Manifestações começaram em março deste ano como oposição a polêmica proposta de lei de extradição
Pequim – O governo da China acusou nesta terça-feira os manifestantes que protestam há mais de 13 semanas em Hong Kong de tentarem derrubar o Executivo local para tomar o controle da cidade e transformá-la em uma “entidade independente”.
“Eles querem causar instabilidade no governo da região autônoma especial de Hong Kong e roubar seus direitos para transformar Hong Kong em uma entidade política independente ou semi-independente”, disse hoje, em entrevista coletiva, Yang Guang, porta-voz do Gabinete de Assuntos de Hong Kong e Macau, órgão do Conselho de Estado.
Eles querem exercer plena autoridade na região de Hong Kong e trabalhar contra o governo chinês. É o momento de defender o ‘um país, dois sistemas’ (princípio orientador pelo qual a cidade mantém alguma autonomia em relação ao resto da China) e a paz e estabilidade em Hong Kong “, ressaltou o porta-voz, classificando os protestos como “intimidação e sequestro político”.
Durante seu discurso, Yang renovou seu apoio à chefe do governo local, Carrie Lam, e a polícia, em relação a uma situação que “ainda é complexa”, já que “as ações violentas ainda não estão totalmente sob controle”.
Diante da possibilidade do governo local recorrer, conforme estabelecido pela Lei Básica (Constituição de Hong Kong), para pedir ajuda às tropas do Exército chinês alojadas em Hong Kong, Yang limitou-se a lembrar que “as instituições chinesas em Hong Kong, incluindo o gabinete do Ministério das Relações Exteriores e as tropas, representam a dignidade e soberania do governo central”.
“É algo que não pode ser questionado de forma alguma”, disse.
Com isso, a porta-voz do Escritório, Xu Luying, acrescentou que Pequim apoia que as autoridades de Hong Kong “usem todos os meios para acabar com a violência”.
Questionado novamente sobre as alegações das autoridades de que os protestos em Hong Kong são uma “revolução de cores” instigada por forças estrangeiras, Yang respondeu que se trata de algo “cada vez mais óbvia”, já que “alguns arruaceiros cantam slogans pedindo a independência de Hong Kong”, e “pedem uma aliança com os Estados Unidos e Reino Unido”.
As manifestações começaram em março deste ano como oposição a polêmica proposta de lei de extradição que, segundo advogados e ativistas, poderia ter permitido a Pequim acessar refugiados “fugitivos” no território de Hong Kong.
Chefe de Hong Kong nega renúncia
A chefe de Governo de Hong Kong, Carrie Lam, afirmou nesta terça-feira que não tem a intenção de renunciar, após a divulgação de uma gravação de áudio na qual dizia que queria deixar o cargo e pedir perdão por provocar os distúrbios que abalam a cidade.
Após a declaração, o governo chinês afirmou que apoia Lam.
“Apoiamos firmemente a chefe do Executivo de Hong Kong, Carrie Lam, à frente do governo da região administrativa especial”, declarou Yang Guang, porta-voz do Escritório de Assuntos de Hong Kong e Macau do governo chinês.
A ex-colônia britânica é cenário há três meses de manifestações pró-democracia, desencadeadas pela oposição a um projeto de lei que permitiria extradições à China continental, mas que se transformaram em um movimento pró-democracia mais amplo.
As manifestações provocaram alguns confrontos violentos entre os participantes e a polícia e se tornaram a crise mais grave em Hong Kong desde sua devolução à China em 1997.
“Ao longo dos últimos três meses, eu sempre dizia a mim mesma que deveria ficar, junto com minha equipe, para ajudar Hong Kong”, disse Lam em uma entrevista coletiva.
A chefe do Executivo local afirmou que “nem sequer contemplou” a opção de abordar sua renúncia com o governo chinês, que concede a Hong Kong uma certa autonomia, mas que no essencial é responsável pelo território.
Lam fez as declarações depois que a agência de notícias Reuters divulgou uma gravação de áudio na qual a chefe do Executivo declarou a líderes empresariais na semana passada que queria renunciar e assumir a responsabilidade pelos distúrbios.
“É imperdoável que um chefe de Governo tenha provocado tal caos em Hong Kong”, Lam afirma na gravação.
“Se tiver a opção, a primeira coisa a fazer é renunciar, depois de apresentar um profundo pedido de desculpa”, completa.
Lam também destaca que tem margem “muito limitada” para resolver a crise porque se tornou uma questão de segurança nacional e soberania para Pequim.
A chefe do Executivo considerou o vazamento da gravação “inaceitável” e rebateu as acusações de que teria orquestrado a situação.
“O conflito em que eu quero renunciar mas não posso não existe”, disse.
As manifestações do fim de semana passado provocaram alguns dos momentos de maior violência da crise. Os manifestantes jogaram tijolos e bombas incendiárias contra a polícia, que respondeu com gás lacrimogêneo e jatos de água.
“Acredito que ela queria que a gravação fosse revelada, quer dar a impressão de que é inocente e que sente muito pelo que acontece”, declarou Bonnie Leung, representante da Frente Cívica de Direitos Humanos, que organiza desde junho algumas das maiores manifestações da história da cidade.
“Ou Carrie Lam mentiu aos empresários na semana passada ou mentiu para os cidadãos de Hong Kong esta manhã”, afirmou o deputado pró-democracia Lam Cheuk-ting.
Desde o início dos protestos, em junho, mais de 1.100 pessoas foram detidas.
A China respondeu à crise com ameaças e intimidação. Alguns meios de comunicação estatais exibiram vídeos que mostram as forças de segurança do país na fronteira com Hong Kong.