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‘Mind the gap’: presidente da Petrobras manda recado a Bolsonaro. Defasagem do diesel está em 7%

Apesar dos últimos reajustes de preços, valor praticado no Brasil está abaixo da paridade internacional

RIO – Em sua primeira aparição pública desde que o presidente Jair Bolsonaro anunciou que iria destituí-lo do comando da Petrobras, o executivo Roberto Castello Branco mandou um recado. Em conferência com analistas do mercado financeiro para comentar o lucro recorde da empresa no quarto trimestre, Castello Branco, que está em ‘home office’, usou uma camisa com os famosos dizeres “mind the gap”.

A expressão em inglês, usada nos avisos sonoros do metrô de Londres para alertar os passageiros sobre o vão entre o trem e a plataforma, pode ser traduzida também como “atenção à defasagem”. Em inglês, “gap” é o termo usado para se referir à distância entre dois preços.

E foi justamente a polêmica sobre a defasagem entre os preços dos combustíveis aqui e no exterior um dos principais motivos para a demissão de Castello Branco.

Pressionado pelos caminhoneiros, Bolsonaro se queixava de os preços do diesel e da gasolina terem subido muito no Brasil este ano – o último reajuste foi na sexta-feira passada, mesmo dia em que o presidente da República anunciou a destituição de Castello Branco.

Sete reajustes no ano

O executivo explicou por que decidiu usar a camisa na sua última conferência sobre resultados como presidente da estatal:

— Desde que assumi, em janeiro de 2019, comecei a implementar uma estratégia que foi seguida à risca. Nossa visão estratégica é baseada no lema ‘Mind the gap’, que está escrito na minha camisa. Pedimos emprestado ao undergound  (metrô) de Londres o ‘Mind the gap’ porque, em vez de ter uma visão interna, ou seja, de nos compararmos com nós mesmos, queremos nos comparar com os melhores e ser o melhor ou pelo menos uma das melhores empresas petróleo do mundo.

Apesar dos sete reajustes aplicados pela Petrobras neste ano  – quatro no preço da gasolina e três no do diesel -, os combustíveis ainda acumulam defasagem de 6% e 7% em relação aos valores praticados no mercado internacional, respectivamente.

O cálculo das defasagens é dos consultores Adriano Pires e Pedro Rodrigues, do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE). Segundo Pires, boa parte da pressão vem dos preços do petróleo. Nesta quarta, os contratos futuros do Brent para abril, referência para a Petrobras, fecharam em alta de 2,55%, aos US$ 67,04 o barril. É o maior nível desde janeiro do ano passado.

Preço do petróleo deve subir

Com a alta do preço internacional do petróleo, o receio do mercado é de que essa defasagem se amplie no curto prazo, diante da troca de comando da Petrobras. A tendência, segundo os consultores, é de que o preço do barril aumente ao longo do ano.

Por isso, a defasagem pode seguir acompanhando a estatal ao longo de 2021, a depender da política de preços adotada pelo general Joaquim Silva e Luna.

— Pelo lado da oferta, a Arábia Saudita cortou em fevereiro e março 1 milhão de barris de produção, pressionando o preço para cima. Do outro lado, o avanço da vacinação tende a aumentar a demanda por petróleo — explica Rodrigues.

O economista Edmar Almeida, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), explica que a defasagem da gasolina em relação ao preço de paridade de importação (PPI) tem relação com a desvalorização cambial e o preço do petróleo e seus derivados.

— O investidor está olhando com muita atenção para isso, sendo que nós já estamos com uma defasagem. O governo está colocando o Luna e pediu previsibilidade e transparência nesse processo de precificação do petróleo — diz.

Ele continua:

— Temos que ver o que significa isso e que resposta ele dará. Mas eu acredito que dá para buscar uma fórmula que tenha mais previsibilidade e transparência e que permita que a Petrobras permaneça em alinhamento com os preços dos combustíveis.

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