Um novo estudo, com base em dados genéticos de 600 000 pessoas, mostra como hábitos estimulados pela configuração do DNA influenciam na longevidade
“A expectativa de vida é um fenômeno estatístico. Mesmo assim, você ainda pode ser atropelado por um ônibus amanhã”, gosta de lembrar o americano Ray Kurzweil, cientista da computação, inventor e futurista — nome dado ao especialista em prever como viveremos daqui a alguns anos, ou mesmo séculos. Um dos focos dos estudos de Kurzweil, financiado por empresas como Google, é justamente mostrar como inovações da ciência de manipulação genética podem estender a vida humana. Para ele, em algumas décadas, o progresso tecnológico levará à seguinte situação: morrer será difícil, ainda que inexorável. O.k., entendido. Mas quão difícil? Se “a expectativa de vida é um fenômeno estatístico”, quais dados devem ser considerados para calcular a jornada? Nos últimos vinte anos, os avanços nas pesquisas genéticas levaram a conclusões precisas sobre qual seria a predisposição de cada indivíduo para viver mais, ou menos.
O mais recente trabalho nessa linha foi publicado em 13 de outubro pela Universidade de Edimburgo, na Escócia. Ele indica o caminho para uma resposta mais objetiva acerca dessa questão, sensível para qualquer um de nós. Baseado em informações genéticas de 600 000 indivíduos, o estudo descobriu, por exemplo, uma alteração que potencializa o efeito negativo de alimentos com o chamado “colesterol ruim”, como frituras (o que não significa, é claro, que essa predisposição de DNA seja sempre a responsável por disparar ou impedir o mau hábito na alimentação). Quem herdou tal configuração hereditária pode ter uma redução de oito meses, em média, na expectativa de vida. Já outra variação genética, ligada a melhoramentos no sistema imunológico, acarreta o oposto: um aumento de cerca de seis meses no tempo de permanência no mundo dos vivos. A pesquisa também ratificou o grau de periculosidade de hábitos como o fumo: o cigarro é responsável por 25% das mortes por doenças cardíacas, 30% por câncer de boca e 90% por câncer de pulmão. De acordo com o estudo escocês, independentemente dos males que se desenvolvem em consequência da nicotina, qualquer pessoa que fumar um maço de cigarros por dia terá sete anos a menos de vida.
“É crucial ressaltar, porém, que, apesar de ser impossível mudar nossa herança genética, não somos escravos dela. Afinal, podemos resistir aos impulsos desenhados em nosso DNA”, afirmou o geneticista escocês Peter Joshi, o principal nome à frente do novo trabalho.