A misteriosa substância não pode ser vista diretamente por telescópios, mas exploradores podem detectá-la por seus efeitos gravitacionais
O satélite chinês DAMPE (sigla em inglês para “explorador de partículas de matéria escura”) acaba de detectar os primeiros sinais de matéria escura desde que foi lançado, em maio de 2016. A substância é impossível de ser observada e dá sustentação a diversas teorias científicas. Os dados fornecem uma visão detalhada do fluxo de elétrons de raios cósmicos, informações valiosas para estudar o comportamento das misteriosas partículas invisíveis que, junto com a energia escura, compõem 95% do Universo, anunciou a Academia Chinesa de Ciências nesta quarta-feira.
O DAMPE é o primeiro satélite astronômico da China. Ele foi capaz de medir uma ruptura no espectro energético dos raios cósmicos próxima a 0,9 teraelétron-volt (TeV) – um valor tão pequeno que marca uma precisão sem precedentes em pesquisas desse tipo. “Juntamente com dados de experiências sobre microondas cósmicas, medições de raios gama de alta energia e informações de outros telescópios astronômicos, os dados DAMPE podem ajudar a esclarecer a conexão entre a anomalia de pósitrons [partículas de carga positiva opostas aos elétrons] e a aniquilação ou decaimento de partículas de matéria escura”, diz Fan Yizhong, chefe da equipe que desenvolveu o sistema de aplicação utilizado pelo DAMPE, em comunicado.
Matéria escura
A matéria escura é uma hipotética substância que não emite radiação eletromagnética suficiente para ser vista por detectores atuais de partículas, mas que poderia ser detectada por seus efeitos gravitacionais. Os astrofísicos consideram essas partículas necessárias para compor elaborações matemáticas que explicariam o funcionamento do Universo. Se ela não existisse, ruiriam diversas equações da astrofísica, principalmente as aceitas para explicar as relações gravitacionais entre os corpos celestes.
O satélite DAMPE é dotado dos mais avançados detectores de partículas. É a aposta mais ousada até agora para a detecção da enigmática matéria escura. Caso esse mistério não seja desvendado, porém – o resultado divulgado nesta quarta-feira, que rendeu uma publicação na prestigiada revista científica Nature, já poderia colocar os organizadores do projeto como candidatos a um Nobel –, a iniciativa não será perdida. A Academia Chinesa de Ciências também pretende utilizar a nave para estudar outros fenômenos espaciais, como os relacionados aos raios cósmicos e aos raios gama de alta energia.