Secretaria de Saúde diz que serão instaladas 300 unidades de cuidados intermediários (UCI). Modalidade tem suporte ventilatório, mas não pode atender casos graves, segundo especialistas.

O Governo do Distrito Federal (GDF) recuou e não vai mais instalar leitos de unidade de terapia intensiva (UTI) nos hospitais de campanha para atendimento de pacientes com Covid-19. Ao contrário do que o Executivo anunciou inicialmente, os hospitais de campanha terão apenas unidades de cuidados intermediários (UCI).
A UCI é usada por pacientes com gravidade moderada, e que não têm risco de morte. A UTI, ao contrário, presta serviço especializado e com quantitativo maior de equipe (veja mais abaixo).
Apesar do governo ter anunciado a abertura dos leitos de UTI nos hospitais de campanha do Plano Piloto, de Ceilândia e do Gama, a Secretaria de Saúde nega que isso tenha sido prometido. Mas, em 12 de abril, durante entrevista, o governador Ibaneis Rocha (MDB) confirmou a abertura das unidades.
“Pretendemos abrir essas 300 UTI no prazo mais rápido possível para atender a demanda da população do DF, que tanto espera por isso” , disse Ibaneis à época (veja vídeo acima).
Antes disso, em 25 de março, ele havia publicado em uma rede social que assinou a ordem de serviço para a construção dos hospitais, que representarão “300 novos leitos de UTI para o atendimento a pacientes” com a Covid-19. O próprio Diário Oficial do Distrito Federal (DODF) trouxe a informação de que Brasília ganharia três hospitais de campanha com 100 leitos de UTI cada.
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Em 16 de março, o Diário Oficial do DF anunciou a retomada da licitação para a construção dos hospitais. O texto também afirma que as unidades terão 100 leitos de UTI cada (veja abaixo).
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Nesta quinta-feira (22), o governador disse, por meio de uma rede social, que “os 300 leitos dos Hospitais de Campanha que estão em construção têm todo equipamento para atendimento de UTI, incluindo suporte para diálise, que não consta em leitos de UCI. É por isso que eles vão SIM solucionar a questão da fila por leitos de UTI”.
“A razão de porquê os leitos em Hospitais de Campanha não serem descritos como UTIs é SOMENTE por conta da ausência de Centro Cirúrgico no local”, disse Ibaneis no Twitter.
Secretaria de Saúde diz que nunca falou em UTI
Em nota, a Secretaria de Saúde informou que uma portaria do Ministério da Saúde não permite a instalação de leitos de UTI nos hospitais de campanha. “A pasta informa que são leitos de UCI, com suporte ventilatório pulmonar e com diálise à beira de cada um dos leitos ofertados”, apontou.
A secretaria disse ainda que o edital que embasou o processo de contratação da empresa que fará a gestão dos hospitais não fala em UTI. “Essa informação não procede. Muitas vezes, de maneira informal, esses leitos de UCI, por terem características especiais, são mencionados como leitos de UTI“, disse a pasta.
Diferença entre UTI e UCI
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O especialista em medicina intensiva da Associação de Medicina Intensiva Brasileira (Amib), Alexandre Amaral, explica que a UCI é uma unidade de baixa complexidade, com nível de atenção média e baixa. “Esses leitos não requerem ventilação mecânica de forma invasiva”, exemplificou.
Segundo o médico, pacientes com o novo coronavírus que estão em estado grave têm atendimento “altamente complexo”, que exige ventilação invasiva e acompanhamento de equipes capacitadas e treinadas por profissionais da medicina intensiva, o que não é o caso da UCI.
O médico intensivista Rodrigo Biondi, que atua no Hospital Brasília, afirmou que há riscos de se colocar paciente com Covid-19 na fase inicial, que possa ter piora, em uma UCI.
“Na UCI, o número de ventiladores mecânicos e de profissionais por pacientes é reduzido, em comparação com a UTI”, comentou.
Entrega dos hospitais de campanha
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Apesar da discussão sobre a abertura de leitos, a inauguração dos hospitais de campanha ainda é incerta. De acordo com Ibaneis, a expectativa é de que pelo menos uma das unidades seja inaugurada até o fim deste mês.
Em março, quando as unidades foram anunciadas, a promessa era de que começassem a funcionar em 14 de abril. Porém, as estruturas dos hospitais ainda estão em manutenção e falta a contratação de pessoal.
Enquanto isso, a rede pública de saúde do DF segue sobrecarregada. Às 12h25 desta quinta, a taxa de ocupação dos leitos de UTI da rede pública para pacientes com a Covid-19 estava em 97,62%. Dos 470 leitos, 451 estavam ocupados, 11 vagos e oito aguardando liberação.
Na rede privada, também há sobrecarga. A taxa de ocupação estava em 95,73% às 11h55 desta quinta, segundo a Secretaria de Saúde. Do total de 441 vagas, 360 estavam ocupadas, 17 vagas e 64 bloqueadas.
Em relação à UCI, a taxa de ocupação desse tipo de leito na rede pública está em 87,25%. Das 151 vagas, 130 estão ocupadas, 19 vagas e duas bloqueadas.