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Governo do Líbano renuncia após explosão e fúria nas ruas

Governo do presidente Hassan Diab e todo o gabinete apresentaram renúncia. Em crise, país terá o terceiro primeiro-ministro em um ano

Premiê do Líbano, Hassan Diab: renúncia nesta segunda-feira, 10 (Mohamed Azakir/Reuters)

Dias após uma explosão que matou 160 pessoas na semana passada, o governo do Líbano renunciou nesta segunda-feira, 10. O primeiro-ministro Hassan Diab e todo o seu gabinete apresentaram sua renúncia.

Ontem e ao longo das últimas horas, outros três ministros já haviam renunciado, além de membros do Parlamento. Ao comunicar sua renúncia, Diab chamou a explosão de “crime” e disse que o caso era resultado de uma corrupção histórica no país.

A explosão no Líbano aconteceu na última terça-feira, 4, no porto da capital Beirute, desencadeada por uma carga de nitrato de amônio que estava no local desde 2013. Autoridades do porto haviam informado à Justiça sobre a carga e os riscos do material, mas medidas não foram tomadas ao longo de vários anos.

Além das 158 vítimas, há mais de 60 desaparecidos e mais de 6.000 pessoas feridas, além de diversos moradores que tiveram as casas destruídas pela explosão — que foi ouvida a mais de 100 quilômetros do local.

Com a renúncia do atual governo, o Líbano terá seu terceiro primeiro-ministro em um ano. O próprio Hassan Diab tinha menos de um ano como premiê, tendo assumido a liderança do governo somente em dezembro passado.

Neste fim de semana, protestos com milhares de pessoas aconteceram em Beirute pedindo a renúncia do governo e responsabilização das autoridades pela explosão e pela crise. Houve confrontos entre policiais e manifestantes e alguns prédios públicos chegaram a ser ocupados. Manifestantes também arremessaram pedras e vidro nos policiais, enquanto a polícia jogou bombas de efeito moral sobre as multidões.

O acidente aconteceu em meio a uma das maiores crises econômicas da história do Líbano, que já vinha deste antes da pandemia do novo coronavírus.

Protestos no ano passado

Com a queda do governo, uma nova eleição deve ser convocada para estabelecer o novo premiê do Líbano. A última eleição no país aconteceu em 2018, quando venceu a coalizão liderada pelo antigo premiê Saad Hariri, o Future Movement (movimento do futuro, em inglês).

Hariri renunciou em outubro do ano passado, quando uma onda de protestos contra o governo e a crise econômica no país já havia varrido as ruas do Líbano, levando à queda do governo. Filho do ex-premiê Rafic Hariri, assassinado em 2005, Saad Hariri pertence a uma das famílias mais tradicionais do Líbano e já havia sido premiê em 2011.

Após a queda, Diab tomou posse. Seu governo é criticado por não ter passado leis que evitassem a fuga de capitais do país, o que agravou a crise financeira e a desvalorização da moeda — desde os protestos de outubro passado, a libra libanesa já se desvalorizou mais de 70%. Diab, por sua vez, acusa a classe política do país de impedir seus planos de reforma.

As estimativas apontam que a economia do Líbano deve encolher 12% neste ano. Caso as previsões se confirmem, será um dos piores resultados desde a guerra civil (1975-1990), marcada por conflitos entre libaneses de diferentes religiões e invasões territoriais de Israel.

O conflito com Israel também oficializou uma divisão de poder que perdura até hoje no Líbano. Ficou definido que o presidente seria sempre cristão, o primeiro-ministro, um muçulmano sunita (a corrente majoritária do islã), e o porta-voz, um muçulmano xiita.

Já era um sistema que não favorecia escolhas baseadas em critérios técnicos para postos-chave no governo, e abria as portas para conversas palacianas pouco ortodoxas. Nos últimos anos, o xadrez político ficou ainda mais complexo, o que acabou exercendo um papel relevante no desastre econômico.

“O aumento do poder de grupos radicais xiitas como o Hezbollah, que recentemente passou a ocupar vários assentos no parlamento, afugentou os investidores do Golfo e de outros países, que alimentavam uma parte da economia libanesa”.

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