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Número de latrocínios dobrou em 2020 em comparação com o ano passado

Entre segunda-feira e sábado, dois jovens morreram esfaqueados em roubos de celulares, em Taguatinga Sul e na Rodoviária do Plano Piloto. Uma das vítimas era professor e dava aulas no Novo Gama. A outra estudava redes de computação

O professor Herbert Miguel (E) e o universitário Márcio Ribeiro: vítimas de roubo seguido de morte
(foto: Créditos: Facebook/Reprodução)

Dois crimes semelhantes em menos de uma semana provocaram comoção, indignação e questionamentos sobre a segurança no Distrito Federal. O primeiro, na última segunda-feira, aconteceu em uma parada de ônibus de Taguatinga. O professor de história Herbert Silva Miguel, 26 anos, foi esfaqueado seis vezes e teve o celular roubado. Ele morreu no sábado, no Hospital Regional de Santa Maria. O segundo caso ocorreu na madrugada de sábado e resultou na morte do universitário Márcio Ribeiro Rocha Júnior, 28. O jovem também levou uma facada em um assalto, na Plataforma Superior da Rodoviária do Plano Piloto. Ambos sofreram latrocínio (roubo com morte), crime que dobrou na comparação entre janeiro e fevereiro de 2019 e 2020.

 

Amigos e parentes de Herbert tinham esperança de que ele se recuperasse. Mas, depois de entrar em coma, o educador morreu, causando repercussão nas redes sociais. Em função do velório, marcado para hoje, no Cemitério de Taguatinga, os alunos da Escola Municipal Machado de Assis, no Novo Gama (GO), onde o jovem lecionava, não terão aulas. Ônibus ficarão disponíveis para levar os estudantes do 8º e do 9º ano — acompanhados dos responsáveis — para a cerimônia.

Na página do colégio no Facebook, uma postagem lamenta a morte de Herbert: “Lutou como um gigante, mas, infelizmente, não resistiu”. Outras pessoas, entre amigos, familiares e conhecidos, prestaram homenagem ao professor. “Só tenho que agradecer (por) tudo o que você foi para mim. Você tinha o dom de ensinar e me ensinou muitas coisas, mas a coisa mais linda que me ensinou foi o dom da amizade verdadeira. Você é um anjo na minha vida que agora vai cuidar de mim em outro plano. Eu te amo para sempre, meu irmão”, publicou a amiga Ana Luiza Rodrigues.
Ataque
Por volta das 6h30 de segunda-feira, Herbert esperava o ônibus em uma parada, no Pistão Sul, sentido Recanto das Emas. Ele estava a caminho do trabalho, no Novo Gama, a cerca de 40km do centro de Brasília. Enquanto o professor aguardava o segundo coletivo do dia, um homem o abordou, ameaçou-o e exigiu que entregasse o celular. Mesmo cedendo o aparelho e sem reagir, a vítima foi atacada com seis facadas. O assaltante fugiu.
Bombeiros atenderam Herbert e o levaram ao Hospital Regional de Taguatinga (HRT). No entanto, a família dele conseguiu, via judicial, que ele fosse transferido para um leito na unidade de terapia intensiva (UTI). Na madrugada de terça-feira, o professor deu entrada no Hospital Regional de Santa Maria em estado grave. Após quase cinco dias, o educador morreu.
O suspeito de cometer o crime tem 29 anos e foi detido em flagrante, cerca de duas horas depois do assassinato. Ele foi encontrado na QSD 8 de Taguatinga Sul e levado à 12ª DP (Taguatinga Centro). Com ele, policiais militares encontraram uma faca com sangue. No dia seguinte, durante audiência de custódia, a prisão foi convertida em preventiva. O acusado tem passagens por furto e cumpria pena domiciliar.

Revolta em adeus a jovem morto

A família do estudante de redes de computação Márcio Ribeiro Rocha Júnior, 28 anos, tenta entender a crueldade que resultou na morte do jovem. Ontem, o universitário foi enterrado no Cemitério Campo da Esperança da Asa Sul sob clima de revolta. Vítima de latrocínio, ele foi assassinado na Plataforma Superior da Rodoviária do Plano Piloto, na madrugada de sábado. Márcio aguardava um transporte por aplicativo para voltar para casa com a namorada, Thais Araújo, 27. Os dois tiveram os celulares roubados, e o rapaz foi esfaqueado no peito.
O crime aconteceu depois de o casal deixar uma festa no Conic. Enquanto Thais esperava a chegada do veículo, Márcio fez amizade com um homem na saída do evento. Diante da dificuldade de encontrar um motorista que acertasse o endereço, os três caminharam até o terminal. Imagens de câmeras na plataforma superior mostram Márcio e o recém-conhecido conversando, enquanto Thais os acompanha mais atrás, olhando para o celular.
Minutos depois, os dois homens parecem discutir, e Márcio é esfaqueado. Em seguida, outros dois suspeitos aparecem correndo para dar cobertura, e o trio foge, deixando o estudante para trás. Thais, que aguardava o carro a alguns metros de distância, teve o celular roubado e voltou ao encontro do namorado. Nesse momento, ela descobriu que Márcio estava ferido e tentou buscar ajuda.
Thais pediu socorro a um motorista de aplicativo, que parou no ponto de ônibus entre o Conic e o Conjunto Nacional, mas o condutor se recusou a levar Márcio no carro. Mas ligou para uma ambulância, que transportou a vítima para o Hospital de Base. Indignados, parentes do jovem relataram que o veículo de atendimento emergencial não tinha equipamentos e que o socorrista não acompanhou o paciente na parte traseira. Além disso, familiares reclamaram que não havia médicos na unidade de saúde.
O pai do estudante, Márcio Ribeiro Rocha, 55, passou mal no enterro. “Não dá para explicar a perda de um filho. E uma morte por assassinato é indigerível.” Ele também reclamou da falta de segurança na região do Setor de Diversões Sul e considerou um “descaso” o atendimento hospitalar. “Ele vai fazer muita falta. Era um menino de ouro, fácil de fazer amizade. Não precisavam ter matado. Ele morreu porque fez amizade, porque foi gente boa”, lamentou.
Reincidência
A Secretaria de Saúde negou que o socorro tenha sido feito pelo Samu ou por qualquer ambulância da pasta. A assessoria do Instituto de Gestão Estratégica do Distrito Federal (Iges/DF), responsável pela administração do Hospital de Base, informou que Márcio chegou morto ao hospital, mas foi “prontamente atendido” e que a unidade de saúde estava com a equipe “completa de médicos no plantão do fim de semana”.
Em relação ao latrocínio praticado contra o professor Herbert Silva Miguel, a Secretaria de Segurança Pública informou que o policiamento foi intensificado em Taguatinga, e que a Polícia Militar tem realizado “várias operações com foco nas paradas de ônibus”. No entanto, a reincidência “dificulta o trabalho da corporação”. Quanto ao caso de Márcio, a pasta ressaltou que o socorro foi prestado por um carro de “serviço móvel de urgência particular” e que a PM foi acionada formalmente após a chegada da vítima ao hospital. Até o fechamento desta edição, ninguém havia sido detido pelo crime. A corporação acrescentou que o 6º BPM, responsável pela área central de Brasília, realizou mais de 700 prisões em 2019 e, somente neste ano, deteve aproximadamente 200 pessoas ligadas a diversas ocorrências.

 

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