Fotógrafo Rogério Ghomes expõe, no DF, obras que narram 30 anos de carreira

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Na mostra ‘Quando tudo deixar de ser’, artista reúne séries produzidas desde 1997. Ghomes tem obras expostas em museus reconhecidos internacionalmente, como o Museu de Arte de São Paulo.

Com obras expostas nos principais museus do Brasil – como os de Arte Moderna e Contemporânea e o Museu de Arte de São Paulo –, o artista visual Rogério Ghomes está em Brasília para a exposição de séries fotográficas “Quando tudo deixar de ser”. As imagens revelam o processo produtivo ao longo de 30 anos de carreira, desde 1997.

Sorridente, o fotógrafo recebeu a reportagem do G1 na Referência Galeria de Arte, na 203 Norte, com uma brincadeira: “Está tudo à venda, até o artista”. O humor, no entanto, cede lugar à quietude das obras penduradas nas paredes.

“Meu trabalho é onde realmente sou eu. O outro é um personagem, esfuziante, falante, que eu precisei criar pra me defender.”

Obra do artista visual e fotógrafo Rogério Ghomes em exposição na galeria de arte Referência, em Brasília (Foto: Luiza Garonce/G1)
Obra do artista visual e fotógrafo Rogério Ghomes em exposição na galeria de arte Referência, em Brasília (Foto: Luiza Garonce/G1)

O “verdadeiro” Rogério Ghomes tem um olhar saudoso e introspectivo, que revela memórias e imagens que transitam entre o passado e o presente. “Como artista, sou um transeunte silencioso.” A nostalgia, segundo ele, está no enquadramento, nos desfoques, na horizontalidade das obras.

As séries em exposição representam o que Ghomes chama de “alargamento da fotografia”, quando as obras se misturam com outras linguagens, como a pintura, a colagem, a escultura e até o audiovisual. O desfoque, por exemplo, se assemelha ao esfumaçado dos pincéis.

“Meu trabalho dialoga muito com a pintura. É extremamente pictórico, nos temas, na forma de produção, nos padrões cromáticos.”

Fotógrafo Rogério Ghomes expõe, no DF, obras que narram 30 anos de carreira
Fotógrafo Rogério Ghomes expõe, no DF, obras que narram 30 anos de carreira

O curador, Fábio Luchiari, acompanha o trabalho de Rogério Ghomes desde 2001, quando se conheceram. “Virei um confidente e um olhar externo ao mesmo tempo, o que dá uma apuração diferente. O privilégio de fazer leituras pessoais.”

Ele explicou que o trabalho de Ghomes é sempre pensado na primeira pessoa. “Ele fala dele, das angústias e anseios que dialogam com cada um de nós. As buscas, viagens, conflitos internos.”

Obra do artista visual e fotógrafo Rogério Ghomes em exposição na galeria de arte Referência, em Brasília (Foto: Luiza Garonce/G1)
Obra do artista visual e fotógrafo Rogério Ghomes em exposição na galeria de arte Referência, em Brasília (Foto: Luiza Garonce/G1)

Na série “Árbol”, as fotografias esverdeadas foram feitas com smartphone e editadas por meio de um aplicativo que disponibiliza uma paleta variada de filtros. Registradas em locais diferentes, como Londrina, Buenos Aires e Campinas, as imagens revelam a mescla do espaço urbano com a vegetação.

Obra do artista visual e fotógrafo Rogério Ghomes em exposição na galeria de arte Referência, em Brasília (Foto: Luiza Garonce/G1)
Obra do artista visual e fotógrafo Rogério Ghomes em exposição na galeria de arte Referência, em Brasília (Foto: Luiza Garonce/G1)

As esculturas aparecem como forma de legitimar o espaço urbano que invade o verde e a figura humana é materializada em pedra ou em sombra. “A escultura é sempre a representação de alguma memória. De um acontecimento que merece ser lembrado”, disse.

“Quando falamos em fotografia, falamos em morte. O registro é sempre de algo que foi.”

O valor do clique

A alta capacidade de reprodutibilidade da fotografia, segundo Ghomes, traz a falsa sensação de que este tipo de arte tem menos valor. “Há um conceito [social] de que a pintura tem valor maior que a foto pela questão da reprodutibilidade.”

No entanto, à parte das especificidades técnicas da pintura, fotografar requer mais que um apertar de botão. Segundo ele, é preciso ter, acima de tudo, repertório. “É uma aquisição de vida”, disse o artista.

“Técnica qualquer um aprende. Já o pensamento, a maneira como vê o mundo e articula as ideias, isso é uma das grandes questões.”

Obra do artista visual e fotógrafo Rogério Ghomes em exposição na galeria de arte Referência, em Brasília (Foto: Luiza Garonce/G1)
Obra do artista visual e fotógrafo Rogério Ghomes em exposição na galeria de arte Referência, em Brasília (Foto: Luiza Garonce/G1)

A tecnologia, segundo ele, permite que a fotografia seja uma arte financeiramente mais acessível, mas isso não a torna menos complexa. “Ela entra na produção da contemporaneidade: o que era único, deixa de ser. No campo da arte, permite uma tiragem, torna o valor mais acessível.”

“Não é um valor cultural, é monetário. Mas as pessoas atrelam um ao outro.”

Enquadramento, luz, enfoque e outras técnicas estão disponíveis em manuais e em sites especializados na internet. O que não pode ser adquirido é o olhar do artista. No caso de Rogério Ghomes, essa visão encontra elementos de interseção entre o passado e o presente.

Obra do artista visual e fotógrafo Rogério Ghomes em exposição na galeria de arte Referência, em Brasília (Foto: Luiza Garonce/G1)
Obra do artista visual e fotógrafo Rogério Ghomes em exposição na galeria de arte Referência, em Brasília (Foto: Luiza Garonce/G1)