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Faxineiro conhecido por devolver US$ 10 mil morre no Gama, aos 67 anos

Desde agosto de 2015, a saúde de Francisco estava comprometida. O câncer no fígado foi descoberto no último dia 24

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O poeta espanhol Miguel de Cervantes pregava que “a honestidade é a melhor política.” Talvez o faxineiro aposentado Francisco Basílio Cavalcante, 67 anos, nunca tenha escutado essa frase, mas se tornou famoso por praticá-la. Há 12 anos, o cearense ficou conhecido em todo o país por causa de sua boa-fé. Ele devolveu US$ 10 mil (o equivalente a R$ 39 mil, atualmente) que achou no banheiro do Aeroporto Internacional de Brasília Juscelino Kubitschek. Francisco não resistiu a complicações de um tumor no fígado. Morreu na segunda-feira, no Hospital Regional do Gama (HRG), após oito dias internado. Deixou mulher, seis filhos e nove netos.

A vida de Francisco começou a mudar em uma tarde de trabalho de 2004. Ganhando R$ 370 mensais, ele encontrou a maleta com os dólares. Mesmo preocupado por não ter R$ 28 para quitar a conta de luz, o homem simples recorreu ao sistema de som do saguão para anunciar o achado. O dono do dinheiro, um turista suíço, logo apareceu. “Essa sempre foi a postura dele. A educação dos nossos filhos foi pautada pela honradez”, conta a viúva, Raimunda Nonata Cavalcante, 64 anos.

O servente virou celebridade. Deu entrevistas a canais de televisão e rádios e realizou um dos sonhos: conhecer o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Tornou-se garoto-propaganda do governo federal, popularizando o slogan “Sou brasileiro e não desisto nunca”, repetido por Francisco na TV, em horário nobre. Recusou cachê pelas aparições. “Ele adorava ser reconhecido, achava um barato. Até os dias de hoje, as pessoas o cumprimentavam na rua”, detalha a diarista Maria de Jesus Sousa Cavalcante, 42 anos, filha de Francisco. A família tem guardado em casa o vídeo do comercial.

A doença
Desde agosto de 2015, a saúde de Francisco estava comprometida. O câncer no fígado foi descoberto no último dia 24. “Ele tentou tratamento lá (no Ceará), mas não conseguiu. Com o passar do tempo, o quadro ficou grave. Chegou ao ponto de não andar, comer e falar. Nos últimos dias, ele não tinha força para segurar um copo. O tumor foi descoberto assim que deu entrada no hospital”, frisa Maria de Jesus. Essa é a segunda vez que Francisco enfrenta o câncer. Em 2012, tumores no estômago e reto o levaram a ser internado num hospital.

“Ele teria que ter feito o exame periódico a cada seis meses, mas, por não ter sentido nada, achou que não era preciso. O último tratamento que ele fez foi contra pneumonia. Ele piorou bastante. Emagreceu oito quilos muito rápido”, conta a filha. Durante o período de internação, o paciente realizou diversos exames, segundo a Secretaria de Saúde. “Apesar do tratamento oferecido, ele não apresentou mudança no quadro clínico e veio a óbito, após uma de parada cardiorrespiratória”, garante nota da pasta.

O sepultamento será realizado hoje, no Cemitério Municipal da Cidade Ocidental, às 10h. “Tudo o que fiz ganhei em dobro. Tenho a consciência limpa e durmo tranquilo toda noite”.

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