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Frota de veículos no DF aumentou mais de 20% em cinco anos

Desenho da malha viária e a característica de polo de atração de mão de obra, saúde e educação, contribuem para o fluxo intenso. Para moradores da capital e do Entorno, a ida e o retorno do trabalho exige paciência

Congestionamentos são constantes nos horários de pico na EPTG. Demora nos deslocamentos diários é agravada quando há acidentes

Acelera, freia, pisa na embreagem e engata a marcha. No início da manhã ou no fim da tarde, dirigir no Distrito Federal exige paciência do condutor. Aos 1.712.481 veículos registados aqui se juntam outros milhares de carros, motos, ônibus e caminhões vindos de cidades goianas e mineiras que rodeiam o DF. Há cinco anos, eram pouco mais de 1,4 milhão de automóveis circulando pelas vias da capital federal, um aumento de mais de 20%. O resultado é previsível: a cada ano aumentam os pontos de congestionamento. Mesmo quando não há registro de acidentes, o fluxo intenso de veículos deixa o trânsito parado e aumenta o tempo de deslocamento de quem usa o transporte público ou o individual. Nos caminhos que levam ao centro do poder, os piores trechos estão na EPTG, ao longo da Estrutural, na entrada do Eixão Norte, entre outros (veja quadro).

O sistema de monitoramento do Departamento de Trânsito do Distrito Federal (Detran-DF) revela que cerca de 200 milhões de veículos trafegam pela capital por mês. Por ser um polo de educação, saúde e mão de obra, grande parte da população das regiões administrativas e das cidades do Entorno precisa se deslocar até a área central de Brasília diariamente. Se o percurso é feito inevitavelmente no horário de pico, o estresse é constante.
Moradora de Vicente Pires, a psicóloga Carla Guimarães, 26 anos, passa pela Estrada Parque Taguatinga (EPTG) diariamente. Ela conta que fica mais de 40 minutos no engarrafamento, tanto para sair de casa quanto para voltar. “Quando não está engarrafado, levo pouco mais de 15 minutos. O pior de tudo é que a gente acaba se acostumando com essa situação. Brasília não deveria ser assim”, lamenta. Mesmo fora dos horários mais movimentados, a psicóloga reclama do fluxo intenso de veículos. “Fim de sábado, e até mesmo no domingo, a gente pega o trânsito travado aqui. Se acontecer acidente, então, pode esquecer”, relata.
Neste cenário, a simples queda de uma árvore sobre a via pode causar um nó no trânsito. Foi o que aconteceu há oito dias. Uma árvore caiu sobre dois postes de iluminação pública e interditou um trecho da EPTG, na altura do Viaduto Israel Pinheiro, sentido Plano Piloto. O congestionamento começou no início da manhã e o tráfego só foi normalizado no fim da tarde. Moradores de Taguatinga e de Águas Claras ficaram presos na enorme fila de carros.

Atraso

O motorista Luciano Bragança Soares, 37, mora em Santa Maria e, todos os dias, sai de casa às 4h40 para chegar ao trabalho, no Setor de Oficinas Sul, às 7h. O caminho passa pela BR-040.  “Eu pego muito trânsito na saída de Santa Maria, no Catetinho e na altura da Floricultura. É sempre um engarrafamento intenso. Frequentemente eu me atraso, principalmente na hora de entrada no serviço, mas, geralmente, o meu chefe compreende”, conta. Como Luciano trabalha com baterias de carro, nem sempre consegue ser pontual em suas entregas, em decorrência do alto fluxo de veículos. “Os piores horários são às 7h e às 11h, em decorrência do horário de almoço. Com isso, a gente acaba atrasando as entregas. Os clientes questionam muito, mas, como conhecem o trânsito de Brasília, acabam entendendo”, acrescentou.

Falta de comunicação

O desenho da malha viária, com poucas ligações entre elas, e a característica de Brasília como polo de atração de mão de obra, saúde e educação, contribuem para o fluxo intenso. Mas a especialista em transporte e professora do Departamento de Engenharia Civil da Universidade de Brasília (UnB) Michele Andrade explica que parte desses problemas ocorre porque a comunicação entre os órgãos de trânsito e a população não é eficiente.
De acordo com ela, o baixo número de agentes e a grande demanda de serviço também estão entre os fatores que dificultam a gestão eficaz do tráfego. “Esse é um aspecto deficiente no Brasil como um todo. Há equipamentos e possibilidade de comunicação em tempo real. Porém, o que a gente percebe é que eles não têm efetivo suficiente e talvez não estejam tão preparados como deveriam para usar a tecnologia a seu favor”, afirma.
A estudiosa defende ainda que deveria haver uma central para a gestão de tráfego. Assim, quando uma colisão ou um incidente qualquer bloquear o trânsito em determinada região, os gestores têm condição de deslocar agentes para orientar os condutores sobre alternativas ou previsão de liberação da pista. “Muitas vezes, os órgãos estão apagando incêndio e não conseguem se planejar para prevenir que ele aconteça”, observa Michele.
Além de melhorar a gestão de informações e incrementar o número de agentes de trânsito, a especialista destaca que o investimento em transporte público é a solução para reduzir os gargalos. Se por um lado a distribuição da malha contribui para os congestionamentos, de outro, ela também é propícia para a circulação de ônibus e a ampliação das linhas de metrô. “Temos grandes áreas e poucas vias de acesso. No entanto, por ser plana, nossa geografia é propícia para instalação da rede metroviária e para implementação de corredores de ônibus. Isso criaria confiança no transporte público e diminuiria o fluxo de automóveis”, conclui.

Novas tecnologias

O diretor-geral do Detran, Silvain Fonseca, aponta como empecílio para a melhoria desse quadro o baixo contingente de agentes — cerca de 500 atualmente. “A cidade cresceu e o número de agentes, não”, observa. Apesar disso, considera que tem havido avanços na gestão do trânsito. Os drones, o helicóptero, o monitoramento das vias por meio de câmeras e o GPS com comunicação são ferramentas usadas para amenizar o impacto dos congestionamentos. “Por meio do simulador de tráfego, conseguimos solucionar o gargalo do Eixo Monumental. Também melhoramos alguns cruzamentos, como o da Epig e o do Parque da Cidade”, cita.
Ele rebate as críticas de que falta integração entre os órgãos. Explica que, por meio da Secretaria de Segurança Pública e da Paz Social (SSP-DF), tanto o Departamento de Estradas de Rodagem (DER) quanto a Polícia Militar do DF e a Polícia Rodoviária Federal (PRF) conseguem trabalhar de forma integrada. “O próximo passo do Detran é investir em tecnologia para realizarmos mais melhoras.”
Por meio da assessoria de imprensa, o DER informou que, em 2017, realizou obras de pavimentação de rodovias, restauração de pavimentos, construiu viadutos e atuou no monitoramento e na fiscalização do trânsito. Além disso, ressaltou que há integração entre os órgãos responsáveis pelo trânsito no DF e que os dispositivos, como câmeras, caminhões e guinchos são utilizados de forma efetiva para melhorar o tráfego no Distrito Federal.
Colaborou Sarah Peres, especial para o Correio
* Estagiário sob supervisão de Adriana Bernardes
1,7
milhão
Número de veículos registrados no DF
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