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Investidor em bitcoin se aproxima do total do Tesouro Direto

O volume financeiro movimentado no ano passado pelas criptomoedas foi de R$ 8,2 bilhões

O número de investidores brasileiros em criptomoedas – tendo o bitcoin como protagonista – já encosta em 1,4 milhão, mais do que o dobro do número de CPFs cadastrados na Bolsa brasileira, a B3, hoje na casa de 620 mil. Se mantido esse ritmo, o número dos compradores deste tipo de ativo ultrapassará, em breve, o volume de investidores do Tesouro Direto, que vem comemorando números recordes, atualmente em cerca de 1,8 milhão.

O volume financeiro movimentado no ano passado pelas criptomoedas foi de R$ 8,2 bilhões. O bitcoin virou febre após sua cotação chegar a US$ 20 mil – uma valorização de 1.400%. O interesse se mantém em 2018, mesmo após a queda brusca no valor, que chegou a US$ 6,9 mil na segunda-feira passada (5).

A nova notícia é que, agora, os olhos do mercado financeiro tradicional estão voltados para quando parte desses investidores migrarão seus recursos para valores mobiliários, como as ações de empresas negociadas em Bolsa.

Perfil

Essa aposta tem razão simples. Segundo dados das corretoras de criptomoedas, o grupo dos investidores de bitcoin no Brasil é formado em grande parte por homens solteiros, entre 25 e 35 anos – exatamente um público que, de acordo com economistas, pode investir em maior peso em ações.

Esse perfil responde hoje por aproximadamente 25% dos investidores da B3, considerando o número de contas abertas. Há ainda o público feminino, de potencial crescente. “Quem começou a investir em bitcoin está começando a se acostumar com volatilidade. Depois de vários anos de altas taxas de juros, agora o jovem parece aceitar bem esse risco”, afirma Luiz Roberto Calado, economista da corretora Mercado Bitcoin – que já está próxima de alcançar, sozinha, 1 milhão de clientes.

Além do gostinho que ficou da valorização da moeda no ano passado, contribui para o crescimento rápido desse mercado a possibilidade de compra de uma fração de moedas digitais, com aportes baixos, de R$ 50 por exemplo. Ou seja, não há a barreira que existe em outros ativos financeiros, diz o especialista em criptomoedas da XP Investimentos, Fernando Ulrich, que chegou à XP em novembro. “Hoje, o perfil dos investidores já é muito mais pulverizado.”

Na corretora FlowBTC, os cerca de 30 mil investidores que aplicam em moedas digitais têm, em sua maioria, entre 20 e 30 anos. Além disso, a clientela estava antes concentrada no eixo Rio-São Paulo, mas agora já está espalhada pelo País, com crescimento relevante no Nordeste, conta o sócio-fundador Marcelo Miranda.

Análise

Grande parte dos investidores de moedas virtuais, no entanto, não analisa os fundamentos do ativo, comenta Luis Felipe Carvalho, que coordena cursos sobre o tema na PUC do Rio de Janeiro. “Esse não deveria ser um negócio de especulação. É preciso entender que comprar criptomoeda significa investir em tecnologia. É necessário verificar se a tecnologia (por trás de determinada moeda) faz sentido”, diz. No mercado, existem mais de 1,3 mil moedas virtuais.

A compra desenfreada do ativo, em busca de ganhos rápidos, é o que acaba inflando artificialmente o mercado, diz Carvalho. Ele frisa que muitos investidores têm baixíssimo conhecimento no assunto. Um fato que exemplifica é o de investidores terem comprado a moeda bitConnect em vez de bitcoin, por conta da semelhança dos códigos BCC e BTC. O BCC, que é a bitConnect, perdeu em um dia 98% de seu valor após acusação de pirâmide.

Mais uma vez, esses investidores precisam prestar atenção a uma prática já conhecida no mercado de ações. No momento que uma empresa coloca na rua uma oferta inicial de ações (IPO, na sigla em inglês), divulga um prospecto no qual comunica dados da companhia, do setor e riscos do investimento, por exemplo. Em criptomoedas, há documento semelhante, os chamados white papers, ou livros brancos, que listam todos os pontos comerciais, tecnológicos e financeiros da moeda.

Migração – A expectativa, comenta o professor da Faculdade de Informática e Administração Paulista (Fiap), Henrique Poyatos, é de que alguns investidores de moedas digitais façam o caminho inverso e migrem parte de seus recursos para ações. Isso porque, a despeito da diferença dos fundamentos de cada ativo, há uma série de operações que podem ser feitas com criptomoedas que são similares ao mercado de renda variável. “Assim que esse investidor começar a ter a cultura de compra e venda, deve se interessar pelo mercado de ações”, diz.

O engenheiro de produção Thiago Chacon exemplifica a tese do professor da Fiap. Ele conta que, antes de aplicar em moedas virtuais, centralizava suas aplicações basicamente em Tesouro Direto e fundos de renda fixa. Agora ele diz que já considera o mercado de ações.

“Acho que agora sou mais arrojado. O mercado de ações é menos assustador porque as ações têm um padrão mais bem definido, modelos preditivos mais precisos do que as criptomoedas, que são novas e ainda não se sabe o que acontecerá. São bem imprevisíveis”, diz Chacon.

Para Calado, do Mercado Bitcoin, assim que a regulação da criptomoeda avançar no País, parcerias entre as corretoras de bitcoin e de valores mobiliários devem surgir. “Isso ajudará a acabar com os tabus e as empresas, que devem unir esforços”.

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