O autoproclamado presidente Juan Guaidó convocou uma greve “escalonada” contra o governo para esta quinta-feira
Dois dias após o início de um levante da oposição para derrubar o presidente venezuelano Nicolás Maduro, o dia será crucial para entender o quão longe irá a rebelião de Juan Guaidó, autoproclamado presidente desde janeiro. O líder da oposição convocou para esta quinta-feira 2 o início de uma greve “escalonada” contra o governo, que deve começar pelos funcionários públicos e tornar-se geral nos próximos dias — ou assim espera Guaidó.
A crise na Venezuela ganhou um novo capítulo na terça-feira, 30 de abril, quando a região amanheceu com a notícia de que Leopoldo López, outra liderança de oposição a Maduro, havia sido liberado de sua prisão domiciliar por Guaidó e um grupo de militares que se rebelaram contra o governo Maduro. López estava preso desde 2014 (desde 2017 em prisão domiciliar) e, após aparecer ao lado de Guaidó após sua liberação, refugiou-se na embaixada do Chile e, em seguida, na da Espanha.
A ação ocorreu um dia antes do 1º de maio, data para a qual Guaidó já havia marcado protestos do Dia do Trabalho contra o governo. Atos contra e a favor de Maduro tomaram a capital Caracas nesta quarta-feira, mas os atos de Guaidó não levaram às ruas a multidão que a oposição previa. Ao mesmo tempo, há uma forte repressão do governo Maduro, com pelo menos dois mortos e mais de 80 feridos — na terça-feira, um vídeo mostrou tanques literalmente passando por cima de manifestantes.
Há uma guerra de versões sobre a Venezuela neste momento, o que impede análises mais precisas. Não se sabe qual o real apoio da população à tentativa de golpe da oposição, nem quantos militares além dos que ajudaram a libertar López estão dispostos a de fato desembarcar do governo Maduro.
Forças do exterior também desempenham papel importante nessa queda de braço. Maduro é apoiado pela Rússia, que vem oferecendo apoio logístico e financeiro. Enquanto isso, Guaidó foi reconhecido presidente por mais de 40 países ao prometer convocar eleições. À medida em que as tensões aumentam, há o temor de que haja uma guerra civil na Venezuela, ou uma eventual intervenção dos Estados Unidos — militares americanos declararam nesta quarta-feira que apoiam o “processo democrático”.
Na sexta-feira, países do Grupo de Lima, como Brasil, Chile e Argentina, também reúnem-se para discutir a crise. O governo do presidente Jair Bolsonaro apoia Guaidó, mas também descartou intervenção na Venezuela.
Com desdobramentos incertos, quem sofre é o povo venezuelano, que vive violência, falta de remédios e alimentos básicos. Na terça-feira, entraram no Brasil pela fronteira de Roraima 848 refugiados venezuelanos, o triplo dos dias comuns. Guaidó diz que vai continuar nas ruas “até conseguir a liberdade da Venezuela”. Só falta combinar com os militares.