Às vésperas do encontro, ministro do Meio Ambiente diz que há desinformações sendo repetidas e que é preciso destacar oportunidades de investimento no país
O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, afirmou que o Brasil quer “desmistificar” para a comunidade internacional, durante a Assembleia-Geral das Nações Unidas (ONU), que houve uma flexibilização da legislação ambiental durante o governo Bolsonaro. Segundo ele, é preciso esclarecer a situação da Amazônia e exaltar as oportunidades de investimento no País.
“(Queremos) Desmistificar essa falsa ideia de que houve um desmonte do sistema ambiental, de que houve flexibilização da legislação ou da fiscalização, de que o Brasil não se importa com meio ambiente. Não é verdade. Temos que esclarecer tudo isso para que essas mentiras ou desinformações não continuem a ser repetidas”, disse o ministro, que recebeu o jornal O Estado de S. Paulo em um café no hotel onde está hospedado em Nova York.
A presença do ministro coincide com a greve do clima, que mobilizou milhares de jovens em 130 países na sexta-feira, e permeia a Cúpula do Clima, que acontece nesta segunda-feira, 23, e a Assembleia-Geral das Nações Unidas, que será aberta na terça-feira, 24, com discurso do presidente Jair Bolsonaro.
Neste domingo, 22, um grupo de empresários brasileiros e organizações não governamentais promoveram em Nova York um evento no qual lançaram um desafio para construir o que chamam de “Amazônia Possível”. O evento, voltado para pedir que o setor empresarial se comprometa a combater crimes ambientais em suas cadeias – a fim de conter o desmatamento na Amazônia – teve a presença de Salles. O ministro pediu para participar da discussão.
A presença do governo federal não estava prevista, mas Salles pediu para participar. Por uma hora e meia, escutou e tomou notas do que disseram pessoas como o empresário Guilherme Leal, cofundador da Natura e integrante do Conselho do Pacto Global da ONU, Marcello Brito, presidente da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), e o cientista Carlos Nobre, da USP.
“Monalisa”
Ao final do evento, Salles foi convidado a se pronunciar. André Guimarães, do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia e facilitador da Coalizão Brasil Clima Florestas e Agricultura, que mediou o diálogo, pediu mensagens “inspiradoras” do ministro. Salles lembrou declarações dos participantes, mas não chegou a se comprometer com soluções.
“Vamos salvar a Monalisa como fazer mais, melhor”, disse em referência a uma fala de Denise Hills, diretora de Sustentabilidade da Natura. Ela afirmou que o País está “queimando” sua “Monalisa”, ao dizer que a Amazônia é o tesouro do Brasil. O ministro também disse que a chave é conseguir ambas as coisas: proteção do ambiente com desenvolvimento.
Durante sua manifestação, alguns participantes chegaram a sair da sala em protesto e dois jovens da organização Engajamundo fizeram uma manifestação silenciosa com máscaras no rosto que diziam: “Salles, ecocida”.
Salles disse ao Estado que se tivesse espaço, gostaria de poder falar na Cúpula do Clima da ONU. O programa não inclui o Brasil entre os países que terão direito a discursar. A cúpula foi convocada pelo secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, para que os países sejam mais ambiciosos nos projetos de preservação.
O presidente Jair Bolsonaro desembarca na segunda-feira às 16h40 (horário de Brasília) em Nova York. Até o momento, a agenda do presidente está limitada à realização do discurso, marcado para as 10h de terça. A indígena Ysani Kalapalo, moradora de uma aldeia no Parque Indígena do Xingu, no Mato Grosso, irá acompanhar a comitiva brasileira. Ela foi convidada pelo presidente para viajar com a comitiva do governo aos EUA.
De acordo com o Itamaraty, ainda não está na agenda oficial um jantar com o presidente americano, Donald Trump, anunciado por Bolsonaro. O americano receberá chefes de Estado em um jantar na noite de segunda-feira.
O presidente brasileiro ainda se recupera de uma cirurgia feita no último dia 9. A equipe médica do Planalto acompanhará Bolsonaro na viagem.