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O rei do gado agora também é rei do frango

Líder mundial do setor de proteínas animais e maior produtora de carne bovina do mundo, a JBS deu ontem importante passo para consolidar sua posição também no segmento de frango, suínos e alimentos industrializados. Com o acordo assinado com a Marfrig para a compra da marca Seara, a empresa assume a liderança mundial do segmento de aves. A companhia, que já detinha a liderança no mercado internacional com a americana Pilgrim”s, mais do que duplica sua capacidade diária de processamento de aves no país.
O negócio, confirmado ontem pela JBS e pela Marfrig, envolverá a transferência de R$ 5,85 bilhões em dívidas da vendedora para a compradorae depende de aprovação do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).

Com a aquisição dos 30 frigoríficos da Seara, a empresa liderada por Wesley Batista amplia sua capacidade de abate de aves de 1,34 milhões para 3 milhões de aves ao dia. Além disso, a companhia dará um salto na sua produção de alimentos industrializados, que passa a contar com capacidade de processamento de 80 mil toneladas mensais de produtos com maior valor agregado (e maior lucratividade), como pratos congelados, pizza, hambúrguer e salsicha. A empresa praticamente estreia nesse segmento, apesar de atuar com marcas locais de embutidos de frango, nuggets, salsichas e patês na região Sul do país, onde aluga os frigoríficos da Frangosul, controlada pelo grupo francês Doux.

A operação foi considerada positiva para a Marfrig, que vinha enfrentando problemas por conta do alto endividamento. As ações da companhia tiveram alta de 6,31% no pregão da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa). Já as ações da JBS caíram 6,45%, com as perspectivas de aumento da dívida já considerada alta – de R$ 15,6 bilhões, no fechamento do primeiro trimestre. Sócio nas duas companhias (com 19,9% da Marfrig e 23% da JBS), o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) divulgou nota informando que aprova o negócio.

“A Marfrig vinha comprando ativos de forma muto agressiva e perdeu o controle sobre seu endividamento”, comentou o analista-chefe da corretora SLW, Pedro Galdi. “As despesas financeiras estavam comendo o resultado da empresa”, completa. A empresa fechou o primeiro trimestre com uma dívida líquida de R$ 9,8 bilhões, o equivalente a 4,4 vezes a geração de caixa trimestral, e um resultado financeiro negativo de R$ 360 milhões. “Praticamente zeramos a nossa dívida bancária. Todo o endividamento da Marfrig, a partir de agora, estará no mercado de capitais”, disse, em teleconferência, o presidente da Seara Foods, Sergio Rial, que deve assumir o comando da Marfrig.

O grande endividamento é resultado de 18 aquisições desde o lançamento de ações em bolsa, em 2007, sem ganhos de sinergia equivalentes. A Seara foi comprada da Bunge em 2009 pelo equivalente a US$ 900 milhões, garantindo à companhia acesso ao mercado de aves. A situação da empresa piorou com a aquisição, no final do ano passado, de uma série de ativos que a BR Foods teve de vender por determinação do Cade.

“A empresa já vinha sinalizando com venda de ativos, para reduzir endividamento e trabalhar mercados prioritários”, diz o presidente da União Brasileira de Avicultura (Ubabef), Francisco Turra. Com a venda da Seara, a Marfrig se livra de 60% de sua dívida. Ao mesmo tempo, abre mão de 30% de sua receita, voltando a se concentrar no segmento de carne bovina. Para especialistas, a impressão é de que a Marfrig “deu um passo maior do que as pernas” com as últimas aquisições.

Segundo a Ubabef, a operação concentra 70% das exportações nacionais de carne de aves nas mãos de JBS e BRF. A Seara foi a terceira maior exportadora de alimentos no primeiro quadrimestre, com receita de R$ 543,1 milhões – atrás apenas da BRF e JBS.

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