A ausência de mulheres no governo provisório é um mau sinal, assim como a volta do temido Ministério da Promoção da Virtude e da Prevenção do Vício
Um mês e meio depois de assumir o poder no Afeganistão, os talibãs permanecem ambíguos sobre seu programa político, mas a população e a comunidade internacional temem a mesma brutalidade e radicalismo que exerceram em seu regime anterior (1996-2001)
Direitos das mulheres
É a questão fundamental que pode determinar se o governo talibã será reconhecido pela comunidade internacional, passo essencial para retomar uma ajuda econômica, atualmente suspensa, da qual depende o Afeganistão.
No regime anterior, as mulheres não podiam trabalhar ou estudar, com raras exceções.
Depois de assumirem o poder em 15 de agosto, os talibãs garantem que as mulheres serão respeitadas de acordo com a Sharia, a lei islâmica, mas sem dar mais detalhes.
Afegãs que estudam em universidades particulares foram autorizadas a retornar, mas não em turmas mistas, e totalmente cobertas com um véu, com exceção dos olhos, assim como as meninas do ensino médio.
Os talibãs afirmaram que as outras alunas poderiam voltar para a escola, mas não fixou um prazo.
A ausência de mulheres no governo provisório é um mau sinal, assim como a volta do temido Ministério da Promoção da Virtude e da Prevenção do Vício.
Imprensa
Ao chegar ao poder, o Talibã garantiu que jornalistas, incluindo mulheres, poderiam continuar a trabalhar livremente.
“Respeitaremos a liberdade de imprensa” que “permite corrigir os erros dos dirigentes”, garantiu o seu porta-voz Zabihullah Mujahid, à Repórteres Sem Fronteiras (RSF).
Semanas depois, o tom mudou. De acordo com a RSF, o Talibã anunciou 11 regras que os jornalistas afegãos devem respeitar, incluindo a proibição de transmitir “tópicos anti-islâmicos” ou “insultos a figuras públicas”.
Tudo isso abre as portas “para a censura”, segundo a RSF. De qualquer forma, vários jornalistas fugiram ou se esconderam depois que o Talibã assumiu o poder.
Cultura
Em seu regime anterior, o Talibã aplicou uma versão rigorosa da Sharia, proibindo jogos, música, fotos e televisão.
“A música é proibida pelo Islã, mas esperamos que os afegãos não façam certas coisas e que não precisaremos obrigá-los a não não fazê-las”, disse Mujahid ao New York Times.
No entanto, moradores acusaram os talibãs de terem assassinado uma cantora folk no Andarab (Nordeste) no final de agosto.
Sobre o patrimônio, fonte de preocupação após a destruição das estátuas de Buda por islâmicos em Bamiyan em 2001, o Talibã não faz nenhuma declaração oficial desde fevereiro, quando alegou querer preservá-lo.
Economia
É um dos desafios mais urgentes para o regime do Talibã. A economia do país emergiu sem derramamento de sangue após décadas de guerra, e a suspensão da ajuda internacional pode mergulhar o país em uma catástrofe econômica e humanitária. O programa do Talibã é muito vago.
“Vamos trabalhar nossos recursos naturais para revitalizar nossa economia (…)”, disse apenas seu porta-voz.
Atualmente, não se sabe como o Talibã encontrará maneiras de pagar os salários dos funcionários e manter a infraestrutura vital (água, eletricidade, comunicações) em funcionamento.
Em todo caso, o novo regime afirma ter acabado com a corrupção, sistemática no governo anterior.
Segurança e drogas
O Talibã advertiu que qualquer insurreição seria “severamente reprimida”, uma mensagem dirigida às forças de resistência de Panshir. Eles também disseram que vão erradicar o braço local do grupo jihadista Estado Islâmico, sem maiores detalhes.
Em relação às drogas, Mujahid afirmou que as novas autoridades não transformarão o maior produtor mundial de ópio em um narco-estado.
Esportes
Sob o primeiro regime Talibã, alguns esportes foram autorizados, mas sob estrito controle: apenas os homens podiam jogar ou assistir aos jogos.
O novo responsável pelos esportes do governo, Bashir Ahmad Rustamzai, disse à AFP em meados de setembro que os afegãos podiam praticar “até 400 esportes”, “permitidos pelas leis do Islã”.
Mas ele foi menos claro sobre as mulheres. As falas de outros integrantes do movimento, porém, fazem com que esportistas e atletas do sexo feminino temam um retrocesso. Muitos deles fugiram e se refugiaram no exterior.