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Estudo estima quanto tempo microrganismos sobreviveriam em Marte

Segundo a Universidade Estatal de Moscou, na Rússia, é possível a permanência de algumas formas de vida no planeta

Marte não é um dos planetas com as condições mais favoráveis para formas de vida: enquanto a temperatura no Equador pode chegar a 35ºC, ao meio dia, a média em toda a superfície fica em torno dos -65ºC – e as regiões dos polos podem ser ainda mais frias, chegando a -145ºC. Soma-se a isso o fato de que a pressão atmosférica lá é até mil vezes menor do que a da Terra e superfície do planeta fica exposta a uma intensa radiação ultravioleta. Os cientistas não estavam certos de que algum ser vivo seria capaz de existir em um clima extremo como esse – mas um novo estudo, divulgado na edição de novembro da revista científica Extremophiles, não só sugere que isso é possível, mas também estima por quanto tempo eles poderiam sobreviver. Os resultados indicam que microrganismos poderiam viver tranquilamente por 20 milhões de anos ou mais em ambientes que ficam cinco metros abaixo da superfície.

Segundo os cientistas, essa informação será particularmente útil ao planejar missões espaciais, escolhendo cuidadosamente os objetos que serão usados na exploração e as regiões do planeta que serão estudadas. “Os dados obtidos também podem ser aplicados para detectar microrganismos viáveis em outros objetos do sistema solar e em outros corpos celestes pequenos no espaço”, afirma em comunicado o astrobiólogo Vladimir Cheptsov, pesquisador na Universidade Estatal de Moscou, na Rússia, e coautor do estudo.

Cheptsov e sua equipe estudaram a capacidade de resistência à radiação de comunidades microbianas que existem em rochas sedimentares de permafrost (um tipo de solo permanentemente congelado que é encontrado no Ártico) sob baixa temperatura e baixa pressão. Essas rochas sedimentares são bem parecidas com o regolito, uma superfície afetada por processos químicos e físicos, de Marte. Os cientistas consideram que o principal fator que limita a vida útil celular é o dano causado pela radiação; por isso, ao definir o limite de resistência de potenciais microrganismos marcianos, foi possível estimar a capacidade de sobrevivência dessas formas de vida em regolitos de várias profundidades.

Para isso, os pesquisadores usaram uma câmara climática que mantém a temperatura e a pressão constantemente baixas e a radiação gama bem alta. Além de culturas puras de microrganismos, que só são cultivadas em laboratório, comunidades microbianas naturais também foram utilizadas como objetos no experimento, para garantir maior fidelidade dos resultados.

As colônias naturais apresentaram alta resistência às condições do ambiente marciano simulado. Após a irradiação, a contagem total de células e o número de células que permanecia metabolicamente ativo estava no nível de controle, enquanto o número total de bactérias cultivadas diminuiu 10 vezes e as células metabolicamente ativas caíram para um terço. Segundo os cientistas, a diferença em relação aos dois tipos de microrganismos provavelmente foi causada por uma mudança no seu estado fisiológico das bactérias cultivadas, não pela morte.

Radiação

“A intensidade da radiação ionizante na superfície de Marte fica entre 0,05 e 0,076 grays [unidade de medida para radiação] por ano e diminui com a profundidade. Levando em conta a intensidade de radiação no regolito de Marte, os dados obtidos permitem assumir que ecossistemas hipotéticos em Marte poderiam ser conservados em um estado anabiótico [semelhante à hibernação] na camada superficial do regolito, protegida dos raios UV, durante pelo menos 1,3 milhão de anos”, diz Cheptsov. Segundo ele, a uma profundidade de dois metros, esse valor sobe para 3,3 milhões de anos e, a uma profundidade de cinco metros, para 20 milhões de anos ou mais.

Essa foi a primeira vez que cientistas conseguiram verificar a sobrevivência de microrganismos a radiações tão intensas. Segundo os estudiosos, isso indica que a capacidade de resistir à radiação de comunidades microbianas naturais pode ter sido subestimada. Agora, eles ressaltam a necessidade de estudar o efeito conjunto de outros fatores extraterrestres e cósmicos sobre organismos vivos e biomoléculas.

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