Tesouro está tomando empréstimos por prazos mais curtos, como seis meses, reduzindo o prazo médio do perfil da dívida brasileira, algo arriscado
A taxa básica de juros e o custo médio do serviço da dívida pública do Brasil nunca estiveram tão baixos, mas investidores estão preocupados com a possibilidade de o governo enfrentar uma crise de financiamento no próximo ano.
O prêmio que investidores exigem para financiar o Tesouro no longo prazo aumentou em meio à dívida pública recorde e a temores de que o governo do presidente Jair Bolsonaro flexibilize regras de austeridade fiscal para combater a crise de Covid-19.
Isso está forçando o Tesouro a tomar empréstimos por prazos muito mais curtos, como seis meses, reduzindo o prazo médio do perfil da dívida brasileira e aumentando a necessidade de refinanciamento de forma mais regular.
Enquanto a taxa Selic permanecer baixa e os credores estiverem dispostos a aceitar esses retornos historicamente baixos, a situação da dívida será administrável.
Mas com a deterioração das perspectivas fiscais e quase 1 trilhão de reais de dívida pública com vencimento no próximo ano, os nervos estão à flor da pele. Isso levou à aprovação oficial na semana passada de que o Banco Central transfira 325 bilhões de reais ao Tesouro para ajudar a aliviar a pressão.
“Quando você encurta o perfil da dívida, você aumenta o risco de refinanciamento no futuro. Você se obriga a emitir volumes maiores e corre o risco de ser forçado a emitir dívida a qualquer preço”, disse Sergio Goldenstein, ex-chefe do Departamento de Operações de Mercado Aberto do BC. “Esta é uma abordagem de gestão de dívida realmente arriscada.”
O Tesouro elevou na sexta-feira seu teto de 2020 da dívida pública federal para 4,9 trilhões de reais e revisou o perfil de seu estoque de dívida para refletir a crise econômica e a volatilidade do mercado neste ano.
A parcela da dívida de curto prazo com vencimento no próximo ano aumentará para até 28% do total, e o prazo médio será de apenas três anos e meio.
José Franco, subsecretário da Dívida Pública do Tesouro, disse que o risco de financiamento de curto prazo foi o principal motivo da transferência do Banco Central para o Tesouro. Ele também apontou a ampliação dos spreads entre a Selic e os rendimentos de longo prazo.
Como outros países, o Brasil precisa elevar o financiamento por causa da crise econômica desencadeada pela Covid-19. O déficit orçamentário do governo está a caminho de atingir 11% do Produto Interno Bruto (PIB), elevando a dívida geral para cerca de 95% do PIB.