21.5 C
Brasília
HomeBrasíliaPromotor contesta versão de Lula de que não tinha triplex em Guarujá

Promotor contesta versão de Lula de que não tinha triplex em Guarujá

Segundo José Carlos Blat, do MP-SP, Bancoop vendeu ‘coisas concretas’. Defesa de Lula diz que ele comprou cotas de cooperativa e não o imóvel.

O promotor de Justiça José Carlos Blat, do Ministério Público Estadual de São Paulo, afirmou em entrevista na edição desta quinta-feira (28) do Jornal Nacional que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva era proprietário de um apartamento triplex no edifício Solaris, em Guarujá.

Tanto o Ministério Público paulista quanto o Ministério Público Federal apuram se Lula ocultou esse imóvel de seu patrimônio. A defesa do ex-presidente argumenta que ele nunca foi dono do apartamento, mas somente proprietário de cotas de um projeto da Bancoop,  cooperativa do Sindicato dos Bancários de São Paulo. A cooperativa se tornou insolvente e transferiu imóveis inacabados para a construtora OAS, investigada na Operação Lava Jato.

“O ex-presidente Lula tinha uma cota de um projeto da Bancop e depois, quando este projeto foi transferido para uma outra empresa, ele tinha duas opções: pedir o resgate da cota ou usar a cota para a compra de um imóvel no edifício Solaris. E ele fez a opção – a família fez a opção – pelo resgate da cota”, afirmou Cristiano Zanin Martins, advogado do ex-presidente.

O promotor José Carlos Blat contesta essa versão. Segundo ele, na Bancoop, não existem cotas.

“A Bancoop não é um consórcio. A Bancoop, ela oferecia unidades habitacionais. Todos, sem exceção, compraram apartamentos ou casas e, ao longo do tempo, pagaram as prestações devidas à Bancoop, que colocou um sobrepreço indevido, ilegal. Então, todas as pessoas que compraram da Bancoop compraram coisas concretas, ou seja, unidades habitacionais, apartamentos e casas. Não existem cotas da Bancoop”, declarou.

O advogado Cristiano Zanin Martins afirmou que toda cooperativa funciona por meio de cotas, que, no caso de cooperativas habitacionais como a Bancoop, os associados se reúnem pra realizar projetos residenciais a um custo mais baixo e que, ao final da obra, cada cota passa a equivaler a uma unidade, que pode ou não estar pré-definida.

A 22ª fase da Operação Lava Jato, deflagrada nesta quarta-feira (27) e intitulada Triplo X, teve como alvo o edifício Solaris. Segundo os procuradores da República que integram a força-tarefa da Lava Jato no Paraná, todos os imóveis desse edifício estão sob investigação. Em paralelo, está em andamento outra investigação, do Ministério Público Estadual de São Paulo.

O MP-SP ouviu pessoas classificadas como “vítimas” do “golpe da Bancoop”. “Os meus filhos não têm onde ficar, o senhor está entendendo?”, disse Cirlei Gomes Filho a um promotor.

A cooperativa do Sindicato dos Bancários de São Paulo foi criada em 1996 para construir casas e apartamentos a preço de custo.

De acordo com a investigação, a Bancoop não conseguiu levar adiante 15 empreendimentos e teve uma série de problemas com outros 25. Nas contas dos promotores, 6 mil cooperados foram prejudicados.

Segundo o Ministério Público, o dinheiro que deveria ter sido aplicado na construção dos imóveis foi desviado pra financiar campanhas eleitorais do PT. O ex-tesoureiro do partido João Vaccari Neto era o presidente da cooperativa. Ele está preso no Paraná depois de ter sido condenado no processo da Operação Lava Jato.

“Confirmamos, isso inclusive é objeto de outro processo criminal em curso. Que a Bancoop era efetivamente uma organização criminosa, se transformou num balcão de negócios e que foram desviados quase R$ 100 milhões naquela época para abastecer campanhas político-partidárias, caixa 2, bem como também para dar estrutura de empresas fantasmas e obviamente beneficiar pessoas que estavam de alguma forma atreladas ao Partido dos Trabalhadores”, afirmou o promotor José Carlos Blat.

De acordo com a investigação do Ministério Público, no fim de 2009, nove empreendimentos inacabados da Bancoop foram assumidos pela construtora OAS. Um deles é justamente o prédio onde o ex-presidente Lula teria um imóvel e onde Vaccari, em depoimento, disse ser proprietário de um apartamento.

A Bancoop informou que a transferência de empreeendimentos para outras construtoras foi resultado de um acordo com o Ministério Público e que não tem mais qualquer relação com esses empreendimentos. O PT afirmou que todas as doações que o partido recebeu foram legais e declaradas à Justiça Eleitoral. A OAS não quis se manifestar.

Veja Também