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Mensagem mostra acordo para ótica vender óculos em posto de saúde

Secretário de Saúde de Capela do Alto fez negociação por Whatsapp.  Loja foi montada no local e pacientes foram atendidos por técnico de ótica.

O secretário de Saúde de Capela do Alto (SP), Alex Ezídio, negou saber que uma ótica vendia óculos dentro de uma unidade de saúde pública da cidade durante mutirão realizado no domingo (21). Uma conversa  mostra Ezídio combinando detalhes da ação com um funcionário da loja por meio de um aplicativo de celular.

Quem realizou atendimentos aos pacientes, que esperavam há anos por uma consulta, não era um oftalmologista, mas sim um optometrista, técnico de uma ótica de São Paulo. Além disso, na ocasião, uma sala da unidade foi transformada em loja de óculos, com autorização da Secretaria de Saúde, segundo funcionários.

Em entrevista à TV TEM, o secretário reconheceu que a ação não era realizada por um médico oftalmologista. “Não sei informar que tipo de consulta foi. O que eles tinham nos passado era que seria uma consulta oftalmológica”, explicou. Ezídio afirmou ainda que não tinha conhecimento sobre a venda dos óculos dentro da unidade hospitalar pública. “Fiquei sabendo desse mostruário na tarde de domingo (21). Não tinha conhecimento sobre os óculos, nem que alguém de uma ótica estaria no município. Não tivemos participação de lucro nenhuma nisso.”

No entanto, na mensagem ele pergunta:
– Após a consulta, os pacientes que precisarem de óculos, eles são obrigados a comprar de vocês?

A mulher responde:
– Não, claro que não. Eles vão receber a receita e estarão livres para comprar onde quiser e quando quiser, pode ficar tranquilo.

Ele pede desculpas pela pergunta e completa:
– Mas é que você sabe como é política, né?

Conversa mostra que secretário de saúde sabia sobre vendas de óculos (Foto: Reprodução/TV TEM)

De volta à fila de espera
Atualmente, 600 pessoas esperam por consulta com um especialista no município. Dessas, 89 chegaram a ser atendidas pelo optometrista. Elas voltaram para a fila de espera do Sistema Único de Saúde (SUS). “Eu vim para fazer um exame. Não falaram que era um técnico, e sim um médico”, afirmou um dos pacientes que preferiu não ter a identidade divulgada.

Pacientes não sabiam que seriam atendidos por funcionário (Foto: Reprodução/TV TEM)

Quem saía com receita de óculos já recebia a oferta de armações e lentes dentro do posto de saúde em uma espécie de loja montada no local.  No local, uma pessoa dizia que o preço era mais barato e aceitava parcelamento em cartão de crédito em até seis vezes.

Os funcionários da ótica explicaram que a Secretaria de Saúde sabia e informaram que estavam acostumados a realizar o mutirão. “O secretário [de saúde] foi até a gente e solicitou a nossa presença para ajudar a população. No entanto, ele falou que estaria liberando três outros espaços dentro de outros postos de saúde para fazer o mesmo trabalho. Ninguém é obrigado a comprar”, disse a promotora da ótica, Luma Beatriz Caiado.

Apesar da autorização, os funcionários da ótica optaram por ir embora, o que revoltou parte dos pacientes que esperava por atendimento. “Estou precisando de uma consulta, mas eles podiam ter avisado que não era um oftalmologista. Tem gente aqui desde às 7h que não foi atendido”, contou a dona de casa Rosângela Aparecida de Almeida.

Conversa mostrou negociação entre secretário de Saúde e ótica (Foto: Reprodução/TV TEM)

Os funcionários do posto fecharam as portas e todos os pacientes foram dispensados. Muita gente não sabia que se tratava de um evento particular combinado com a Secretaria de Saúde. Agora eles voltam para a fila para conseguir atendimento oftalmológico. A dona de casa Maria Genice Alves aguardava há dois anos pela consulta. “Vou pegar a minha guia e vou embora. Não tenho condições de pagar um médico. Mas vou tentar no SUS. De novo”, destacou.

Ezídio explicou ainda que o mutirão havia sido oferecido por um pastor da cidade que participa de um projeto social chamado Boa Visão. A TV TEM entrou em contato com a suposta ONG por meio do contato do secretário. Durante a ligação, o homem que atendeu informou que é caminhoneiro, ajuda uma igreja da cidade e que uma pastora da comunidade cristã ligada as óticas conhece Ezídio. O secretário, porém, nega que conheça funcionários da loja.

Outros três mutirões como esse já estavam marcados, mas segundo o secretário, foram cancelados.

Loja de óculos foi montada em posto de saúde em Capela do Alto (Foto: Reprodução/TV TEM)
Fonte: G1 São Paulo
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