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Os riscos de uma recessão global e como isso pode mexer com o Brasil

Sinais negativos nas maiores economias do mundo e guerra comercial estão gerando tensão nos mercados e o Brasil não ficou de fora

Globo com dólares ao fundo. Economia global. Mike Kemp / Getty Images (Mike Kemp/Getty Images)

São Paulo – Dólar acima dos 4 reais. Bolsa abaixo dos 100 mil pontos. O cenário assustador no mercado brasileiro é em grande parte reflexo de uma tensão global.

Todas as principais bolsas do mundo acumulam quedas em agosto até agora, indo de -1,79%, no índice chinês Shangai até -6,09% no índice FTSE 100, do Reino Unido.

Além dos fatores internos, o temor é que uma nova recessão esteja no horizonte. Em julho, o Fundo Monetário Internacional (FMI) reviu sua estimativa do PIB global para 2019 de 3,3% para 3,2%. O número fica perigosamente perto dos 3%, abaixo do qual se configura uma recessão.

Sinais vermelhos estão se acendendo em várias economias. Um dos mais relevantes é a inversão, no último dia 14, na curva dos juros dos títulos da dívida pública de curto e longo prazo dos Estados Unidos.

Em condições normais, é de se esperar que o retorno de um investimento mais longo seja maior do que o retorno de um investimento mais curto. Se o prêmio do título de curto prazo supera o do longo prazo, isso significa que há um cálculo de que o crescimento vai ser mais baixo no futuro.

A inversão da curva assusta porque também antecedeu as últimas sete recessões americanas: a última foi há 12 anos, um ano antes da quebradeira financeira que gerou a crise de 2008, mas já houve alarmes falsos.

Vários especialistas apontam a atual guerra comercial entre EUA e China, as duas maiores economias do planeta, como um dos principais fatores para a falta de confiança.

O Federal Reserve ressaltou nessa semana que a incerteza comercial, junto com o fraco crescimento mundial, pode levar a uma desaceleração da economia americana.

Isso já está acontecendo na China, que anunciou o ritmo de crescimento mais baixo dos últimos 27 anos. O país está consumindo e exportando menos em parte por causa do conflito com os americanos.

Na Europa, os dirigentes discutem possíveis estímulos à atividade. A intenção foi confirmada pela ata do Banco Central Europeu (BCE) da reunião de julho divulgada na quinta-feira (22).

A Alemanha, maior economia da Europa e conhecida pela obsessão com um orçamento equilibrado, está dando sinais de que vai abrir os cofres diante do risco de já ter entrado em recessão. O resultado do segundo trimestre sai na terça-feira.

“A Alemanha é uma máquina exportadora e, entre os países da Europa, é o que mais está sofrendo com a desaceleração do comércio”, diz o professor de macroeconomia do Insper Gino Olivares.

Risco de recessão

A avaliação de que uma desaceleração mais intensa está na esquina é controversa. O Itaú Unibanco avalia o risco de uma recessão global como baixo pois, se de um lado há uma comércio mais fraco, de outro há sinais positivos, como um mercado de trabalho muito aquecido nos EUA.

“Isso significa que o consumidor norte-americano vai segurando as pontas”, disse o economista-chefe da instituição, Mário Mesquita a jornalistas nessa semana.

“Mesmo na Alemanha, onde o setor de manufaturas também está contraindo há alguns meses, o de serviço se mantém razoavelmente bem”, acrescenta Gino Olivares.

Ele também não acredita que o mundo viverá uma recessão no médio prazo. As expansões acabam, explica Olivares, quando existe um fator que dispara um ajuste.

“Na maioria dos casos, esse fator é a inflação”, diz ele. Mas quase todos os países do mundo estão com a inflação baixa; as exceções pontuais, como Argentina e Venezuela, são aqueles com crises internas.

Dentre os países que praticam meta de inflação o único que ainda não cortou os juros recentemente foi a Colômbia, que deve anunciar corte até o fim do ano.

A inflação baixa traz uma preocupação pelo outro lado: uma década de juros baixos depois, o arsenal dos bancos centrais já foi utilizado e a inflação nunca subiu muito, o que é inédito. Há uma ansiedade sobre qual é o poder de fogo restante para a política monetária no caso de um tombo mais sério.

E o Brasil com isso?

Por ser um grande exportador de commodities, como soja e minério de ferro, o Brasil também sofre com a desaceleração do comércio. A China é o principal destino dos envios brasileiros e em segundo lugar vêm os EUA.

“Só a perspectiva de menor crescimento mundial já influencia o preço dos insumos e a quantidade que é exportada”, explica Mauro Rochlin, economista e professor dos MBAs da FGV.

O segundo tipo de impacto que o Brasil sofre com a desaceleração é por meio do fluxo de capitais estrangeiros.

“Estamos falando tanto do capital que é direcionado para o setor produtivo, quanto do capital financeiro, como o dinheiro que entra na bolsa de valores”, diz Rochlin.

O desafio brasileiro, segundo Gino, é que o Estado está sobrecarregado financeiramente e endividado e portanto precisaria ter seu crescimento puxado pelo investimento privado, que dá sinais de fraqueza.

Com restrição ao gasto, o Itaú acredita que o Banco Central do Brasil ainda tem espaço para reagir a uma crise externa reduzindo os juros.

“Não acho que estamos em uma crise internacional, mas isso pode acontecer, e o BC já tem condições de reagir a uma piora no ambiente externo, o que ele já começou a fazer”,diz Mesquita.

Na semana passada, em evento do Santander com empresários, Guedes também reforçou que o Brasil está preparado para a turbulência global.

“Durante os últimos 15 anos o mundo estava crescendo aceleradamente e nós não estávamos participando disso. Agora pode ser o contrário”, disse o ministro.

“Nós não devemos temer o efeito contágio, o Brasil tem uma dinâmica própria. É uma ventania que incomoda um pouquinho”, completou.

O termo gerou comparações imediatas com a “marolinha” citada por Lula quando estourava a crise mundial em 2008. Se agora é vento ou furacão, só tempo dirá.

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