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Sem saber como, Prefeitura de SP diz que vai distribuir produtos a base de farinata na merenda neste mês

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Doria disse na declaração inicial que a entrevista foi convocada para que fosse feita uma “adequação do posicionamento” entre as partes envolvidas

A Prefeitura de São Paulo disse que produtos a base de farinata serão distribuídos na merenda escolar já neste mês, mas ainda não sabe de que forma os alimentos serão disponibilizados. A administração municipal divulgou a data nesta quarta-feira (18) durante uma entrevista coletiva realizada na Cúria Metropolitana.

O encontro reuniu o prefeito João Doria Júnior, o cardeal-arcebispo Odilo Scherer e a fundadora da organização social Plataforma Sinergia, Rosana Perrotti. A Plataforma Sinergia é a entidade que vai beneficiar os alimentos que serão doados por supermercados e fábricas para produzir a farinata. Doria disse na declaração inicial que a entrevista foi convocada para que fosse feita uma “adequação do posicionamento” entre as partes envolvidas.

A iniciativa da administração municipal e da organização social tem sido alvo de uma controvérsia desde o dia 8. Nesse dia, o prefeito sancionou a lei da Política Municipal de Erradicação da Fome e Promoção da Função Social dos Alimentos. Na mesma data, em vídeo publicado nas redes sociais, Doria mostra uma porção de biscoitos arredondados feitos a partir da farinata e diz que a comida é abençoada. Ele afirmou ainda que o produto é feito por alimentos que seriam jogados no lixo, são reaproveitados com toda a segurança alimentar e que seriam distribuídos pela prefeitura.

O composto foi criticado pelo Conselho Regional de Nutricionistas de São Paulo, que disse que a iniciativa contraria os princípios do Direito Humano à Alimentação Adequada. Em resposta, o prefeito e o arcebispo fizeram questão de comer um pão feito com a farinata e distribuíram o mesmo pão aos jornalistas presentes à entrevista. João Doria Júnior afirmou que a Secretaria de Educação já deve receber alimentos a base do composto ainda neste mês. “A Secretaria de Educação já foi autorizada a utilizar de maneira complementar o alimento solidário. Isto já com início neste mês de outubro”, disse.

Por outro lado, a secretária municipal de direitos humanos e cidadania afirmou que ainda não se sabe de que maneira os produtos serão disponibilizados. Eloisa Arruda disse que aguarda a Secretaria da Educação informar o cardápio de creches para que a introdução dos alimentos seja feita. “Ainda não está definido, mas estamos em contato com o secretário da educação para que ele nos apresente o cardápio dessas creches e, paulatinamente, essa introdução pode ser feita.”

A Plataforma Sinergia, entidade responsável pelo composto, disse que o custo de fabricação não será pago pela Prefeitura, mas sim pelos próprios mercados e fábricas que doarem os alimentos. A organização social alegou que os estabelecimentos têm custos altos para descartar produtos que tenham algum defeito estético ou estejam próximos da data de vencimento. A instituição disse que detém patentes de um processo inovador e que compensaria muito mais para os mercados beneficiarem os alimentos pelo método deles do que descartá-los.

A fundadora da Plataforma Sinergia, Rosana Perrotti, afirmou que o maquinário poderá ser instalado nos fundos das fábricas ou mercados. “Se tem um custo que se gasta ao incinerar, em vez de incinerar, ele poderá gastar menos para beneficiar [os alimentos]. Nós vamos colocar essas tecnologias em cima de carretas e processar dentro da indústria, dentro de armazém, muito provavelmente nos fundos de supermercados. Então esse custo de logística será evitado bancado pela própria empresa que está evitando o custo do desperdício”, disse.

A entrevista coletiva foi realizada na Cúria Metropolitana de São Paulo, organismo administrativo da Igreja Católica na capital paulista. O cardeal-arcebispo Odilo Pedro Scherer afirmou que a entidade religiosa apoia o projeto da farinata e diz que desprezo ao pobre é negar alimento. ” A base do alimento é a farinata, farinha. Portanto não é alimento granulado, como muito se tem dito. Eu fico ofendido quando se diz que é ração, comparando que isso seria ração para animal e dado aos pobres como desprezo ao pobre. Desprezo ao pobre é lhe negar o alimento.”

A vereadora Sâmia Bomfim quer instaurar uma comissão parlamentar de inquérito na Câmara Municipal para investigar o plano da Prefeitura de distribuir produtos a base de farinata. A parlamentar do PSOL classificou o caso como um escândalo e abriu uma petição pública reunindo assinaturas de apoio à CPI. A lei que regulamenta a Política Municipal de Erradicação da Fome é de autoria do vereador Gilberto Natalini, do Partido Verde. Ele apoia o programa da Plataforma Sinergia e diz que acompanha o desenvolvimento do projeto há dez anos.

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