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Mulheres na tecnologia: estereótipos começam na infância

Pesquisa mostra que professores têm preconcepções sobre perfomance de meninas nas disciplinas Stem

Levantamentos de publicações científicas nos principais periódicos do mundo apontam que existe uma grande disparidade entre homens e mulheres. A proporção, segundo a editora especializada Elsevier, é parecida em todos os lugares para que se olhe: apenas 30% dos artigos científicos são assinados por mulheres.

Esse número é ainda menor quando se olha para  as disciplinas conhecidas como Stem (ciências naturais, tecnologia, engenharia e matemática) — no Japão, por exemplo, elas são apenas 15% dos pesquisadores. Afinal, por que há tão poucas mulheres nesses campos do conhecimento? Uma pesquisa realizada em três cidades da América Latina aponta para parte da causa desse problema: é na infância que começam estereótipos e a falta de incentivos para que mulheres sigam nessas carreiras.

O estudo foi realizado entre abril e outubro de 2017 na Cidade do México, São Paulo e Buenos Aires e foi conduzido pela Cadeira Regional Unesco Mulher, Ciência e Tecnologia na América Latina (Flacso) com a associação Chicos.net e apoio da Disney América Latina. A pesquisa mostrou que a maioria dos meninos e meninas entre 6 e 10 anos afirma que as disciplinas Stem são para ambos os sexos. A maioria dos pais e mães também considera que não existem diferenças no desempenho entre meninos e meninas.

No entanto, foram detectados estereótipos mais fortes entre os professores. Em São Paulo, por exemplo, 80% dos professores não percebem diferenças nas salas de aula, mas, nesse mesmo grupo, um em cada três professores acha que existem diferenças entre os sexos. Os meninos, segundo esses professores, se destacam em matemática e informática.

“Há mais estereótipos de gêneros entre os os professores do que entre os pais”, afirma Gloria Bender, diretora da área de gênero, sociedade e políticas da Flacso. Ela alerta que a diferença entre professores e pais é um reflexo do baixo investimento em educação na região, onde professores foram treinados para uma outra época e ainda recebem pouco treinamento pelos governos. “O aluno chega na sala de aula sabendo mais sobre tecnologia do que o professor”.

“Além de servir de alerta, a pesquisa também nos ajuda a desenhar recomendações para melhorar esse cenário”, diz Marcela Czarny, presidente da Chicos.net. Entre as sugestões para os docentes estão o fomento de uma aprendizagem interdisciplinar e a revisão de atitudes, crenças e práticas que mostrem que as disciplinas Stem são complicadas ou para poucos. Os dados da pesquisa apontam que se as medidas não forem tomadas na infância, a diferença entre meninos e meninas nas disciplinas Stem aumenta a partir dos dez anos de idade.

No âmbito familiar, as atitudes também podem ser revistas. As pesquisadoras acreditam que o simples fato de mães jogarem videogame com seus filhos e filhas pode fazer diferença. “Não pode mais haver aquela diferença também sobre presentes de aniversário, com meninas ganhando maquiagem e garotos recebendo tablets”, acredita Czarny.

Do lado da Disney, apoiadora da pesquisa, há também um compromisso de mudança. De certa maneira, esse processo de representação já está nas produções do estúdio. Em Pantera Negra, filme em cartaz nos cinemas, a personagem responsável por inovações e todo o laboratório de tecnologia do super-herói é uma mulher — e negra, como todo o elenco. A recepção do público foi tanta que há montagens na internet em que mostram a personagem na capa da revista Wired, a principal publicação de tecnologia dos Estados Unidos. “A pesquisa também é importante para nossos desenvolvedores de conteúdo garantirem uma só representação do Stem”, diz Belén Urbaneja, diretora de Cidadania Corporativa da Disney.

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