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Robôs turbinam menções no Twitter com mensagens de apoio para Bia Kicis comandar CCJ

Julia Noia

Uma semana após a deputada federal Bia Kicis (PSL-DF) ser cotada para ocupar a presidência da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara, foram identificados cerca de 2.600 menções geradas de contas inautênticas – bots ou pessoa real que cria perfil se passando por outra – para prestar apoio à parlamentar. Entre os dias 4 e 9 de fevereiro, 2.599 publicações na rede social promoveram as hashtags #BIANACCJ, #BIAKICISNACCJ e #BIANACCJSIM, segundo levantamento da ferramenta Bot Sentinel.

A mobilização em apoio a Bia Kicis para presidir a CCJ também partiu de contas de movimentos sociais de direita, como o NasRuas, fundado em 2011 pela deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP), apontada como possível nova ocupante da Secretaria de Comunicação (Secom) da Câmara.

Em publicação na tarde desta segunda-feira, a conta no Twitter do NasRuas pediu o apoio dos seguidores à deputada pela hashtag #BIANACCJ. Ainda de acordo com o Bot Sentinel, a interação com o tuíte foi realizada, majoritariamente, por contas de proveniência desconhecida, disruptiva ou problemática. Apenas 23% dos comentários vieram de contas com conteúdo avaliado como normal ou satisfatório.

 

O Bot Sentinel utiliza inteligência artificial para estudar contas do Twitter a partir dos padrões característicos: padronização de mensagens, falta de contexto para publicações e falta de resposta. Esse material é coletado e avaliado a partir de dados do próprio Twitter, e pode aferir a autenticidade das contas.

Atos antidemocráticos

Os “robôs” nasceram fora da política, mas, uma vez inseridos no jogo político, seu uso no Brasil está costumeiramente associado a parlamentares e articuladores de direita, aponta o professor da Coppe/UFRJ e especialista em segurança digital, Claudio Miceli.

— É toda uma linha de campanha, principalmente desde a eleição de Donald Trump nos Estados Unidos, em 2016, com a questão da propaganda associada. E todas as pessoas que seguem a linha de trabalho dele, vão acabar usando esse tipo de ferramenta — destaca Miceli.

Forte aliada do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), Bia Kicis é apontada como uma possível candidata ao comando da CCJ desde antes de sair o resultado da eleição no Congresso, na segunda-feira passada. Após a vitória de Arthur Lira (PP-AL), candidato apoiado pelo Palácio do Planalto, o nome da deputada surge com força nas redes sociais, e se intensifica com o uso de hashtags em apoio à parlamentar.

Políticos contrários ao governo e até integrantes do PSL, sigla da deputada que rachou após conflito entre o presidente Jair Bolsonaro e o presidente do partido, o deputado federal Luciano Bivar (PSL-PE), criticaram a escolha.

Bia Kicis é investigada no Supremo Tribunal Federal (STF) no inquérito que apura os atos antidemocrátidos realizados em Brasília no primeiro semestre de 2020, aberto pelo ministro Alexandre de Moraes. As investigações do caso seguem no STF.

A CCJ é a comissão mais importante da Câmara. Dentre as funções, estão a avaliação da legalidade de projetos de lei, o que inclui Propostas de Emenda à Constituição (PEC) e pedidos de abertura de processo de impeachment do presidente. Nela, desde 2019, foram protocolados 69 pedidos contra o presidente Jair Bolsonaro, mas nenhum foi apreciado pelo liderança da Câmara.

Procurado, o movimento NasRuas não se pronunciou sobre as interações de origem duvidosa em sua publicação na rede social. O Twitter informou que apura o caso internamente.

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