Mapa de hospitalizações desenvolvido pela USP pode servir de base para planos territorializados de combate à pandemia
A covid-19 se espalhou por toda a cidade de São Paulo. Não há um bairro ou região que não registre incidência de casos da doença. É o que mostra o mapeamento de casos de hospitalizações realizado por pesquisadores do LabCidade, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU-USP). Clique aqui para visualizar o mapa.
A equipe de pesquisadores fez o cruzamento de informações do DATASUS sobre hospitalizações por COVID-19 e por Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) com o CEP residencial dos hospitalizados. O trabalho de visualização de dados pode servir como ferramenta para a identificação de estratégias territorializadas no enfrentamento da epidemia.
Os pesquisadores ressalvam que, no dia 5 de junho, o Ministério da Saúde retirou de sua base de dados alguns microdados, como o CEP dos hospitalizados. “Caso permaneça a não divulgação desses dados, o trabalho de análise do LabCidade ficará comprometido”, diz Raquel Rolnik, uma das coordenadoras do LabCidade.
Além do espalhamento da epidemia, a ferramenta do LabCidade mostra a existência de concentrações (ilhas de calor representadas no mapa pela cor roxa), com maior número de hospitalizações em determinadas áreas da metrópole. Os casos de SRAG, que podem indicar possíveis casos de subnotificações de COVID-19, aparecem na cor verde.
“Os dados de hospitalização mostram que a epidemia está espalhada por toda a cidade. Não existe uma região ou bairro que esteja livre. Eles também indicam que uma análise dual ou homogênea não funciona. A questão é mais complexa, pois existem periferias mais e menos atingidas, assim como bairros centrais ou consolidados muito ou pouco afetados. Além disso, as ações para as distintas configurações territoriais precisam ser diferentes, pois as demandas assim como as condições são distintas”, diz Rolnik.
O LabCidade, apoiado pela FAPESP em diferentes estudos sobre planejamento territorial e regulação urbanística, tem acompanhado desde o início da pandemia as formas como o novo coronavírus atinge as cidades – sobretudo a capital paulista –, analisando seus impactos e dimensões urbanos, particularmente em relação ao tema da moradia.
“Estamos observando que cada cidade tem uma disseminação diferente e que cada pedaço da cidade é diferente. Portanto, não dá para trabalhar com uma estratégia única. A estratégia de isolamento em bairros centrais, com uma população de classe média com mais acesso e que pode migrar para o teletrabalho, é completamente diferente da realidade das periferias. Por isso a estratégia de isolamento tem um limite para adesão. Muitas pessoas precisam trabalhar e não foi dada condição para que elas permanecessem em casa. Por outro lado, as condições em casa e bairros também são necessárias”, diz Rolnik à Agência FAPESP.
A despeito de gerar uma série de análises para o enfrentamento da pandemia, o mapa não propicia uma visão geral da situação: contém apenas os dados de hospitalizações por covid-19 e Síndrome Respiratória Aguda Grave para 25 municípios da Região Metropolitana, cujos CEPs são deferentes para cada rua. Além da grande subnotificação, não estão incluídos no mapa dados de assintomáticos, de não hospitalizados e de óbitos em casa.
“Não trabalhamos com os dados gerais, só os que estavam disponíveis. Há uma subnotificação enorme, mas precisamos trabalhar com o que temos, para elaborar com mais precisão estratégias de enfrentamento da doença”, disse Rolnik. “O mapeamento por CEP respeita a privacidade das pessoas e famílias infectadas, na medida em que não fornecemos a geolocalização de cada caso.”