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Reino Unido pressiona UE, diz que sairia sem acordo e seria nova Austrália

Britain’s Prime Minister Boris Johnson reacts as he leaves Downing Street, in London, Britain, July 8, 2020. REUTERS/Hannah McKay

O referendo em que parte dos britânicos decidiu pela saída do Reino Unido da União Europeia fez três anos no último mês de junho, mas a novela ainda continua. Nesta quarta-feira, 8, a chanceler alemã Angela Merkel disse em pronunciamento ao Parlamento Europeu que o bloco precisa se preparar para um futuro sem acordo com o Reino Unido pós-Brexit.

A declaração vem um dia depois de o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, ter pressionado Merkel em uma ligação na terça-feira, 7, dizendo que o Reino Unido está pronto para deixar a União Europeia sem condições especiais de comércio caso as negociações não avancem.

O progresso das negociações tem sido pequeno, para dizer de modo diplomático”, disse Merkel, embora tenha dito que continua defendendo a negociação para um acordo. “Devemos nos preparar para a possibilidade de um cenário em que não haja acordo”.O acordo inicial para a saída do Reino Unido foi finalizado em janeiro deste ano — concluindo o chamado Brexit, nome que se deu à saída britânica. Agora, o Reino Unido e o bloco europeu precisam chegar a um acordo comercial que usarão quando os britânicos não forem mais parte do bloco. O prazo termina no fim deste ano, e sucessivas reuniões sobre o tema entre as partes vêm sendo infrutíferas.

“Na relação futura, o primeiro-ministro reforçou o comprometimento do Reino Unido em trabalhar duro para encontrar um acordo rápido para finalizar o intensificado processo de conversas”, disse um porta-voz de Johnson sobre o telefonema a Merkel, segundo a agência Reuters. “Ele também notou que o Reino Unido estaria, da mesma forma, pronto para deixar o período de transição em condições como as da Austrália se um acordo não puder ser alcançado”.

A Austrália não tem um acordo comercial especial com a União Europeia, somente acordos específicos para algumas mercadorias. No geral, a maior parte do comércio entre os países transcorre segundo as regras globais da Organização Mundial do Comércio, com os australianos pagando as mesmas tarifas que os demais países do globo para vender aos europeus.

Merkel em discurso no Parlamento europeu: chanceler admitiu que negociações estão falhando
Merkel em discurso no Parlamento europeu hoje: chanceler admitiu que negociações estão falhando (Francois Lenoir/Reuters)

O custo do Brexit

Os britânicos exportaram para a UE em 2019 300 bilhões de libras, segundo o governo, sendo a maior parte das exportações em serviços. O bloco é o maior parceiro comercial britânico. Em compensação, importaram 372 bilhões de libras, ficando com déficit comercial, parte do argumento que motivou a saída do bloco, opção escolhida pela população em referendo em 2016.

O custo de sair sem acordo para o Reino Unido ainda não é oficial. Mas estimativa das Nações Unidas em fevereiro deste ano aponta que o prejuízo para o Reino Unido, caso saia sem um acordo comercial, pode ficar em 32 bilhões de dólares por ano — em dez anos, seria o equivalente a 14% do produto interno bruto do ano passado.

Por fazer parte do bloco europeu, o Reino Unido deixou de pagar tarifas que são, em média, de 5,4% para vender as mercadorias aos países europeus do bloco (as tarifas variam de produto a produto, mas a média foi de 2,7% para produtos não-agrícolas e 8,1% para agrícolas em 2018, segundo a Organização Mundial do Comércio). Ainda que possa cobrar essas tarifas dos outros países se saísse do bloco sem acordo, o Reino Unido também teria de pagá-las. Também podem haver impactos na cadeia de produção, com insumos importados ficando mais caros.

Centro financeiro de Londres durante a pandemia: impacto do Brexit nos negócios pode ser acentuado em meio ao coronavírus
Centro financeiro de Londres durante a pandemia: impacto do Brexit nos negócios pode ser acentuado em meio ao coronavírus (Henry Nicholls/File Photo/Reuters)

Qual é o impacto nos negócios?
No começo deste ano, as partes chegaram a um consenso: ter algum tipo de acordo entre os países quando o Reino Unido deixar o bloco, embora um acordo menor do que o existente atualmente. Mas as negociações estão emperradas justamente em decidir os termos exatos destes benefícios.

A própria oficialização da saída do Reino Unido no começo do ano veio após episódios que envolveram a troca de dois premiês antecessores a Johnson (David Cameron, que era anti-Brexit, saiu após perder o referendo em 2016, e Theresa May deixou o cargo no ano passado, ao não conseguir concluir o acordo de saída).

A demora na negociação do acordo ganhou ainda novos desafios em meio à pandemia do novo coronavírus. Em carta ao premiê Boris Johnson no fim de junho, empresários no Reino Unido afirmaram que não há tempo hábil para se habituar a mudanças comerciais até o fim do ano. “Os negócios simplesmente não têm tempo ou capacidade para se preparar para grandes mudanças nas regras comerciais até o fim do ano — em especial dado que já estamos lutando com a agitação causada pelo coronavírus”.

Uma estimativa da Bloomberg Economics também aponta que, mesmo antes dos impactos futuros para um possível acordo, o Brexit pode já estar custando ao Reino Unido quase o mesmo valor do que os criticados pagamentos que os britânicos fizeram à União Europeia para se manter no bloco.

Até agora, o custo de sair da UE atingiu 130 bilhões de libras, entre insegurança jurídica, empresas deixando o país e outros impactos. Mais 70 bilhões devem ser perdidos até o fim do ano.

A projeção é que a economia britânica poderia ter crescido 3% a mais desde 2016, não fosse pelo referendo.

Enquanto isso, nos últimos 47 anos, o Reino Unido pagou 215 bilhões de dólares para ficar na União Europeia, se ajustada a inflação.

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