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Por que a 2ª onda de coronavírus é o maior temor do mercado financeiro?

Aumento do número de casos na Ásia e nos Estados Unidos, após afrouxamento de isolamento social, causa preocupação entre investidores

Pequim: novos casos de covid-19 reaparecem, após afrouxamento do isolamento social (Kyodo News/Getty Images for National Geographic Magazine/Getty Images)

Os processos de reabertura das economias provocaram euforia entre os investidores entre abril e maio, fazendo com que as bolsas de valores disparassem no mundo inteiro. No entanto, o surgimento de novos casos de coronavírus em locais que haviam obtido um maior controle sobre a doença aumenta o temor dos investidores sobre uma segunda onda de contaminação.

Na China, primeiro epicentro da doença, focos de covid-19 voltaram a aparecer. Em Pequim, escolas tiveram que ser novamente fechadas e, nesta quarta-feira, 17, mais de mil voos foram cancelados, após serem registrados 137 novos casos em seis dias.

Nos Estados Unidos, que têm mais de 2 milhões de infectados e quase 120 mil mortos pela doença, seis estados, incluindo Texas e Flórida, tiveram recorde de novos casos na terça-feira, 16, após afrouxarem as quarentenas. Para especialistas, como Mike Ryan, chefe do programa de emergências da Organização Mundial da Saúde, uma segunda onda pode ser “preocupante”. Este também tem sido a maior temor do mercado financeiro.

“Parte do movimento de alta ocorreu porque se estava imaginando uma recuperação econômica em ‘V’. Uma segunda onda pode retardar esse movimento. Se o crescimento do número de casos exigir a volta de um isolamento social mais rigoroso, pode haver um movimento de realização mais forte na bolsa e trazer bastante volatilidade”, disse Marcos Lorio, economista-chefe da Integral Investimentos.

De acordo com Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), uma segunda onda de contaminação faria com que o PIB mundial encolhesse 7,6% e limitaria a recuperação econômica de 2021 a 2,8%. Sem ela, a expectativa é de contração de 6% neste ano e crescimento de 5,2% no ano que vem. Para a OCDE, os estragos de uma segunda onda no Brasil pode ser ainda maior que no resto do mundo, resultando em retração de 9% do PIB.

Mas embora a preocupação sobre a segunda onda seja unânime no mercado, seus impactos nas ações são quase tão incertos quanto a dinâmica do vírus. Para parcela do mercado, os estímulos de governos e bancos centrais e devem ser suficientes para limitar as perdas. Outra parte vê a possibilidade de as bolsas caírem a ponto de retornarem para os menores patamares do ano.

Pelas projeções da gestora Trafalgar Investimentos, uma segunda onda de contaminação pode levar o Ibovespa até os 55 mil pontos, devido à deterioração econômica – cenário a que atribuem probabilidade de 40%. “[Nesse caso,] a dívida pública brasileira, que já não é saudável, pode ultrapassar 100%, aumentando a crise fiscal no país”, disse Guilherme Loureiro, economista-chefe da Trafalgar.

Loureiro, porém, considera como mais provável o cenário de uma recuperação em V, com forte retomada econômica já no segundo semestre. “É pouco provável que volte aos patamares pré-crise, mas alguns dados econômicos caíram muito e também estão voltando agora.”

Arthur Mota, economista da Exame Research, vê a segunda onda de coronavírus como a principal ameaça às bolsas, mas acredita que a chance de ela ocorrer com a mesma intensidade da primeira seja baixa. “Não acho que vai explodir o número de casos. Na China, já fizeram essa contenção de forma rápida e as máscaras têm um efeito importante na contenção da contaminação”, disse.

Para Mota, contudo, a economia também não deve se recuperar de forma acerada, o que poderia frustar as expectativas de investidores mais otimistas. “Principalmente o setor de serviços não deve voltar para o nível pré-covid tão rápido. Quando o Federal Reserve anuncia que pretende manter o juros próximo de zero até 2022, ele está sinalizando que a taxa de crescimento vai ser bastante fraca a ponto de não gerar inflação”

Já Jefferson Laatus, estrategista-chefe do Grupo Laatus, vê a possibilidade de uma nova onda de contaminação ser ainda maior do que o mercado espera. “As pessoas vão relaxando com a abertura, passa a não usar tanta máscara, álcool em gel. Dependendo do tamanho da onda, fecharia tudo de uma forma meio complicada e as empresas entrariam em um aperto muito maior. Aí o mercado poderia reagir muito pior do que no primeiro movimento”, afirmou.

A visão contrasta com a de Lorio, da Integral, que acredita que, mesmo com novo lockdown nas principais economias do mundo, o Ibovespa operaria em bandas mais largas, mas não abaixo de 80 mil pontos.

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