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Mancha de óleo no Nordeste ameaça tartarugas, aves e peixe-boi

Petróleo cru pode afetar a digestão dos animais e o desenvolvimento de algas, essenciais para a cadeia alimentar dessas espécies

Poluição: até o momento, em todo o Nordeste, 16 tartarugas-marinhas, espécie ameaçada de extinção, foram contaminadas pela substância (Julio Deranzani Bicudo/Reuters)

Natal — O espalhamento de óleo no litoral do Nordeste ameaça tartarugas, aves e o peixe-boi marinho, o mamífero dos oceanos mais ameaçado de extinção do Brasil. Segundo especialistas, o petróleo cru pode afetar a digestão dos animais e o desenvolvimento de algas, essenciais para a cadeia alimentar dessas espécies. Além disso, alertam, há possíveis riscos para a saúde humana.

O vazamento do óleo já atinge 138 localidades, nos nove Estados da região. “Sem dúvida é o maior desastre ambiental no litoral do Nordeste do Brasil”, afirma Flávio Lima, coordenador geral do Projeto Cetáceos da Costa Branca da Universidade Estadual de Rio Grande do Norte (UERN).

Ele e sua equipe estão envolvidos no atendimento de animais contaminados pelo óleo, cuja origem é atribuída à Venezuela, segundo análises feitas pela Petrobras.

Até o momento, em todo o Nordeste, 16 tartarugas-marinhas, espécie ameaçada de extinção, foram contaminadas pela substância. Por isso, em Sergipe, o Projeto Tamar deixou de lançar 800 tartarugas no oceano.

“A morte das tartarugas é apenas a parte mais imediata das consequências do vazamento”, avalia Lima. Só dois animais encontrados seguem com vida.

Uma tartaruga-marinha que está no Centro de Descontaminação de Fauna Oleada da UERN, em Mossoró, único local no Nordeste que oferece estrutura completa para a recuperação dos animais resgatados com óleo. A outra aguarda estabilização do quadro para ser transferida para a unidade.

O material observado é denso, com odor forte característico e se espalha em borrões pelas praias e areias. O petróleo cru é perigoso e agressivo para a saúde humana e animal, por ser composto de uma mistura complexa de componentes orgânicos e 70% de hidrocarbonetos.

Segundo a pesquisadora Liana Mendes, da ONG Oceânica, vinculada à UERN, ainda que o óleo tenha um tempo de vida relativamente curto no ambiente aquático, a fração derramada é altamente tóxica para os organismos.

“Como efeito, ele pode afetar na digestão dos mamíferos, resultando em debilidade na ingestão de nutrientes, o que pode levar à morte”, explica. “Outro desdobramento na cadeia ecossisteêmica é que o óleo pode afetar o crescimento e produção de algas e algumas outras espécies que são fundamentais para a vida marítima”, complementa.

A pesquisadora lembra que outra substância perigosa no petróleo cru é o benzeno, associado ao carcinogênico. Essa substância pode ocasionar a diminuição dos glóbulos brancos em humanos. “Com isso, as pessoas ficam susceptíveis a infecções”, afirma.

Moradoras da praia de Santa Rita (RN), um dos locais afetados, Rejane Silveira e Zélia Lopes disseram que, no último fim de semana, seus filhos, de 10 e 12 anos, voltaram do mar “cheios de piche”. “Ficamos muito assustadas e colocamos eles no banho. Tinha ‘graxa preta’ em todo lugar, no cabelo, nas orelhas e conseguimos retirar com óleo de cozinha”, diz Rejane.

O “bugueiro” Francisco Sales, que faz passeios pelo litoral nas praias da Redinha e de Santa Rita, também relatou ter visto vários banhistas com óleo no corpo.

“Tem dias que aparece mais, outros menos. E o que mais entristece é ver as tartarugas com óleo, morrendo. Além disso, prejudica o passeio com os turistas, o movimento ao redor. É a primeira vez que vejo isso acontecer”, lamenta.

Procedimentos

Para alertar a população, o Instituto de Defesa do Meio Ambiente em Natal (Idema), juntamente com o projeto Tamar, elaborou material educativo com os procedimentos que devem ser tomados em caso de contato com o óleo ou tiver conhecimento de um animal contaminado.

É preciso evitar o contato com o óleo e, caso aconteça, colocar gelo no local ou retirar com óleo de cozinha. Caso a pessoa tenha reação alérgica, procurar urgentemente atendimento médico.

Segundo o diretor-geral do Idema, Leonlene Aguiar, todos os municípios estão orientados para a coleta feita pela limpeza urbana, de forma adequada, com pá, luvas e sem utilização de máquinas.

 

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