Presidente da Urihi Associação Yanomami, Júnior Hekurari, acredita que o incêndio ocorreu em retaliação as operações de combate ao garimpo ilegal do Ibama, com participação da Polícia Federal. Incêndio aconteceu nessa terça-feira (6), na região do Homoxi.
A Unidade Básica de Saúde Indígena de Homoxi (UBSI), na região de Homoxi, na Terra Indígena Yanomami, foi incendiada na tarde dessa terça-feira (6). A Urihi Associação Yanomami, que tem como presidente Júnior Hekurari Yanomami — chefe do Conselho Distrital de Saúde Indígena Yanomami e Ye’kwana (Condisi-YY) — afirma que o incêndio foi causado por garimpeiros ilegais.
A Hutukara Associação Yanomami, mais representativa organização do povo Yanomami, divulgou imagens do posto queimado e disse que o incêndio foi causado pelos invasores. “Os garimpeiros ilegal queimaram o nosso posto de saúde Yanomami na região do Homoxi!”, afirmou Dário Kopenawa, vice-presidente da Hutukara.
Procurada, a Polícia Federal informou que “não comenta acerca de eventuais investigações em andamento”. Já o Ministério Público Federal (MPF) e o Ministério da Saúde não se pronunciaram até a publicação da matéria.
A suspeita de Hekurari é que o incêndio ocorreu em retaliação à operação Guardiões Bioma, do Ibama, com participação da Polícia Federal, que combate a extração ilegal de minérios e outros crimes ambientais na Terra Indígena. A fiscalização está em curso e já queimou aviões usados por garimpeiros.
Conforme a Urihi, na segunda-feira (5) fiscais estiveram na região de Homoxi e destruíram equipamentos de garimpeiros. Após isso, o posto de saúde foi incendiado.
“Houve uma operação do Ibama e da Polícia Federal lá no Homoxi, onde queimaram máquinas e helicópteros dos garimpeiros. E aí, dias depois, esse posto da unidade saúde apareceu queimado”, disse Hekurari, acrescentando que acredita “muito que foram os próprios garimpeiros que tocaram fogo na unidade, por raiva” e que os garimpeiros têm divulgado que “foi o Ibama [que queimou]”.
A unidade é a mesma que, em março deste ano, estava com a estrutura ameaçada, devido à proximidade de uma cratera a céu aberto causada pelo avanço da atividade garimpeira (veja abaixo).
A UBSI de Homoxi era a única da região e atendia cerca de 700 indígenas. A área é de difícil acesso e só se chega de avião. Ela está desativada desde 2021, quando começou a ser alvo de ataques, de acordo com Hekurari.
“É uma série de acontecimentos e prejuízos a vida da população Yanomami, e as mínimas ações não estão surtindo efeitos positivos. É preciso garantir qualidade de vida ao usuário indígena bem como salvaguardar seus Direitos garantidos na Constituição, dentro do que é possível e exequível neste momento”, diz a denúncia.
A organização deve enviar um ofício sobre o caso ao MPF e a PF ainda nesta quarta-feira (7).
Terra Yanomami
Maior reserva indígena do Brasil, a Terra Yanomami tem quase 10 milhões de hectares entre os estados de Roraima e Amazonas, e parte da Venezuela. Cerca de 30 mil indígenas vivem na região em mais de 370 comunidades.
A área é alvo do garimpo ilegal de ouro desde a década de 1980. Mas, nos últimos anos, essa busca pelo minério se intensificou, causando além de conflitos armados, a degradação da floresta e ameaça a saúde dos indígenas.
A invasão garimpeira causa a contaminação dos rios, o que reflete na saúde dos Yanomami, principalmente crianças, que enfrentam quadros severos de desnutrição por conta do escasseamento dos alimentos.