Macroeconomia do Banco Mundial, Marcello Estevão, coordena parte importante do monitoramento que o organismo internacional tem feito sobre as iniciativas ao redor do mundo. Segundo ele, muitos países, principalmente os emergentes, enfrentam restrições fiscais ao mesmo tempo que há uma necessidade urgente de expansão dos gastos para debelar os efeitos da crise. Muitos perderam receitas com a queda nos preços do petróleo, outros têm o gasto engessado ou estão em processo de ajuste.
Onze países implementaram subsídios temporários nos salários dos trabalhadores e estão bancando até 80% das remunerações para conter dispensas. Também há medidas para complementar a renda de informais e reduzir o horário de trabalho, até por causa das recomendações sanitárias de isolamento.
Dez países estão investindo em licenças remuneradas para incentivar quem foi infectado a ficar em casa, isolado, evitando a ampliação do contágio.
Outras iniciativas incluem redução temporária das contribuições sociais de empregadores e trabalhadores, repasses para famílias com crianças e ampliação dos benefícios para desempregados. As medidas variam em alcance e magnitude conforme o poder de fogo do país. Além disso, o custo de vida pode ser mais elevado em países desenvolvidos, refletindo no valor do benefício.
Ao todo, 13 novos programas de transferência de renda foram lançados em meio à crise da covid-19, em países como Irã (US$ 400, cerca de R$ 2 mil, em quatro parcelas a três milhões de famílias).
Em Cingapura, os trabalhadores receberão um repasse único de até US$ 300 (R$ 1,5 mil), a depender de sua renda. Na Itália, que se tornou o epicentro da doença, trabalhadores com renda anual menor que 40 mil euros (R$ 218 mil ao ano) estão elegíveis a receber um benefício de 100 euros (cerca de R$ 545), no mês de março.