Após explorar o planeta e suas luas por 13 anos, nave da Nasa entrou na atmosfera a 113 mil km/h e foi destruída
De acordo com a agência espacial americana, o final dramático da Cassini foi planejado para que a espaçonave – agora quase sem combustível – não corresse o risco de se chocar com Titã e Enceladus, o que poderia contaminar essas luas de Saturno com algum vestígio remanescente de material biológico da Terra.
O mergulho em Saturno encerrou a última fase da missão, iniciada no dia 22 de abril. Nessa fase, batizada pelos cientistas de “Grand Finale”, a nave realizou um longo passeio em uma região onde nenhuma outra espaçonave jamais chegou: em 22 sobrevoos, a Cassini passou pela brecha de 2,4 mil quilômetros entre os anéis congelados de Saturno.
A previsão de que a Cassini perdesse o contato com a Terra às 8h55 foi confirmada, um minuto depois de entrar na atmosfera de Saturno, a cerca de 1,9 mil quilômetros de altitude em relação à espessa camada de nuvens que cobre o planeta. Durante o mergulho na atmosfera, a velocidade da nave chegou a 113 mil quilômetros por hora.
Quando a espaçonave começou a entrar em contato com a atmosfera de Saturno, seus propulsores de controle de altitude produziram curtos disparos contra o gás do ambiente. Com isso, a antena em forma de disco da nave permaneceu apontada para a Terra para enviar os preciosos dados finais da missão.
À medida que a Cassini se aprofundou na atmosfera, cada vez mais espessa, os propulsores foram forçados a aumentar a atividade, passando de 10% para 100% de sua capacidade no intervalo de um minuto. Com os propulsores disparados na força máxima, a Cassini perdeu a estabilidade e começou a despencar.
Ao perder a comunicação com a Terra, a Cassini esteve a aproximadamente 1,5 mil quilômetros da cobertura de nuvens de Saturno. Nesse ponto, a espaçonave queimou como um meteoro. Cerca de 30 segundos após a perda do sinal, a nave se despedaçou e, em dois minutos, todos seus fragmentos já tinham sido totalmente consumidos pela atmosfera saturnina.
Por causa do tempo que os sinais de rádio levam para chegar de Saturno até a Terra, os eventos ocorreram no planeta dos anéis 83 minutos antes de serem observados. Isso significa que, embora a Cassini tivesse começado a despencar sobre Saturno e perdesse a comunicação às 10h31, o último sinal enviado pela nave só foi recebido na Terra 83 minutos depois.
“O derradeiro sinal da espaçonave será como um eco. Ele irradiará pelo Sistema Solar por cerca de uma hora e meia depois que Cassini já tiver encontrado seu fim. Mesmo sabendo disso, a missão da Cassini não terá chegado ao fim enquanto ainda recebermos seus sinais”, disse Earl Maize, o gerente de projetos da Cassini no Jet Propulsion Laboratory (JPL) da Nasa, em Pasadena, na Califórnia.
Sinais valiosos
A última transmissão da Cassini foi captada pelas antenas da Rede de Espaço Profundo da Nasa, localizada em Canberra, na Austrália. Esses sinais, porém, não incluem imagens, que não foram feitas durante o mergulho em Saturno. A taxa de transmissão de dados necessária para enviar imagens é muito alta, o que poderia impedir o envio dos últimos dados científicos, considerados de alto valor.
As últimas imagens da Cassini foram feitas na quinta-feira, 14 e incluem fotos das luas Titã e Enceladus, de características dos anéis e uma montagem colorida de Saturno e seus anéis, incluindo a aurora no polo norte do planeta. A missão custou US$ 3,9 bilhões (cerca de R$ 12,2 bilhões), com investimentos da Nasa, da Agência Espacial Europeia e da Agência Espacial Italiana.